Comprei a edição comemorativa de 50 anos de “Formação Econômica do Brasil” de Celso Furtado que trás alguns artigos e resenhas que foram publicados ao longo do tempo sobre o livro. Obviamente que ao pegar um livro assim, o melhor é ler quem fala mal do livro. Então fui logo ver o texto do Nelson Werneck Sodré, pois apostava que ele criticaria o livro, e a crítica foi muito mais ácida do que eu imaginava. Esperava uma avaliação crítica, mas fortemente favorável a Furtado pelo contexto do nacional-desenvolvimentismo. Mas isso não ocorreu. Para começo, Furtado já é rotulado de economista ortodoxo, o que é bastante curioso, pois no contexto atual, dificilmente algum economista rotularia Furtado de ortodoxo.
Diz Nelson Werneck Sodré: “Nela se revelam, entretanto, duas deficiências que devem ser apontadas, porque são traços característicos da economia ortodoxa, entre nós, muito mais do que da pessoa do autor: a dificuldade em transmitir o saber e a precariedade de conhecimentos fora do campo específico. (…)
“Celso Furtado sabe muito, mas não sabe transmitir o que sabe – o que é um mal evidentemente. Mas, além disso, fazendo história – trata-se do desenvolvimento da economia brasileira no decorrer do tempo histórico –, não domina as fontes e revela mesmo desprezo por elas. Quem cita Antonil pelas citações de Simonsen, e até mesmo Gama Barros, não teve a menor preocupação em estudar história. Ora, sem conhecimentos históricos não há como desenrolar o desenvolvimento do progresso material. O autor confessa isso, entretanto, com aquela candura que marca a ingenuidade, a total inocência, a suficiência tranqüila que leva ao desastre. Porta-se como quem diz: “Sei economia, e é quanto basta – história é para leigos”. E é pena, porque se trata de um grande autor, e de uma grande obra.”
E aí eu me pergunto se Celso Furtado não sabe história, quem saberia? Pior o que dizer dos economistas contemporâneos? E o que dizer da maior parte dos estudantes que estão nas faculdades, o que sabem de história? Qual a disposição para realizar uma pesquisa de fôlego? Precisamos de mais economistas que desconheçam história como Celso Furtado.
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