14/07/2008 - 20h56
Sudão recorre ao Conselho de Segurança contra prisão do presidente
da Folha Online
O Sudão irá ao Conselho de Segurança (CS) da ONU para bloquear a ordem de detenção decretada contra o presidente do país, Omar al Bashir, acusado de genocídio e crimes de guerra e lesa-humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), disse hoje o embaixador sudanês nas Nações Unidas, Abdalmahmood Abdalhaleem.
"Pedimos aos membros do Conselho de Segurança que intervenham neste caso", disse o diplomata em coletiva.
Segundo Abdalhaleem, o CS tem autoridade para bloquear a ordem de captura e o processo que levou à sua emissão, já que foi o órgão que, em 2005, autorizou o TPI a investigar as denúncias de violação dos direitos humanos na conflituosa região sudanesa de Darfur.
"É preciso deixar claro que (o TPI) é a favor da paz e do fim do derramamento de sangue, ou que, antes disso, está do lado da justiça, embora, para nós, isso não seja justiça", opinou o diplomata sudanês.
Abdalhaleem advertiu que Cartum "está considerando todas as alternativas" para anular a decisão da Promotoria do TPI, mas não esclareceu se isso incluía o uso da força.
Porém, afirmou que a ação do promotor-chefe da corte internacional, Luis Moreno Ocampo, "terá conseqüências desastrosas para o processo de paz" de Darfur, e reiterou: "Nunca colaboraremos com o TPI".
"Quando se acusa um chefe de Estado, que é o líder de um país, com quem depois alguém pode falar?", questionou o diplomata.
Abdalhaleem disse a ordem de detenção contra Bashir cria "problemas de legitimidade" para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que "sempre recorreu ao presidente" quando as Nações Unidas enfrentaram "dificuldades" em suas atividades no Sudão.
Genocídio
O embaixador sudanês também acusou Moreno Ocampo de "ser um ativista, não um jurista", que, por motivações políticas, "colabora com os inimigos do Sudão".
"Este é um assunto político, não legal, com o qual querem deter nossa marcha rumo ao progresso e à democracia e algumas potências cobram contas pendentes", acrescentou.
O presidente do Sudão, Omar al Bashir, acusado de genocídio
Ocampo afirma ter evidências suficientes para provar as acusações de genocídio. "Bashir tem total controle de suas forças, e suas forças têm como alvo absoluto a terra dos Fur, dos Masalit e dos Zaghawa", disse o promotor à rede CNN. "Noventa e oito por cento das vilas Fur foram atacadas --então toda essa população foi removida, parte significativa da população em campos (de refugiados) são Fur e Masalit e Zaghawa-- e Bashir ataca essas pessoas em suas terras e em seus campos", afirmou. "Ele está tentando destruir uma parte substancial desses grupos, por isso que é genocídio."
Por sua vez, o porta-voz da ONU, Farhan Haq, disse que as acusações do TPI contra Bashir "não afetarão as atividades da ONU no Sudão".
Haq evitou comentar se a ação contra o presidente sudanês impedirá que Ban volte a reunir com ele.
"Não quero especular, mas nossos planos são seguir com os contatos com o governo do Sudão", afirmou.
Segundo o funcionário, no sábado, Ban conversou por telefone com Bashir, a quem "enfatizou" a independência do TPI e disse não ter "influência" sobre as decisões da corte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário