A crise como motor da mudança: os limites do governo Obama
Corival Alves do Carmo*
O governo Barack Obama nasce sob o signo da mudança. Toda a campanha esteve ancorada num discurso que a mudança é possível, não apenas na política externa, mas também com relação à política e à economia. Negro, Obama não fez uma campanha fundada na questão racial, não se colocou como o símbolo de uma raça, mas como o símbolo de uma renovação da política norte-americana que permitisse a recuperação dos valores liberais (no sentido norte-americano do termo) que foram duramente atacados pelo governo Bush.
Obama enfrentará o mesmo dilema de Lula no Brasil. Quando Lula assumiu o governo aceitou seguir a cartilha de política econômica deixada por FHC para não assustar os mercados, para mostrar credibilidade, o primeiro presidente do PT, operário, sindicalista, com baixo nível de escolaridade não poderia errar. Erros aceitáveis para Fernando Collor e FHC seriam considerados imperdoáveis para o Lula. Obama tem preparo intelectual, mas é um político iniciante e o primeiro presidente negro dos EUA, indubitavelmente um fato histórico de grande significado, ou seja, Obama não pode e não quer errar.
A frase já clássica do futebol brasileiro "o medo de perder tira a vontade de ganhar" retrata de certo modo a situação do presidente eleito. O medo de errar reduz a ousadia, a criatividade e faz com que o governo Obama, na prática, se afaste das promessas de mudança feitas na campanha eleitoral. A dificuldade de mudar é ainda maior porque as instituições sociais tendem à inércia, tendem a reproduzir o status quo, e a capacidade dos novos governos de introduzir mudanças no interior das instituições políticas e sociais se reduz rapidamente.
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