"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


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domingo, 20 de dezembro de 2009

A bolha da vez é a bolha do ouro

São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009
Análise
A bolha da vez é a bolha do ouro

NOURIEL ROUBINI
PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Os preços do ouro vêm subindo fortemente, rompendo a barreira de US$ 1.000 e, nas últimas semanas, ascendendo para US$ 1.200 por onça ou mais.
Os adeptos modernos do ouro argumentam que o preço poderia ultrapassar US$ 2.000. Mas a alta recente de preço tem jeito de bolha, já que encontra justificativa apenas parcial nos fundamentos econômicos.
Os preços do ouro só sobem muito em duas situações: quando a inflação é alta e está em ascensão e quando existe o risco de quase depressão, e os investidores temem pela segurança de seus depósitos bancários.
Os dois últimos anos se enquadram nesse padrão. Os preços do ouro começaram a subir acentuadamente no primeiro semestre de 2008, quando os mercados emergentes estavam superaquecidos, os preços das commodities estavam em alta e existia a preocupação quanto à ascensão da inflação nos mercados emergentes de alto crescimento. Mas mesmo aquela alta teve algo de bolha, que se desinflou no segundo semestre de 2008, quando a economia mundial caiu em depressão, depois que o petróleo atingiu a cotação de US$ 145 por barril e sufocou o crescimento econômico em todo o planeta. Enquanto o medo de inflação era substituído por preocupações quanto à deflação, os preços do ouro começaram a cair, acompanhando a correção na cotação das commodities.
O segundo pico de preço ocorreu no momento do colapso do Lehman Brothers, que deixou os investidores preocupados com a segurança de seus ativos financeiros.
O pânico foi contido quando o G7 assumiu o compromisso de elevar as garantias a depósitos bancários e ofereceu sustentação ao sistema financeiro.
Com o recuo do pânico, ao final de 2008, os preços do ouro retomaram seu movimento de queda. Àquela altura, com a economia mundial caindo a uma quase depressão, o uso comercial e industrial do ouro, e até mesmo a demanda por produtos de luxo, caiu ainda mais.
O ouro voltou a ultrapassar a marca de US$ 1.000 em fevereiro/março de 2009, quando parecia que boa parte do sistema financeiro da Europa e dos Estados Unidos estava perto da insolvência e que muitos governos não eram capazes de garantir os depósitos e de proteger o sistema financeiro, porque os bancos grandes demais para falir também eram grandes demais para serem resgatados.
Já que não existe grande risco de inflação ou depressão no curto prazo, por que os preços do ouro recomeçaram a subir de maneira acentuada?
Existem diversas razões para que eles estejam em alta, mas elas sugerem uma ascensão gradual, com risco significativo de correção para baixo, e não uma rápida alta para a casa dos US$ 2.000, como vêm alegando os adeptos do ouro.
Primeiro, embora ainda estejamos em um mundo de deflação generalizada, grandes deficit fiscais, monetizados, estão alimentando preocupações quanto à inflação no médio prazo. Segundo, uma grande onda de liquidez estimula a alta dos ativos, entre os quais commodities, e isso pode resultar em estímulo ainda maior para a inflação. Terceiro, as operações de "carry trade" (empréstimos para realizar investimentos) financiadas em dólar estão pressionando fortemente o dólar, e existe uma relação inversa entre o valor do dólar e o preço em dólar das commodities: quanto mais baixo o dólar, mais alto o preço em dólar do petróleo, da energia e de outras commodities, entre elas o ouro. Quarto, o suprimento mundial de ouro -tanto existente quanto recém-extraído- é limitado, e a procura cresce mais rápido do que a oferta. Parte dessa procura vem de bancos centrais, como os da Índia, da China e da Coreia do Sul. E parte provém de investidores privados que estão usando o ouro como hedge contra riscos que continuam a ter baixa probabilidade.
Mas, já que o ouro não tem valor intrínseco, existem riscos significativos de correção para menos. Os bancos centrais terão um dia de deixar para trás o relaxamento quantitativo e os juros zero, o que colocará pressão de baixa sobre ativos de risco, entre os quais as commodities. Ou a recuperação mundial pode se provar frágil e anêmica, o que resultaria em pressão de baixa sobre as commodities e de alta sobre o dólar.
Mas todas as bolhas terminam por estourar. Quanto maior a bolha, maior o colapso.
A recente alta do ouro só se justifica parcialmente pelos fundamentos. E tampouco é claro por que os investidores deveriam formar estoques de ouro caso a economia mundial entre de novo em recessão e as preocupações sobre uma quase depressão e uma inflação em alta ganhem impulso. Se você realmente teme um colapso econômico, deveria formar estoques de armas, alimentos enlatados e outras commodities que tenham uso real na cabana em que se refugiará.


NOURIEL ROUBINI é presidente da RGE Monitor (www.rgemonitor.com) e professor da Escola Stern de Administração de Empresas, na Universidade de Nova York.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2012200908.htm

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