"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O Brasil bélico

O Estado de São Paulo

Assunto: Internacional
Título: 1v Países discutem veto à bomba de cacho
Data: 25/05/2008
Crédito: Mariana Della Barba

Produtores da arma que põe civis em risco, Brasil e EUA ignoram encontro na Irlanda que reúne outras 116 nações
Mariana Della Barba
Um objeto que lembra uma inofensiva latinha de refrigerante é a razão pela qual representantes de mais de 100 países estão reunidos em Dublin, na Irlanda.
A maioria deles quer banir de vez ouso desse armamento, chamado bomba de cacho, que esconde uma perigosa munição.
Ainda no ar, a bomba abre um compartimento que abriga dezenas ou centenas de submunições. Essas "bombinhas" são lançadas de maneira aleatória e deveriam explodir com o impacto com o solo. Nesse ponto residem os principais problemas da bomba de cacho, também chamada de cluster.
Lançadas sobre áreas com distância equivalente a quatro campos de futebol, elas não caem atingem um alvo específico. Essa falta de precisão faz com que civis tornem-se alvos tanto como os combatentes, uma vez que casas, escolas e
plantações acabam sendo atingidas. O segundo ponto negativo é que boa parte das munições de cacho - até 40% - não explode ao tocar o solo. Assim como as minas terrestres, elas ficam ativas até serem encontradas, o que pode ocorrer até
décadas após o fim de um conflito e por alguém que não nunca carregou um fuzil.
"As bombas de cacho precisam ser proibidas, pois causam danos terríveis por anos a fio, e quem paga o preço é a população civil", disse ao Estado, por telefone de Dublin, Peter Herby, chefe da unidade de armamentos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O que costuma ocorrer é que civis que voltam para suas casas após a guerra encontram suas cidades infestadas de submunições prestes a explodir.
"No Líbano, após a guerra entre Israel e o Hezbollah, em 2006, munições das bombas de cacho ficaram presas a árvores. Na época da colheita, agricultores chacoalharam suas oliveiras, mas, em vez de azeitonas. caíam bombas", conta Frida Berrigan, especialista em segurança do instituto New America Foundation.
Após a guerra de 2006, mais de 200 libaneses morreram por causa das minibombas. Em 1999, em Kosovo, e em 2003, no Iraque, esse tipo de bomba matou mais civis que qualquer outra arma, segundo a organização Coalizão Internacional contra a Munição de Cacho, que reúne 200 organismos de sociedade civil de vários países.
Cerca de 60% das vítimas das munições são crianças, que as confundem com objetos que podem virar brinquedo. "No Afeganistão, essas munições são pintadas de amarelo brilhante, o que atrai ainda mais as crianças", diz Frida. Um outro problema torna ainda mais grave o uso da bomba. "Exércitos ou milícias sabem onde enterraram minas e passam essa informação quando há um acordo de paz. Com
as bombas cacho, isso não é possível, pois ninguém sabe exatamente onde elas caíram."
DECISÃO
Até o dia 30, os 116 países reunidos em Dublin terão de alcançar um acordo para banir ou regulamentar o uso da bomba de cacho - criada na Guerra, Fria para destruir, ao mesmo tempo, vários alvos militares. "Países como Grã-Bretanha, França e Espanha pedem exceções, ou seja, a autorização para usar bombas com novas tecnologias (que as tornariam auto-explosivas) ou um tempo de transição", explica o brasileiro Cristian Wittmann, que participa como representante da sociedade civil na conferência na Irlanda e é coordenador no País do setor de munições de cacho da Campanha Internacional pelo Banimento de Minas Terrestres.
Para Herby, as negociações estão indo bem, mas há alguns obstáculos: "De 60% a 70% dos países participantes querem uma proibição total das bombas de cacho. Mas há os 30% que querem a liberação de certos tipos."
"A reunião é uma ótima oportunidade para avançarmos, mas enquanto os EUA não aderirem, os resultados serão parciais", diz Frida. "Espero que a conferência pressione países como o Brasil para que pensem nos aspectos morais e políticos dessa bomba."
0 recado de Frida para o Brasil vem do fato de o País recusar-se a participar da conferência em Dublin é, mais do que isso, ser um produtor de bombas de cacho (apenas outras 27 nações continuam fabricando a arma). "O governo brasileiro tem uma posição completamente contraditória, porque reconhece os danos que as bombas provocam, mas são contra a proibição", afirma Wittmann. Do continente todo, só os governos do Brasil e dos EUA não estão em Dublin - os
dois únicos países das Américas que continuam produzindo as bombas. Chile e Argentina deixaram de fabricá-las. Dados sobre armazenamento e fabricação da bomba no País são sigilosos e estratégicos, como explicou o brigadeiro Jorge Cruz de Souza Mello numa audiência na Câmara dos Deputados, em novembro.
Mello defendeu o uso da arma como opção de emprego de munição.
Segundo um relatório de abril da Human Rights Watch (HRW), há quatro empresas
brasileiras que fabricam a bomba - para o Exército e para exportar para o Oriente Médio. Presente na lista da HRW, a Avibrás garantiu ao Estado que não produz mais esse tipo de bomba. A Ares negou-se a dar a informação sobre o tema.
"Como um líder dos emergentes, o Brasil tem sido muito irresponsável ao fugir das discussões e seguir produzindo bombas de cacho", diz Frida.

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