"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Típico parágrafo marxista!

In relation to the question of the character of the state we can say that the Venezuelan state is still, in the main, a capitalist state apparatus. However, this state apparatus operates in conditions of revolution and is therefore riddled with all sorts of contradictions and has been weakened as a tool of the ruling class. And at this particular moment in time it is not under the direct control of the capitalist class, in the sense that the ruling class cannot, for now, use this capitalist state in order to impose its class rule. However, this does not mean that the state apparatus even now has ceased to be a source of sabotage and blocking of the revolutionary initiative of the masses; and if it remains untouched it will eventually become a tool for smashing the revolution. It is clear that there is certain understanding of this problem among the rank and file masses of the Bolivarian revolution and even among some layers in the leadership, but unfortunately there certainly is no clear idea of how to solve this problem.

O texto acima pode ser lido em http://www.marxist.com/challenges-facing-venezuelan-revolution050907.htm.
Faço parte de uma lista de discussão norte-americana sobre o marxismo para ficar acompanhando a que se publica no mundo com mais facilidade, o que se discute, de quem se fala mal, etc. A maior parte dos e-maisl pelo título nem abro, a lista, às vezes, é movimentada demais, pode chegar mais de 50 e-mails num dia. Num dos e-mails que abri veio este link para um texto analisando o socialismo na Venezuela. A questão que o parágrafo responde é de fato a questão pertinente, sendo o Estado sempre um Estado de classe, e sendo o Estado no capitalismo um Estado burguês e da burguesia, qualquer mudança de fato de sistema passa pela mudança no caráter de classe do Estado, a revolução só se consolida com a mudança no caráter classista do Estado ( em última instância com a abolição do próprio Estado). Perguntar sobre a natureza classista do Estado para avaliar um processo de mudança é a pergunta correta, mas é feita demais. A esquerda voluntarista tende a ver em toda ação alguma modificação no caráter de classe do Estado. O pobre Emir Sader já citado em outro post consegue ver modificações no caráter do Estado no Brasil. Mudanças de governo não mudam o caráter de classe do Estado. Eleger Karl Marx presidente da República não transforma um país em comunista nem faz com que o Estado deixe de ser o Estado capitalista. O Estado venezuelano é um Estado capitalista e continuará a sê-lo por muito tempo mesmo que Hugo Chávez seja um revolucionário. Ao invés de perguntar sobre o caráter de classe do Estado deveria ser questionado o quanto as políticas adotadas colocam em xeque o Estado capitalista e até que ponto podem ser suportadas pelo Estado capitalista, é isto que determinará o ritmo das transformações na venezuela e inclusive será o que determinará se a Venezuela poderá ser o primeiro país a passar por transformações revolucionárias por vias eleitorais. Deve-se lembrar sempre, especialmente aqueles que sonham com a revolução, que qualquer partido político que dispute eleições é porque abandonou qualquer projeto revolucionário. Participar de eleições é aceitar a regra do jogo, e fazer revolução é virar a mesa, são atitudes políticas distintas. É bastante curioso que nos dias de hoje se falarmos em social-democracia para um brasileiro quem tiver alguma noção sobre o assunto pensará no PSDB, FHC e outras mazelas que nos assombram. Mas os partidos europeus hoje social-democratas eram antes os defensores do comunismo. Marx, Lenin, Rosa Luxemburgo e demais revolucionários faziam parte dos partidos social-democratas. No início do século XX com a controvérsia Bernstein é que a social-democracia se dividiu. Bernstein diz que já não era mais preciso usar táticas revolucionárias, que o partido deveria se incorporar ao processo eleitoral e que seria vencendo as eleições que num processo de evolução natural levaria ao socialismo (exacerba assim o positivismo da II Internacional). Quando as teses de Bernstein são lançadas obviamente não forma bem-recebidas, foram condenadas por Kautsky, o grande herdeiro de Engels. No entanto, logo adiante Kaustsky receberia uma série de adjetivações nada elogiosas da parte de Lenin por ter abandonado o projeto revolucionário e aderido às teses de Bernstein. O renegado Kautsky ao fazer a opção pela domesticação da social-democracia faz com que a maioria do partido o acompanha porque ele naquele momento é a voz autorizada da social-democracia alemã, representa a interpretação oficial da obra de Marx e Engels por ter se relacionado com este último, sendo inclusive responsável pela edição das obras de Marx conhecidas como quarto volume do Capital, as Teorias da Mais-Valia. A guinada direitista gerada pela opção eleitoral é de tal ordem que a social-democracia alemã dá suporte a Alemanha na Primeira Guerra Mundial contra a posição dos radicais Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Finda a guerra, o Kaiser é deposto e os social-democratas serão a base de sustentação da República de Weimar. Mas antes mataram Rosa Luxemburgo. Nas jornadas revolucionárias iniciadas com a derrota da Alemanha, os verdadeiros comunistas, como Rosa, agora em novo partido, tentam de fato dar um salto para o socialismo. Como em geral ocorre, os melhores morrem primeiro porque se colocam na frente front. Kautsky, Hilferding e outros marxistas (?) estavam do outro lado e ainda viveram para ver os nazistas chegarem ao poder. Mataram os revolucionários, mataram a revolução, agora não havia mais heróis para morrer por eles contra seus algozes. Como bem disse Poulantzas, os nazistas não chegam ao poder para derrotar os trabalhadores e a revolução, mas porque eles já haviam sido derrotados. Derrotados pela social-democracia que criou a República de Weimar.

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