São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010
Eleição no Brasil provoca "febre Dilma" na Bulgária
Mídia local fala da possibilidade de "búlgara presidir a 7ª economia do mundo"
"Tento explicar para os jornalistas que ela não é búlgara", afirma Paulo Américo Wolowski, embaixador do Brasil
VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA
A Bulgária vive uma "febre Dilma". Jornais, revistas e televisões acompanham o dia a dia da campanha no Brasil, e muitos jornalistas já estão de malas prontas para cobrir in loco a possível eleição de uma "búlgara para presidir a sétima maior economia do mundo".
Se o Quênia festejou a vitória de Barack Obama, que tem pai queniano, a Bulgária quer festejar a de Dilma, que tem pai búlgaro.
"Somos um país muito pequeno, e a possibilidade de alguém que teve um pai búlgaro ocupar um cargo tão importante nos deixa emocionados", afirma Jorge Nalbantov, apresentador da TV7, que viajará ao Brasil para fazer a cobertura da eleição presidencial.
A Bulgária tem cerca de 7,5 milhões de habitantes, população que vem caindo devido à migração e à baixa taxa de natalidade (1,4 filho por mulher, em média). Há dez anos, eram 8,1 milhões de habitantes.
Dilma é descrita pelos meios de comunicação como "dama de ferro", "Margaret Thatcher brasileira" e "toda-poderosa do governo Lula".
Algumas vezes foi chamada erroneamente de "primeira-ministra do Brasil".
Certas reportagens citam sua participação em grupos da luta armada e no roubo, em julho de 1969, do "cofre do Adhemar", que teria pertencido ao ex-governador de São Paulo e que era guardado no Rio. Essa operação foi organizada pela VAR-Palmares, na qual a ex-ministra militou, mas ela nega ter participado do roubo.
Na última quinta-feira, um dos principais jornais de Sófia, o "Trud" (algo como o trabalhador), dedicou duas páginas inteiras à ex-ministra e suas raízes búlgaras.
ABRAÇOS À BULGÁRIA
No sábado, o mesmo jornal trouxe mais uma grande reportagem com o título: "Dilma Rousseff: Quero Mandar Abraços para a Bulgária". Era baseada numa resposta dada pela candidata após entrevista no SBT.
Segundo o "Trud", Dilma disse que ir à Bulgária é uma de suas prioridades e que desejava mandar uma abraço a todos os búlgaros.
Alguns jornais e programas de televisão dizem que ela é búlgara, apesar de a candidata nunca ter ido ao país e de não falar búlgaro.
Já foram publicados títulos como: "Uma búlgara pode ser presidente do Brasil".
"Eu tento explicar para os jornalistas que ela não é búlgara, assim como não sou polonês", afirma Paulo Américo Wolowski, embaixador do Brasil em Sófia e que viu explodir o interesse da mídia local pelo Brasil.
EM BUSCA DE HERÓIS
Para Rumen Stoyanov, professor de literatura da Universidade de Sófia, a Bulgária sente falta de figuras ilustres.
"Nós precisamos de heróis. Somos um povo pequeno, que está diminuindo porque o búlgaro não quer ter filho. Por isso, é importante que ressaltemos o exemplo de alguém com sangue búlgaro com destaque fora do país", afirma Stoyanov.
Dilma não é a primeira "semi-búlgara" a ser festejada na Bulgária. Entre os heróis nacionais está John Vincent Atanasoff, considerado o inventor do computador digital. Ele nasceu e viveu a vida toda nos EUA. Mas tinha, claro, um pai búlgaro.
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