"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 20 de junho de 2009

Adeus, General Motors

Adeus, General Motors

Por Michael Moore

Michael Moore

Traduzido por Omar L. de Barros Filho e Sylvia Bojunga
Escrevo na manhã do fim da outrora poderosa General Motors. Ao meio dia, o presidente dos Estados Unidos tornará oficial: a General Motors, tal como a conhecemos, acabou.
Sentado aqui na cidade natal da GM, Flint, Michigan, estou cercado de amigos e familiares ansiosos pelo que ocorrerá com eles e com a cidade, onde 40% das casas e dos negócios locais foram abandonados. Imagine como seria viver em uma cidade onde quase todas as demais casas estivessem vazias. Qual seria seu estado de espírito?
É uma triste ironia que a companhia que inventou a obsolescência planejada – a decisão de construir automóveis que caíssem aos pedaços em alguns anos para que o cliente tivesse que comprar um novo – agora ficou obsoleta. Negou-se a fabricar os automóveis que o público queria, que consumissem menos gasolina, que fossem o mais seguros possível e extremamente confortáveis de dirigir. Ah! – e que não começassem a se desmanchar em dois anos.
A GM teimou em lutar contra as regulamentações ambientais e de segurança. Seus executivos ignoravam com arrogância os “inferiores” veículos japoneses e alemães, os quais chegariam a ser o padrão ouro dos compradores de carros. E estava determinada em castigar sua força de trabalho sindicalizada, despedindo milhares de trabalhadores apenas para “melhorar” a situação dos resultados de curto prazo da corporação.
De 1980 em diante, quando divulgava lucros sem precedente, transferiu incontáveis postos de trabalho para o México e outros lugares, destruindo as vidas de dezenas de milhares de esforçados americanos. A patente estupidez desta política estava no fato de que, ao eliminar a renda de tantas famílias de classe média, quem eles pensavam que teria condições para comprar automóveis? A história registrará esse erro da mesma forma como hoje são lembrados a construção da Linha Maginot pelos franceses, ou a forma como os romanos envenenaram inadvertidamente seu sistema de água ao incorporar chumbo letal nos encanamentos.
Aqui estamos, pois, no leito de morte da General Motors. O corpo da empresa ainda não está frio, e descubro que me sinto repleto de – ouso dizer – alegria. Não é uma satisfação originada na vingança contra uma corporação que arruinou minha cidade natal e trouxe miséria, divórcios, alcoolismo, deixou gente sem lar, com deficiências físicas, mentais e dependência de drogas entre as pessoas com quem cresci. Tampouco, obviamente, alegra-me saber que outros 21 mil trabalhadores da GM receberão a notícia de que também eles ficaram sem emprego. Mas, agora, você, eu e o resto da América, possuímos uma empresa montadora de automóveis!
Eu sei, eu sei – mas quem, diabos, quer dirigir uma fábrica de automóveis? Quem de nós deseja que 50 bilhões de dólares de nossos impostos sejam jogados em uma toca de ratos na tentativa de salvar a GM? Sejamos claros sobre isso: a única forma de salvar a GM é matar a GM. Resgatar nossa preciosa infraestrutura industrial, porém, é outra coisa e deve ser a máxima prioridade. Se deixarmos que fechem e desmantelem nossas plantas industriais, lamentaremos amargamente seu desaparecimento quando nos dermos conta de que essas fábricas poderiam ter construído os sistemas de energia alternativa que hoje desesperadamente necessitamos. E, quando percebermos que a melhor forma de transporte são ferrovias rápidas, trens-bala e ônibus mais “limpos”, como poderemos construí-los se permitimos que desaparecessem nossa capacidade industrial e sua habilitada força de trabalho?
Assim, pois, agora que o governo federal e o tribunal de falências reorganizam a General Motors, eis aqui o plano que peço ao presidente Barack Obama que ponha em prática para o bem dos trabalhadores, das comunidades da GM e de toda a nação. Há 20 anos, quando fiz Roger & Me, tratei de alertar as pessoas sobre o futuro da General Motors. Se a estrutura do poder e a tecnocracia tivessem escutado, talvez muito teria sido evitado. E, com base em minha trajetória, solicito que se preste honrada e sincera consideração às seguintes sugestões:
1. Assim como fez o presidente Roosevelt depois do ataque a Pearl Harbor, Obama deve dizer à nação que estamos em guerra e que devemos converter de imediato nossas fábricas de automóveis em instalações que construam veículos de transporte de massa e equipamentos de energia alternativa. Em 1942, em Flint, em questão de meses, a GM paralisou toda a produção de carros e usou as linhas de produção para construir aviões, tanques e metralhadoras. A conversão foi realizada em um abrir e fechar de olhos. Todo mundo participou. Os fascistas foram derrotados.
Agora estamos em uma guerra diferente – a que empreendemos contra o ecossistema, guiados por nossos próprios líderes empresariais. Essa guerra tem duas frentes. Uma tem seu quartel-general em Detroit. Os produtos construídos nas fábricas da GM, Ford e Chrysler são algumas das maiores armas de destruição em massa, responsáveis pelo aquecimento global e pelo derretimento de nossas calotas polares. Pode ser que esses objetos que chamamos carros sejam divertidos de dirigir, mas são como um milhão de adagas no coração da Mãe Natureza. Continuar construindo-os só conduzirá à ruína de nossa espécie e de grande parte do planeta.
A outra frente nessa guerra foi aberta pelas companhias petrolíferas, contra você e contra mim. Empenham-se em nos esfolar sempre que podem, e elas foram administradoras imprudentes da finita quantidade de petróleo que se localiza sob a superfície da terra. Elas sabem que a estão sugando até o osso. E, assim como os magnatas madeireiros do princípio do século XX, que não davam a mínima pelas gerações futuras e arrasavam qualquer floresta que caía em suas mãos, esses barões do petróleo não dizem ao público o que sabem que é verdade: no planeta, resta óleo cru utilizável somente para algumas décadas a mais. E, conforme os dias finais do petróleo se aproximam, preparem-se para ver algumas pessoas muito desesperadas, dispostas a matar ou morrer por um litro de gasolina.
O presidente Obama, agora que assumiu o controle da GM, necessita transformar imediatamente as fábricas para os novos usos necessários.
2. Não ponham outros 30 bilhões de dólares nas arcas da GM para fabricar automóveis. Em vez disso, usem esse dinheiro para manter a atual força de trabalho – e a maioria dos que foram demitidos – para que se possa construir os novos modelos de transporte do século XXI. Que o trabalho de conversão comece agora mesmo.
3. Anunciem que nos próximos cinco anos teremos trens-bala cruzando o país. O Japão celebra este ano o 45° aniversário de seu primeiro trem-bala; agora tem dezenas. Velocidade média: 265 quilômetros por hora. Tempo médio de atraso: menos de 30 segundos. Eles possuem esses trens de alta velocidade há quase cinco décadas... e nós não temos nenhum! É um crime que já exista a tecnologia para ir de Nova York a Los Angeles em 17 horas, e que não a utilizemos. Contratemos os desempregados para que construam as novas vias de alta velocidade por todo o país. De Chicago a Detroit em menos de duas horas. De Miami a Washington em menos de sete. De Denver a Dallas em cinco e meia. Pode ser feito e que se faça já.
4. Empreendam um programa para implantar linhas de trens rápidos de massas em todas as nossas cidades grandes e médias. Construam esses trens nas fábricas da GM. E contratem moradores locais para instalar e operar o sistema.
5. Para os habitantes de zonas rurais não atendidas pelos trens, que as plantas da GM produzam ônibus “limpos” e eficientes no uso da energia.
6. Por enquanto, que algumas fábricas construam veículos híbridos ou elétricos (e baterias). Tardarão alguns anos até que as pessoas se acostumem às novas formas de transporte, então se quisermos ter automóveis, que sejam mais “amigáveis”. Podemos construí-los no próximo mês (não acreditem em quem diz que levaríamos anos para reformatar as fábricas: simplesmente não é correto).
7. Transformem algumas das fábricas vazias da GM em instalações que construam moinhos de vento, painéis solares e outros meios de energia alternativa. Agora mesmo necessitamos dezenas de milhões de painéis solares. E existe uma força de trabalho capacitada e disposta que pode construí-los.
8. Concedam incentivos fiscais para aqueles que viajam em automóvel híbrido, ônibus ou trem. Créditos também para aqueles que converterem suas casas à energia alternativa.
9. Para ajudar a pagar por essas medidas, imponham uma taxa de dois dólares para cada quatro litros de gasolina. Isso incentivará as pessoas a mudarem para automóveis que economizam energia ou a utilizar as novas linhas e trens que os trabalhadores das antigas montadoras construíram.
Bem, é um princípio. Por favor, por favor, por favor não salvem a GM para que uma versão reduzida dela não faça outra coisa que construir Chevys ou Cadillacs. Essa não é uma solução sustentável. Não joguem dinheiro bom em uma companhia cujo cano de descarga funciona mal e enche o carro com um cheiro estranho.
Este ano completa-se um século desde que os fundadores da General Motors convenceram o mundo a renunciar a seus cavalos, selas e charretes para experimentar um novo meio de transporte. Agora é tempo de dizer adeus ao motor de combustão interna. Parece que ele nos serviu bem durante um longo tempo. Desfrutamos as paradinhas para lanches rápidos no carro. Transamos no banco dianteiro e também no traseiro. Vimos filmes em telas grandes, saímos em disparada pelas estradas de todo o país e, da janela, demos nossa primeira olhada no Pacífico na Highway One. Mas, agora, acabou. É um novo dia e um novo século. O presidente – e o sindicato de trabalhadores da indústria automobilística – devem aproveitar o momento e fazer uma grande jarra de limonada com este limão tão amargo e triste.
Ontem morreu a última sobrevivente do desastre do Titanic. Ela escapou da morte certa naquela noite e viveu outros 97 anos. Da mesma maneira podemos sobreviver ao nosso Titanic em todas as Flints, Michigans deste país. Os 60% da GM são nossos. Acredito que podemos utilizá-los melhor.
12/6/2009
Artigo original publicado em 1º de junho de 2009.
Fonte: The Daily Beast http://www.thedailybeast.com/blogs-and-stories/2009-06-01/goodbye-gm/p/
Foto: AP
Tradução para o português de Omar L. de Barros Filho, editor de ViaPolítica e membro da Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística, e Sylvia Bojunga. Esta tradução pode ser reproduzida livremente na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como a menção ao autor, aos tradutores e à fonte.
URL da tradução para o espanhol do artigo Adeus GM em Tlaxcala: http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=7842&lg=es
Artigo relacionado (em espanhol): Michael Moore y el caso de la General Motors: ¿Se avecina el fin del capitalismo? http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=7840&lg=es
Mais sobre Michael Moore em http://www.michaelmoore.com/

http://www.viapolitica.com.br/fronteira_view.php?id_fronteira=238#

Nenhum comentário: