"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 25 de maio de 2008

O amor pensado e vivido, o livro de André Gorz, Carta a D.

Cheguei de Brasília neste sábado. No aeroporto de Brasília vi um livro de André Gorz intitulado "Carta a D. História de amor". Peguei o livro para comprar, fui para a fila, mas a fila estava lente apesar de ter apenas três pessoas, e como faltavam apenas 13 minutos para o horário de saída do avião desisti de comprar lá o livro. Mas quando cheguei em Congonhas, logo fui procurar a livraria do aeroporto, neste caso ser uma livraria da mesma rede do aeroporto de Brasília foi um bom negócio, mas é lamentável o crescimento dasa redes de livraria, porque agora são sempre os mesmos livros expostos, entrou em uma, já visitou todas. E extamente por isso já sabia exatamente onde encontraria o livro, e lá estava ele. Comprei o livro acabei de lê-lo.

O Gorz não está entre meus autores prediletos. Mas é insólito um intelectual renomado escrever sobre o amor, predomina de fato, o silêncio porque a expressão do amor sempre aparece como pueril, como uma comportamento juvenil e não racional. O livro é uma carta de Gorz à esposa, falando sobre o quanto a ama e sobre como ela foi importante para a vida dele no sentido mais profundo da palavra vida. O livro é escrito porque a mulher estava doente, com uma doença degenerativa. Seguem as transcrições do texto:

"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo voc~e mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpor contra o meu é capaz de preencher.

Eu só preciso lhe dizer de novo essas coisas simples antes de abordar questões que, não faz muito tempo, têm me atormentado. Por que razão você está tão pouco presente no que escrevi, se a nossa união é o que existe de mais importante na minha vida? Por que, em Le Traître, passei uma falsa imagem de você, que a desfigura? Esse livro deveria mostrar que a minha relação com você foi a reviravolta decisiva que me permitiu desejar viver. Por que, então, deixar de fora essa maravilhosa história de amor que nós tínhamos começado a viver sete anos antes? Por que eu não disse o que me fascinou em você?"

"Por que você havia escolhido este Austrian Jew sem um tostão? No papel, eu era capaz de demonstrar - invocando Hero e Leandro, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta - que o amor é o fascínio recíproco de duas pessoas por aquilo que elas têm de menos dizível, de menos sociolizável; de refratário aos papéis e imagens delas mesmas que a sociedade lhes impõe; aos pertencimentos culturais. Nós podíamos pôr quase tudo em comum exatamente porque a princípio não tínhamos quase nada. Bastava que eu consentisse em viver o que eu estava vivendo, em amar mais do que tudo o seu olhar, a sua voz, o seu cheiro, seus dedos afilados, o seu jeito de habitar o seu corpo, para que todo o futuro se abrisse para nós.

"Era isso: você havia me dado a possibilidade de escapar de mim mesmo e de me instalar num outro lugar, do qual você me trouxera a notícia. Com você, eu podia deixar de férias a minha realidade. Você era o complemento da irrealização do real, estando eu mesmo nele compreendido desde sete ou oito anos antes, através da atividade de escrever. Você era quem punha entre parênteses esse mundo ameaçador, no qual eu era um refugiado de exist~encia ilegítima, cujo futuro nunca ultrapassa três meses. Eu não tinha a menor vontade voltar à Terra. Encontrava refúgio numa experiência maravilhosa e não aceitava que ela fosse alcançada pela realidade. Eu recusava, no fundo de mim mesmo, aquilo que, na idéia e na realidade do casamento, implica esse retorno ao real. Até onde consigo lembrar, eu sempre procurei não existir. Você deve ter trabalhado anos a fio até me fazer assumir minha existência."

"Eu soube naquele momento que não tinha necessidade de nenhum prazo para refletir; que teria saudades para sempre se a deixasse partir. Você foi a primeira mulher que consegui amar de corpo e alma, com quem eu me sentia em ressonância profunda; meu primeiro amor verdadeiro, para dizer tudo. Se eu fosse incapaz de amá-la, nunca poderia amar ninguém."

Por causa da doença da mulher Gorz antecipou a aposentadoria e eles mudaram para uma casa no campo. "Ao longo dos vinte e três anos passados na nossa casa, publiquei seis livros e centenas de artigos e entrevistas. Nós recebemos dezenas de visitantes vindos de todos os continentes, fui entrevistado dezenas de vezes. Eu certamente não estive à altura da resolução que havia tomado havia trinta anos: a de viver o presente, atento mais que tudo à riqueza que é a nossa vida comum. Agora eu vivo de novo, e com um sentimento de urgência, os instantes em que tomei essa resolução. Não tenho nenhuma obra mais importante em elaboração. Não quero mais - segundo a fórmula de Georges Bataille - "deixar a exist~encia para mais tarde". Estou atento à sua presença como estive desde o início, e gostaria de fazê-la sentir isso. Você me deu toda a sua vida e tudo de si; e eu gostaria de poder lhe dar tudo de mim durante o tempo que nos resta.

"Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. Recentamente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher. À noite eu vejo, às vezes, a silhueta de um homem que, numa estrada vazia e numa paisagem deserta, anda atrás de um carro fúnebre. Eu sou esse homem. É você que o carro leva. Não quero assistir à sua cremação; nem quero receber a urna com as suas cinzas. Oulo a voz de Katheen Ferrier cantandor: "Die Welt is leer, Ich will nicht leben mehr" (O mundo está vazio, não quero mais viver), e desperto. Eu vigio a sua respiração, minha mão toca você. Nós desejaríamos não sobreviver um à morte do outro. Dissemo-nos sempre, por impossível que seja, que, se tivéssemos uma segunda vida, iríamos querer passá-la juntos."

Gorz e sua mulher, Dorine, se suicidaram 1 ano e três meses após a redação do livro para morrerem juntos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei!
Estava louca pra ler esse livro, agora quero mais ainda!
Beijos