"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Honra Sexual segundo Arthur Schopenhauer

“A honra sexual divide-se em honra feminina e honra masculina: a prioritária e mais significativa é a feminina, já que, na existência da mulher, a relação sexual é a mais importante. No caso de uma jovem, a honra feminina consiste na opinião geral dos outros de que ela não se entregou a nenhum homem, e, no caso de uma mulher, de que ela se entregou apenas ao homem com quem se casou.

“Em relação ao sexo masculina, a honra sexual é a opinião de que um marido, tão logo venha a saber do adultério de sua mulher, irá separar-se dela e castigá-la se for possível.

“Essa espécie de honra apresenta muitas características que a distinguem das outras duas (honra privada e honra pública) e pode ser deduzida e entendida apenas a partir das peculiaridades de relacionamento entre os sexos. Enquanto o sexo feminino exige e espera tudo do masculino, ou seja, tudo o que deseja e de que precisa, o masculino exige do feminino, em primeiro lugar e diretamente, apenas uma coisa. Por essa razão, teve de ser estabelecida a convenção que permite ao sexo masculino obter do feminino aquela única coisa de que precisa em troca da aceitação de cuidar de tudo. Sobre tal convenção repousa o bem-estar de todo o sexo feminino. E é para fazer valer esse estado de coisas que o sexo feminino tem de se manter unido e, por conseguinte, ter esprit de corps; enquanto um todo de tal natureza, enfrenta todo o sexo masculino que, pela preponderância de suas forças intelectuais e físicas, é o detentor de todos os bens terrenos. E o enfrenta como ao inimigo comum, que tem de ser vencido e conquistado para que, com sua posse, chegue-se também à posse dos bens terrenos. Esse é o objetivo da máxima de honra de todo o sexo feminino, segundo o qual deve ser negado ao masculino todo concúbito extraconjugal e concedido, porém, o conjugal, quer o casamento seja celebrado apenas no civil, como na França, ou no religioso, de modo que cada um é obrigado ao matrimônio, que representa uma capitulação. somente pela observância geral desse procedimento, ou seja, pelo casamento, é que o sexo feminino poderá alcançar o sustento que lhe é necessário. Por tal razão, ele próprio cuida da manutenção desse esprit de corps entre seus membros. Por isso também, toda moça que comete, por meio de uma relação extraconjugal, uma traição contra todo o seu sexo – cujo bem-estar cairia por terra com a generalização desse modo de conduta –, logo é banida e coberta de vergonha, isto é, perde sua honra. Nenhuma mulher pode mais ter contato com ela, e a opinião geral lhe nega todo seu valor. Ela passa a ser evitada como se fosse uma enferma pestilenta. O mesmo destino encontra a mulher adúltera, uma vez que não respeitou a contratada capitulação do homem em que repousa a salvação do sexo feminino. Mas isso acabaria por desencorajar tal capitulação, já que a generalização desse modo de conduta a transformaria em motivo de brincadeira e zombaria. Por fim, devido à sua grosseira falta de palavra e ao engano perpetrado na sua conduta, a adúltera perde, além da honra sexual, a privada: por isso se diz sempre, como uma expressão indulgente, “uma moça pervertida”, mas não uma “mulher pervertida”.

(…)

“A honra masculina é a que é suscitada pelo esprit de corps da outra parte. Exige apenas que quem aceitou a capitulação tão favorável à parte feminina, ou seja, o casamento, pelo menos agora fique atento para que ele seja respeitado, para que esse pactum não perca a sua firmeza com a generalização de tal tolerância, e os homens, no momento em que entregam tudo à mulher, tenham absoluta certeza daquilo que adquiriram, isto é, a posse exclusiva da mulher. Sendo assim, a honra do marido exige que ele puna o adultério de sua mulher e vingue-se dela com a separação ou outro meio; se, estando ciente, suportá-lo, será coberto de vergonha pelo corps masculino. Tal punição, porém, não é tão drástica quanto a do sexo feminino, pois para o homem a relação sexual é subordinada e ele mantém muitas outras relações.

“A salvação dessa honra masculina é o tema da tragédia de Calderón,  O médico da própria honra. Note-se que ela exige apenas o castigo da mulher, mas não do amante, o que prova sua origem a partir do esprit de corps masculino e confirma a sexta máxima, que diz ser nossa honra firmada e fundada apenas em nosso próprio fazer e omitir, não na injustiça que um outro comete contra nós. A necessidade de castigar a mulher, cujo erro, se ficar sem castigo, envergonha o homem, não contradiz o que foi dito, porque deriva do mencionado esprit de corps, portanto, de uma consideração bastante particular, e porque a vergonha do homem não é diretamente o adultério da mulher, mas a tolerância dele.”

SCHONPENHAUER, Arthur. A Arte de se fazer respeitar ou Tratado sobre a honra. São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 24-28.

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