"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pobreza, violência e estética

Ontem fui numa região de São Paulo que eu não conhecia, não é o fim do mundo, mas aqui me comporto como um paulistano típico, ignoro a maior parte da cidade. Fui de ônibus, cheguei mais cedo e o local onde seria o evento ainda estava fechado, então dei uma volta na região. Fiquei chocado de ver vários mercadinhos com grades, com espaço apenas para entregar as mercadorias. Claro que sabia que isto existia. Mas não é algo que costumo ver ao vivo. É coisa para reportagem do Jornal Nacional que no fim parece algo distante. Mas isto reforça uma hipótese que tenho sobre a questão da violência no Brasil. A violência no Brasil tem consequências óbvias, as pessoas morrem, as pessoas sofrem, perdem seu patrimônio. Mas há sentidos não evidentes da violência, a violência degrada o homem profundamente, degrada os valores e as relações sociais. E isto aparece numa estética da violência. Creio que a violência no Brasil um dia será reduzida, as políticas adequadas venceram a violência. A não-violência sempre vence a violência. Mas para a não-violência vencer a violência, para o humano vencer o anti-humano será preciso vencer a estética da violência. Vivemos numa sociedade que não se preocupa com a beleza, a violência degrada ( e aqui estou usando o termo violência no seu sentido mais amplo, no sentido de violência estrutural, onde entra tanto a pobreza institucionalizada quanto o crime), e as reações à violência são igualmente degradantes. Não conseguimos dar uma resposta superior à violência, nos rebaixamos a ela. E ao rebaixarmos a ela retiramos parte da beleza do mundo. Não é apenas o mercado com grades. Mas as casas que parecem fortalezas, mas não fortalezas medievais e belas, parecem grandes caixotes. As regiões pobres, vítimas da violência estrutural, não são apenas pobres, são feias. Pobreza e feiúra não precisam estar associadas, estão associadas porque se abdicam de vários elementos representativos da civilidade e da civilização. O Ziraldo uma vez no Programa do Jô estava defendendo a necessidade de se plantar flores nas favelas cariocas. Parece uma bobagem e uma trivialidade. Mas apenas estranhamos porque aderimos ao feio, ao grotesco. Mesmo em bairros de classe média ou alta. Quantos condomínios se preocupam em ter uma jardim? Tudo era cimentado. Agora que a prefeitura impôs regras mais rígidas, mas será que teremos jardins? Ao andarmos pela avenida paulista, qual prédio bonito há por ali? Há prédios com a preocupação de parecer modernos, mas modernidade não quer dizer beleza, em geral é feio mesmo. Diante dos custos das construções se sacrifica a beleza para ficar apenas com a funcionalidade e com vários apetrechos tecnológicos, que na sua maior parte visam o quê? A segurança. É um saco viver num mundo cheio de catracas, e fotos digitais, e apresentação de identidade. A entrada de qualquer lugar é estragada por isso. Esses dias fui em uma faculdade onde não havia catracas, nem ninguém pediu identificação na entrada. Fiquei chocado, isso é o correto. Mas já se tornou surpreendente.

2 comentários:

Jessiel Alves da Silva disse...

"As grades do condomínio
São para trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão"

Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero)
O Rappa
Composição: Marcelo Yuka

Esse post me fez lembrar uma vez que eu estava em Cambui, MG e eu estava com um amiga que mora lá e fomos a diversos lugares e sempre que deciamos do carro eu me encarregava de tirar o som, subir os vidros e ligar o alarme do carro e as outras pessoas que eram de la não estavam nem ai.. deixavam vidros abertos...nao se preocupavam em fechar o carro, ela riu disse que dava para reconhecer os Paulistanos por causa dos "exagerados" habitos de segurança. Estavamos conversando sobre o assunto e ela me mostrou na rua dela que os muros não eram mais alto do que a minha cintura. Porém hávia uma casa que era toda fechada por grades, uma verdadeira fortaleza que se destacava das demais casas, e eu perguntei pra ela esse seu vizinho já deve ter sido assaltado varias vezes não é? Ela disse que não, que aquela casa não era desse jeito, que a pessoa que hávia comprado a pouco tempo que fez aquelas "modificações" E a pessoa havia vindo de São Paulo...

A impunidade é a grande arma dos não humanos, uma pesquisa do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana, produzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que a polícia soluciona apenas 15% dos homicídios ocorridos na cidade. O restante dos crimes não está resolvido até hoje, seis anos (2003 a 2008) depois de ocorrido. Se pensarmos em Furtos e Roubos, a situação da "Cidade Maravilhosa" é ainda pior pois o estudo aponta que apenas 5% dos roubos são resolvidos e apenas 3% dos furtos são solucionados pela policia (fonte http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/07/21/materia.2009-07-21.0325495294/view )

Acredito que muitas pessoas ao sofrerem algum tipo de violencia não procuram a policia pois acreditam que não vai adiantar de nada e o melhor a fazer é colocar grades e mais grades para se defender dos não humanos.

corival disse...

Jessiel, A impunidade abre brechas para um maior nível de violência. Mas a impunidade não controla a nossa reação à violência e a forma como somos afetados pela sua existência. O caso que vc contou mesmo mostra isso. Mesmo sem a violência o indivíduo continua se comportando como se a realidade fosse a mesma. Este é o meu medo, que mesmo quando a violência for controlada, mantenhamos a mesma reação e visão de mundo que temos hoje.
outro aspecto é a investigação criminal, nossa polícia não é treinada e preparada pra isso até porque o brasileiro tem uma visão distorcida do combate à violência e isso favorece a escolha de uma estratégia equivocada pelos políticos. a visão predominante é que se combate à violência com ações ostensivas, tipo "rota na rua", e isso é exatamente o oposto da estratégia investigativa. outro aspecto é que a situação de violência gera uma pressa na formação de policiais civis e militares. a investigação depende de uma formação mais elaborada, mais intelectual, sofisticada. Não precisa ser um CSI, mas precisa de preparo intelectual. mesmo a polícia militar precisaria de mais preparo intelectual, basta ver a atuação da polícia em tumultos de rua para ver o despreparo.