"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 18 de dezembro de 2010

CLÓVIS ROSSI: Mercosul ganha voz. Falta falar

São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2010


CLÓVIS ROSSI
Mercosul ganha voz. Falta falar

ERA UMA VEZ um tempo em que Henry Kissinger, então secretário de Estado americano, ironizava: "Se eu quiser falar com a Europa, que número de telefone devo discar?".
Alusão ao fato de que não havia no conglomerado europeu uma voz que falasse por todos.
Qualquer interessado em falar com o Mercosul poderia repetir a ironia de Kissinger porque também não há quem fale pelo bloco de quatro países sul-americanos mais seus associados Bolívia e Chile mais a Venezuela, prestes a se tornar membro pleno.
Não havia até ontem. Acaba de ser criado o cargo de Alto Representante do Mercosul, com a missão justamente de ser a voz do bloco ante terceiros.
Aliás, vale ressaltar que a União Europeia, anos depois da brincadeira de Kissinger, criou o seu Alto Representante e mais recentemente dotou-se de um presidente permanente e de uma comissária que é uma espécie de chanceler também permanente.
Em tese, um ou ambos falam em nome dos 27 países da UE. Mas só em tese. Na prática, quem continua falando pela Europa são os chefes de governo de cada país, especialmente da Alemanha e da França.
É claro que é cedo para dizer se ocorrerá o mesmo com o Alto Representante do Mercosul. Os antecedentes não são favoráveis: já houve não um representante mas uma comissão deles, entre 2003 e 2007. Não deixou rastro.
Mais importante pois do que a eficácia ou não do novo funcionário é o fato de que a sua criação se encaixa na palavra-chave da diplomacia brasileira com Dilma Rousseff.
Trata-se de "institucionalização", que figura como prioridade no memorando de 10 páginas que Marco Aurélio Garcia, hoje como amanhã assessor diplomático do Planalto, encaminhou à sua futura chefa.
Traduzindo: a era da agitação (no bom sentido), das iniciativas seguidas, da criação, será substituída pela consolidação do criado. Ou, ao menos, a tentativa de fazê-lo.
Institucionalização é, por exemplo, criar o cargo de Alto Representante. Ou transformar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) em uma instituição que funcione organicamente e não espasmodicamente como até agora (por mais que alguns espasmos tenham sido úteis como ao apagar incêndios primeiro na Bolívia e depois no Equador).
Admito que "institucionalização" é uma palavrinha que provocará bocejos principalmente nos jornalistas, viciados como somos em emoções fortes. Mas é necessária para que a diplomacia sul-americana não fique girando em falso.
A consolidação institucional vai, na opinião de Marco Aurélio, além do subcontinente. "Não é possível que o Bric se resuma a uma cúpula anual", diz ele.
Minha opinião: cúpula anual é até muito porque o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) não é um grupo, mas uma invenção de uma instituição financeira, que só tem em comum o tamanho (grande) de seus membros e o fato de estarem em expansão econômica.
No principal -história, geografia, cultura, regimes políticos-, não têm o mais remoto parentesco que lhes permita desenvolver interesses comuns.

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