O post anterior sobre a esperança fica como mensagem para o Natal e o Ano Novo. Espero que todos os visitantes do blog consigam cultivar a esperança e vivenciá-la. Este fica como sermão.
Não basta professar valores, é preciso vivenciá-los ainda mais no mundo cada dia mais inóspito. Vivenciar é se dispor a fazer os sacríficios necessários para adequar o discurso à prática, modificar-se, eliminar tudo aquilo que impede de viver de forma coerente. Todos os anos fazemos votos de ano novo, fazemos promessas, que logo caem no vazio e são esquecidas, porque de fato o que se faz necessário é a conversão de vida. Em geral as pessoas querem eliminar um problema, conseguir um objetivo sem mudar de estilo vida. Não existe isso. Cada objetivo, cada meta exige uma conversão de vida. Cada propósito exige um sacríficio. Quando se escolhe ter tudo, na verdade está escolhendo o fracasso. É preciso definir prioridades e ser capaz de viver considerando estas prioridades. Se cada vez que os "amigos", os "colegas" chamam para um desvio de rota, e a pessoa assente, é porque não tem compromisso consigo mesma. Vivemos numa sociedade profundamente contraditória. Ao mesmo tempo que as pessoas são profundamente individualistas, não se preocupam com o futuro dos outros, não são solidárias, preocupam-se de forma doentia com as opiniões e avaliaçãos dos outros, querem a aprovação permanente, não resistem à crítica, não conseguem viver sozinhas e o resultado é comportamento de manada que hoje não atinge mais apenas os jovens. Em todas as faixas etárias se encontram cada vez mais pessoas se comportando como animais, ignorando os fracos e buscando a permanente aceitação e participação no grupo. Não há sociedade que resista, e não há projeto de vida que se sustente.
Tornar-se indivíduo na sociedade contemporânea é remar contra a maré, é pensar criticamente, não agir por impulso e pela pressão do bando. É seguir o próprio caminho a despeito das adversidades. Óbvio que isso não significa ser cabeça-dura ou persistir no erro, significa que se deve assumir a responsabilidade por cada decisão tomada. As decisões que você toma fazem a sua vida, se você deixar que outros tomem decisões por você, e não assumir a responsabilidade estará deixando que outros vivam a sua vida.
E deve-se assumir a responsabilidade nas coisas mais simples às mais complexas. Na situação que vivo frequantemente na relação professor-aluno, seria muito mais fácil me eximir de responsabilidade e sair dando dez para todo mundo, seria o mais fácil, seria seguir a corrente, me daria menos trabalho e problemas. Mas seria errado, porque eu estaria me eximindo da responsabilidade para com o futuro dos alunos. Esta é uma outra contradição da sociedade brasileira contemporânea, o discurso que estudar é importante se tornou hegemômico, então todo mundo quer estudar, mas ninguém quer estudar. Todos querem entrar na faculdade e sair com um diploma, mas a maioria não está disposta estudar realmente, a se sacrificar hoje pelas conquistas futuras. Resultado? Fracasso. O curso deixa de ter qualquer sentido. Hoje a diferença mais significava no ensino superior não é entre os alunos de notas altas e os alunos de notas baixas é entre os alunos responsáveis pelas decisões que tomam e os alunos que não assumem a responsabilidade pelo seu próprio destino. O problema da queda no nível do ensino superior está nos irresponsáveis, naqueles que estão sempre em busca de facilidades para serem aprovados, querendo um ponto, um trabalhinho, menos textos, provas mais fáceis, e sempre têm uma desculpa pelo resultado, que nunca se deve a uma ação ou inação dele, mas sempre dos outros, da vida, trabalha muito, tem muitos problemas etc. Quando estes alunos são a maioria numa sala é o pior dos mundos, quem quer estudar sairá sempre prejudicado, porque a pressão para baixar o nível tende a ser insuportável. Outro tipo de aluno que não consegue se encontrar no ensino superior é aquele que acredita que estudar deve ser prazeroso, que a aula deve ser prazerosa, com certeza não vai dar certo. O úncio prazer em estudar é aprender coisas que você não sabe, mas não há métodos de estudos prazerosos para aqueles que não sentem o prazer de descobrir novos conceitos, novas idéias, novos autores.
Um tipo de aluno fácil de lidar é o que não está nem aí para o resultado, ser aprovado, reprovado é indiferente, podem até culpar o professor, odiar o professor por sempre serem reprovados, mas ficam na deles, comportam-se como se assumissem a responsabilidade. É o mais difícil de ser compreendido, porque é inexplicável as razões pelas quais se matricula numa faculdade. Em geral parecem não identificar qualquer sentido na vida, e se a vida não tem sentido, se a vida é apenas um conjunto de momentos, estudar realmente não tem o menor valor.
Óbvio que os professores também têm defeitos. E a irresponsabilidade é pior defeito. Aceitar passivivamente a realidade. Dizer que nenhum aluno quer estudar e a partir daí não fazer nenhum esforço para fazer com que o aluno estude. O professor é irresponsável quando simplesmente aceita o aluno como ele é e não faz nada para tentar que ele se transforme. A pior combinação possível para uma instituição educacional são estudantes e professores passivos, irresponsáveis, cada um esperando que o outro tome a inciativa.
No microcosmo do ensino superior temos a expriência da vida contemporânea, onde predomina a alienação, a irresponsabilidade, a passividade, e a predominância dos instintos coletivos sobre a racionalidade. Na educação em geral, o domínio do grupo chegou a tal ponto que hoje há estudantes que deixam de estudar por medo da avaliação do grupo, por medo de não ser aceito pelo grupo. E na pasmaceira geral, a sociedade sofre um processo de involução. Hoje a coisa mais comum do mundo é as pessoas se surpreenderem com a inteligência e a sagacidade dos bebês e das crianças pequenas, mas na medida em que vão crescendo ao invés da inteligência, do conhecimento e do pensamento estar sendo desenvolvido, está sendo podado pelas famílias, pela sociedade, pela escola, que se mostram incapaz de inculcar desde o início nas crianças a disciplina, o método necessários ao desenvolvimento do pensamento. E depois quando crescem, poucos se dispõe à disciplina e ao método necessários ao desenvolvimento das ciências. É isso que explica que num país onde se precisa de químicos, engenheiros, físicos, etc. onde se precisa desenvovler as ciências exatas para se dar um salto científico e tecnológico tenhamos cada vez mais administradores, bacharéis em direito incapazes de serem aprovados na OAB ou em concursos para juiz. Cada pessoa e a sociedade pode escolher, e crescentemente se escolhe permanecer na ignorância. Ninguém quer pesquisar, se esforçar, quer respostas prontas. E nem respostas prontas no livro é suficiente, querem todas as respostas sem abrir um livro, sem ler qualquer manual de instruções, etc.
No Ano Novo ao invés de mandingas, promessas, supertições, o que cada um deve se perguntar é qual o sacríficio está disposto fazer pelo seu futuro, é perguntar o que de fato é importante na sua vida. E procurar a partir daí a viver de acordo com as respostas que conseguiu. Traçar o caminho para quando se perder, saber que está perdido, e saber para onde é preciso voltar. Quem não sabe aonde quer chegar não sabe quando se perdeu!
Um comentário:
Olá prof!
Este sermão ficará marcado e serve muito para "acordar pra vida". Infelizmente este é um relato da realidade, mas ainda sim há esperança numa minoria.
Continue fazendo a diferença porque as pessoas certas saberão te dar o valor!
E as RI's, são uma busca constante, principalmente depois que saímos da faculdade!
Um super beijo e Feliz 2009 (sem promessas rs).
Saudades de você...
Michelle C. Pinheiro - Turma Unibero 2007
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