O mundo intelectual brasileira é cheio de picuinha. A quantidade de picuinhas é inversamente proporcional à qualidade intelectual. Então se vc faz parte de um determinado grupo, você exclui das suas leituras quem não faz dele. Cita os amigos e ignora o resto. Mas o que não falta no Brasil é sumidade intelectual, gente para dizer que iniciou uma nova corrente teórica.
Mas alguns tem mais idiossincrasias que os outros. O Bresser Pereira é um deles. De fato, Bresser é um administrador, porque estudou administração e porque trabalhava no Pão de Açúcar. E boa parte dos livros dele foram publicados por isso, ele tinha dinheiro. E conseguiu criar uma entourage pela mesma razão. Mas a maior parte dos grupos intelectuais ridicularizam o Bresser pela simplicidade da sua obra e por querer atirar para todo lado. Na Unicamp, todo mundo falava mal. Estes dias recomendei um livro ORGANIZADO pelo Bresser “Sociedade e Estado em Transformação” e logo recebi um a resposta, “Bresser hein? não te reconheço”. E respondi “ o livro é ORGANIZADO pelo Bresser, não escrito.” O Bresser também já foi ministro de tudo, da Fazenda, da Administração e Reforma do Estado (o famigerado MARE), da Ciência e Tecnologia. Duro saber onde o estrago foi maior. Mas a pior concepção teórica certamente foi a adotada no MARE, a criatura teve a coragem de escrever no Plano Diretor da Reforma do Estado, que era preciso reduzir os salários mais baixos do setor público porque eram mais altos que os do setor privado e que era preciso aumentar os salários mais alto do setor público porque eram mais baixos do que os do setor privado. Ou seja, é preciso reduzir o salário da telefonista que trabalha para o governo porque ela ganha mais do que uma telefonista que trabalha para uma empresa privada. Mas o salário do ministro, do secretário executivo do ministério deve ser aumentado porque eles ganham abaixo do que ganhariam no setor privado numa função equivalente. Ou seja, a idéia era aumentar a desigualdade de renda no setor público, e o pior era apresentar esta idéia como moderna.
Mas o mais pitoresco no Bresser Pereira é que se os outros não o reconhecem como grande intelectual ele mesmo faz o trabalho. Já contei aqui do seminário promovido por ele para tratar de três gerações de economistas brasileiros, Celso Furtado, Ignácio Rangel e Bresser Pereira. Não há parâmetro de comparação entre o Bresser e os outros dois. Furtado e Rangel são maiores, muito maiores do que o Bresser.
O Bresser fez mais. Na década de 80, ele escreveu um artigo sobre sete interpretações sobre o Brasil. Ele se colocou como o fundador de uma delas junto com outros intelectuais respeitáveis na época como FHC. A questão era mostrar como ele estava na vanguarda. Na década de 90, ele reescreveu o artigo. Agora eram 9 correntes de interpretação do Brasil, além da anterior, agora ele tinha fundado mais uma corrente teórica que tinha visão moderna e atualizada sobre o Estado e o desenvolvimento e que seria a concepção intelectual predominante no governo FHC. De novo ele se coloca como ponta de lança intelectual do grupo, e coloca dentro do mesmo grupo outros intelectuais mais celebrados. Hoje ele deveria reescrever o artigo e incluir uma décima corrente também fundada por ele, porque ele já virou oposição ao governo FHC depois de ter sido ministro do MARE e da Ciência e Tecnologia.
Outra teoria da qual Bresser tenta se apossar é da teoria da inflação inercial. Na década de 80 a teoria da inflação inercial ficou famosa no mundo, há controvérsia sobre sua originalidade. mas de fato foi considerada uma “criação” brasileira da PUC-Rio em duas versões distintas a de André Lara Resende e Pérsio Arida e versão de Francisco Lopes. O Bresser se esforça para se colocar também como pai da inflação inercial, escreve também dizendo isso. Nunca li em nenhuma outra obra sobre a contribuição do Bresser para a teoria da inflação inercial, só no próprio Bresser.
Também colocou na sua biografia um livro intitulado “Os tempos heróicos de Collor e Zélia”, onde faz a apologia dos dois. Mas quanto ao governo Collor pelo menos ele não se queimou sozinho. Fernando Sabino com “Zélia, uma paixão”, Luís Nassif com seus artigos na Folha, e Antônio Kandir com a atuação no Ministério da Economia lhe prestaram solidariedade.
Um comentário:
Obrigado por postar sobre o Bresser Pereira. Minha mãe não tem boas lembranças dele como ministro...
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