Folha de São Paulo
São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008
"Ingrid é uma oportunista", afirma escritor
MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
"É escandaloso o espaço que estão dando para a libertação de Ingrid Betancourt". A opinião é do polêmico escritor colombiano Fernando Vallejo, 66, um dos convidados da 6ª Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece na cidade fluminense até o próximo domingo. Para o autor, a ex-refém "é uma manipuladora, velhaca, horrível, oportunista".
Na opinião de Vallejo, a ex-candidata à Presidência não é uma vítima das Farc, mas uma política ambiciosa que provocou a ação da guerrilha como forma de promoção política.
Segundo ele, "ela e sua assessora e companheira de aventuras Clara Rojas [libertada em janeiro deste ano] são os únicos políticos que agiram para serem seqüestrados". "Na época da captura, ela tinha ido com a assessora intencionalmente para um local em que havia esse risco", afirmou Vallejo. Ingrid foi seqüestrada com Rojas em fevereiro de 2002, quando viajavam em campanha para San Vicente del Caguán, em uma região no sul da Colômbia tida então como bastião das Farc.
Reféns esquecidos
O autor se mostra indignado com a comoção que a política colombiana desperta. "Milhares já foram seqüestrados ao longo dos anos, agora várias centenas estão sofrendo em poder da Farc, mas só se fala dela." As Farc mantêm centenas de reféns não-político pelos quais pede resgate em dinheiro.
Para Vallejo não será surpresa se Betancourt concorrer novamente à Presidência, em 2010 -ela já abriu a possibilidade anteontem. Caso isso aconteça, o escritor acha que a ex-refém tem chances de ganhar as eleições. "O povo colombiano é tão ignorante que pode até elegê-la. Mas ela é francesa, tem dupla cidadania. Por que escolheu fazer política e concorrer a presidente da Colômbia? Por que ela não concorre na França, com [Nicolas] Sarkozy?", questiona.
O escritor e cineasta é conhecido pelo romance "A Virgem dos Sicários" (Companhia das Letras) e vive hoje no México. Em sua obra, inclusive no recém-lançado "Despenhadeiro", usa sua cidade natal, Medellín, a mesma do presidente Álvaro Uribe, como fonte para uma prosa realista e autobiográfica. Costuma fazer um retrato ácido da sociedade colombiana e de Medellín, fortemente impregnadas de religiosidade e afetadas pelo narcotráfico, pelo crime e pela corrupção.
Para o autor, as Farc estão derrotadas. "A Colômbia não gosta da organização, são um bando de assassinos, seqüestradores e narcotraficantes", afirmou -antes dissera em coletiva que o grupo, "depois da Igreja Católica e de Uribe, é a maior praga da Colômbia".
Grande crítico do atual presidente, Vallejo acha que se ele se reeleger depois de conseguir uma mudança constitucional, nada vai mudar. "Toda a classe política na América Latina só pensa em seus próprios interesses, quando não está claramente envolvida com o crime e com a corrupção."
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