"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Uma boa idéia. Mas que a série é conservadora é, a questão é se possível fazer diferente!

"24 Horas" vira disciplina universitária

Série é bom ponto de partida para discutir "questões sombrias que democracias enfrentam na batalha contra o terrorismo", diz professor

Em entrevista à Folha, acadêmico que propôs a matéria explica seu plano de curso e alfineta críticos do conservadorismo do seriado

Divulgação
William Devane (James Heller) e Kiefer Sutherland (Jack Bauer) em cena do último episódio do sexto ano de "24 Horas"


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudantes de direito e juristas, tremei: Jack Bauer, o protagonista linha-dura da série de TV "24 Horas", está prestes a trocar os pouco ortodoxos interrogatórios da fictícia Unidade Contraterrorista da CIA por uma beca.
Ou quase isso. A partir de janeiro de 2008, ele bate ponto no campus da Universidade Georgetown, em Washington, como principal referência bibliográfica (ou videográfica, se preferir) da disciplina-seminário "A Lei de "24 Horas'", oferecida no programa de mestrado da faculdade de direito da instituição de ensino.
Depois de lidar com explosões nucleares, atentados contra políticos e a liberação de vírus letais e gases tóxicos em Los Angeles (e, de quebra, faturar dois Globos de Ouro e 17 Emmys, o principal prêmio da televisão norte-americana), o personagem interpretado por Kiefer Sutherland chega à academia pelas mãos do professor Gary Sharp.
Em entrevista por e-mail à Folha, ele conta como teve a idéia de levar "24 Horas" para Georgetown, por onde já passaram nomes como o ex-presidente dos EUA Bill Clinton e o atual presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso.
"Certa noite, assistindo ao programa, percebi que ensinar o direito contraterrorista no contexto dos temas levantados por "24 Horas" seria uma forma maravilhosa, singular e divertida de abordar as questões sérias e sombrias que todas as democracias enfrentam na batalha contra a ameaça global de terrorismo."
Sharp diz que os assuntos discutidos em classe com o apoio das tramas do seriado incluirão "as implicações legais, nos EUA e no mundo, do uso de força militar contra patrocinadores estatais e não-estatais do terrorismo, assim como as liberdades civis, detenções, interrogatórios e tratamento dos capturados nos campos de batalha ou dos presos por suspeita de terrorismo" (veja no quadro ao lado exemplos de "cenas paradidáticas").

Não há mais vagas
Já não há mais vagas -e circula lista de espera- para a disciplina. As aulas começam em janeiro, coincidindo com o início da sétima temporada da série na Fox americana (no Brasil, a Fox exibiu na semana passado o fim do sexto ano, e a Globo passou o quinto em janeiro). Os encontros acontecerão às terças, para aproveitar os "ganchos" fornecidos pelo episódio mostrado na noite anterior.
Segundo Sharp, ser fã da série não é pré-requisito para freqüentar as aulas. "Vou estruturar o curso de forma que aqueles que não são fãs não apenas aproveitem e participem ativamente [das discussões] como também virem aficionados só para identificar [no programa] o próximo assunto ligado ao direito", brinca.
O currículo de Sharp traz passagens pelo Departamento de Estado, pela Biblioteca do Congresso e pela Promotoria do Corpo de Fuzileiros Navais. Atualmente, é conselheiro do Departamento de Defesa para assuntos internacionais. À reportagem, ele pede que frise a independência (em relação aos cargos públicos) do trabalho como professor. "Todos os textos e discussões serão baseados somente em informações de domínio público."
Entretanto, sai pela tangente ao ser indagado sobre o que pensa das respostas do governo Bush às ameaças terroristas -e se elas estão de fato distantes da cartilha linha-dura de "24 Horas". "Vou pedir [aos alunos] uma análise estruturada e metódica das leis norte-americanas e internacionais. No entanto, também solicitarei que mantenhamos um espectro de trabalho bipartidário, deixando comparações e julgamentos para outro fórum", afirma.

Pesado fardo
A reportagem insiste para que ele comente a abordagem política do terrorismo na série, vista pela crítica como conservadora, inclinada à direita. "Repetindo: meu curso não envolverá julgamentos políticos, apenas análise legal. O que sei é que a maior parte dos críticos e analistas não carrega o pesado fardo e a responsabilidade de um serviço governamental do qual se pede ação efetiva para proteger seu povo de assassinos em massa sem juízo", diz.
"Você acha que um programa como "24 Horas" seria popular se mostrasse um agente interrogando um terrorista -que está inclinado a cometer suicídio e detonar uma arma nuclear ou liberar um agente biológico no centro de Los Angeles- com uma conversa polida, circundado por uma taça de chá e bolinhos?", emenda Sharp.
Observadores estrangeiros costumam citar o seriado como uma das vitrines da paranóia antiterrorista que se disseminou na América pós-11/9. O professor questiona esse status. "A televisão é uma mídia poderosa, que pode moldar, corretamente ou não, a opinião internacional. Não julgo meus maravilhosos amigos europeus e brasileiros por seus game shows, comédias ou novelas."

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