A crise do Egito serviu para demonstrar como a mídia brasileira age como o governo brasileiro, que ela critica. De acordo com os interesses e as circunstâncias, mudam a forma de tratar os governos. Procurem as reportagens sobre o Egito anteriores à crise atual e vejam quantas vezes o presidente do Egito foi tratado como ditador! Agora só aparece como ditador. E buscam tratar todo o mundo árabe-islâmico como igual. No domingo (06/020, a Folha fez uma ilustração (Mundo, p. 2 e 3) na qual colocava o tempo no poder de diferentes governos da região, e ao transmitir uma visão negativa sobre longo tempo no poder acaba igualando governos que não são iguais ao juntar reis, primeiro-ministros, presidentes e o pior, líderes espirituais. Ao tratar do Irã, ao invés de reconhecer que há eleições no Irã e colocar o tempo no poder do presidente Ahmadinejad, a Folha opta por colocar o tempo durante o qual o Aiatolá Ali Khamenei é o líder espiritual do Irã. No Estadão (também de 06/02, A19) um título de uma “notícia” era “Brasil tratava ditadores como ‘amigos’”, e um dos amigos “ditadores” era novamente o presidente do Irã. Ficam duas dúvidas, primeiro quando o Brasil agiu diferente? Agora outra questão mais difícil, quando o governo se afasta ou se aproxima de um governo estrangeiro por razões ideológicas, a política externa é criticada por ser ideológica, e quando o governo mantém relações com outros países independente de questões ideológicas, a política externa é criticada por seguir a realpolitik?
Todos os dias na imprensa lemos ou que a política externa da presidente Dilma é e será diferente da política externa do presidente Lula ou que ela deve ser diferente. Também gostam de dizer que com o Patriota será uma política externa técnica, o que se fizesse algum sentido seria uma contradictio in adjecto, mas é só ignorância mesmo. Supondo que um ministro quisesse fazer uma política externa técnica deveria ser demitido por não saber o que é política externa e nem o que está fazendo. O que a imprensa quer dizer na verdade é que o Celso Amorim era voluntarista, e, portanto tomava várias decisões e iniciativas no campo da política externa; enquanto o Patriota será mais passivo. Isso é possível, se a notícia do Estadão for verdadeira, ele não apenas será passivo, como se preocupará mais com questões internas ao MRE, em agradar os seus pares para ampliar a força interna do que se preocupar com as iniciativas brasileiras de política externa, e aí com certeza ele será um péssimo ministro das relações exteriores. Mas é improvável que isso ocorra, porque não apenas o enfraqueceria, como enfraqueceria o MRE, já que a assessoria internacional continua com Marco Aurélio Garcia e ele não irá recuar. E Garcia conta claramente com o apoio da presidente Dilma, que teve uma excelente oportunidade de se livrar de Garcia colocando-o na Unasul, mas pediu para ele continuar no governo dela e recusar o cargo na Unasul. Portanto, ainda que a grande imprensa brasileira não goste, as iniciativas sul-americanas, latino-americanas e Sul-Sul de um modo geral, continuarão. E ainda contarão com a participação do ex-presidente Lula.
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