A política de Barack Obama em relação à América Latina mudou. Mudou em termos de discursos e gestos simbólicos como o fim da expulsão de Cuba da OEA. Mas agora chegou o momento de Obama dar uma demonstração concreta que a política externa americana para a América Latina mudou, o golpe militar em Honduras.
Honduras foi a base de operações dos EUA para as intervenções políticas na América Central. Honduras é o país da United Fruit. Honduras é o símbolo do que de3 pior os EUA colaboraram para construir e sustentar na América Latina. Honduras parece ter saído direito dos livros que denunciavam o atraso e o subdesenvolvimento da região nos anos 60 pela ação do imperialismo. É um dos países mais pobres da região perdendo apenas para o Haiti.
O presidente deposto, Manuel Zelaya, foi eleito pelo establishment, pelos grupos sempre tiveram o poder em Honduras e a perpetuaram na miséria. Após eleito Zelaya se afastou do receituário conservador e começou a implantar reformas que suscitaram imediatamente a oposição das elites econômicas, políticas e religiosas de Honduras. Zelaya não é um revolucionário, talvez seja apenas um demagogo latino-americano, mais ainda que seja assim, os fatos mostram a incapacidade das sociedades latino-americanas conviverem com a mudança. A rigidez da estrutura sócio-econômica faz com que qualquer simulacro de reforma ganhe ares revolucionários e ameace o sistema. E o resultado temos aí, sempre mais do mesmo. Diante das reformas, as elites contrariadas armam a deposição do governo reformista de turno para restaurar a ordem imaculada que deve preservar o atraso e o subdesenvolvimento. Não faltam grupos na América Latina cujo sangue, que lhes dá a vida, é o atraso, a pobreza e o subdesenvolvimento. Nestes momentos me irritam e enojam ainda mais estes termos bobos que se difundem pelas organizações internacionais e pela imprensa, países em desenvolvimento, países emergentes. Termos que mistificam a realidade e rompem a solidariedade trágica que de fato amarra um país como o Brasil a Honduras. A tragédia de Honduras é a tragédia do Brasil porque aponta para os nossos limites estruturais. As vitórias do Brasil encobrem as amargas derrotas de Honduras, porque a isolam e fazem de conta que basta fazer as escolhas certas (o que também encobre a natureza conjuntural das nossas vitórias).
O golpe de Honduras revela também a incapacidade dos políticos latino-americanos lideram com as instituições. Não apenas os golpistas, mas também o presidente deposto ao insistir num plebiscito informal sobre uma Constituinte. Plebiscito condenado pela corte constitucional e pelo Legislativo. É claro que ambos são contra por interesses mesquinhos, pela preservação do status quo, porque tem interesse em conservar as instituições políticas hondurenhas imunes ao povo. Diante disso, convocar um plebiscito informal é ignorância política, no mínimo, e um desrespeito com as instituições de fato. E aí se dá uma desculpa para os grupos golpistas. Claro que é necessário reformular as leis. No mundo injusto, pobre, atrasado e e subdesenvolvido, as leis são injustas, pobres, atrasadas e subdesenvolvidas. Mas não se faz isso começando com um plebiscito informal, com um plebiscito de araque. Precisa de apoio popular para forçar a a aprovação de uma Constituinte? Mobilize a população, organize a população, leve a população para as ruas e aprove um plebiscito real. Se resolve dois problemas muda as instituições e traz o povo para dentro das instituições. A política se faz nas instituições ainda que o objetivo seja romper os limites impostos pelas instituições vigentes para dar origem a outras. É difícil saber se Manuel Zelaya sofre de ignorância política ou é mal intencionado, em qualquer caso ele precisa voltar ao cargo.
E aqui é o momento de Obama fazer uma escolha pela continuidade da política externa americana para a América Latina ou pela ruptura. Nenhum golpe de estado na região sobrevive sem o apoio dos EUA e mais ainda em Honduras, onde há uma base militar norte-americana. Uma objeção firme ao golpe, não apenas na imprensa, mas nos bastidores, posicionando-se claramente para a junta militar golpista, e para o presidente em exercício derruba o golpe. FHC, e veja que não estamos falando de grande coisa, só do FHC, junto com os outros presidentes do Mercosul foi capaz de pressionar o Lino Oviedo ao ponto de reverter o golpe de Estado no Paraguai. Se é possível no Paraguai com FHC, é possível em Honduras com Obama. Se o governo golpista de Honduras não cair é porque Obama fez uma escolha e não foi pela mudança.
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