Quando soube do lançamento do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento pensei que seria apenas mais uma organização fictícia e de caráter laudatório, apenas uma organização de amigos que usaria o nome de um grande economista para divulgar as suas idéias. Eu estava equivocado. De fato, o Centro Celso Furtado pretende desempenhar um papel sério e honesto na discussão do desenvolvimento e do desenvolvimento brasileiro em particular. As duas últimas iniciativas que tomei conhecimento são primorosas. A primeira, os Arquivos Celso Furtado, que vai trazer artigos do Celso Furtado que estão dispersos. O primeiro volume traz artigos sobre a Venezuela, intitulou-se "Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas". Nada mais oportuno por ser a Venezuela, e porque em se comprovando o Brasil como exportador de petróleo teremos que lidar com a abundância de divisas rompendo com o nosso problema secular em transações correntes.
A segundo iniciativa é ainda mais importante. É a coleção Memórias do Desenvolvimento que está disponível para download. Faz uma recuperação de textos e documentos sobre o desenvolvimento econômico. O primeiro volume traz um texto de Ragnar Nurske, "Problemas da Formação de Capitais em Países Subdesenvolvidos" com um artigo de Furtado sobre o livro de Nurske e a resposta do autor. Para muitos pode parecer um debate ultrapassado, mas de fato permite compreender a época além de suscitar questões sobre o presente. Também é significativo porque mostra como a questão do desenvolvimento fazia parte da agenda mundial, e não era um debate sobre nós, ou seja, dos economistas dos países ricos dissertando sobre o que deveríamos fazer como ocorre hoje, mas era uma debate no qual nós, brasileiros ou latino-americanos, participávamos. Seria interessante que iniciativas como essa se dividissem.
A informação sobre o lançamento do segundo volume das memórias do desenvolvimento chegou ontem ao meu e-mail, li após ter dado aula e coincidentemente o material do segundo volume era sobre os assuntos da aula que havia acabado de ministrar. Traz o relatório da Comissão Mista Brasil-EUA, um artigo sobre a participação do BNDE na industrialização brasileira, e a legislação do Fundo de Reaparelhamento Econômico. Pelo jeito terei que repetir a aula.
No Brasil se publica tanta besteira que iniciativas como estas ficam perdidas, chegam ao conhecimento apenas de grupos isolados não ganhando a repercussão e a discussão que mereceriam.
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