"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Brasil na economia mundial: Ferro, comida e cerveja

São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010


VINICIUS TORRES FREIRE
Ferro, comida e cerveja

Brasileiros compram Burger King; empresas maiores e mais globais do país vivem da onda de recursos naturais

 

QUANDO UM americano come um hambúrguer e toma uma cerveja, pingam mais uns trocados na conta de empresas mais ou menos brasileiras. A carne poderia vir da Swift, que foi comprada em 2007 pelo JBS-Friboi. A cerveja poderia ser a vulgar Budweiser ou alguma outra da Anheuser-Busch, comprada em 2008 pela InBev, maior cervejaria do mundo. A InBev é o resultado da fusão da belga Interbrew com a brasileira AmBev, em 2004. A AmBev, como se recorda, fundiu Brahma e Antartica em 1999.
Agora, carne e hambúrguer podem ser brasileiros -caso a notícia fosse dada pelo Casseta & Planeta, a manchete poderia ser "Tamos aí nessas carnes". Ontem, os brasileiros sócios da InBev anunciaram a compra da vice-líder do ranking dos restaurantes de "junk food" nos EUA, o Burger King. Os empresários, ex-financistas do Garantia, são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que também têm as Lojas Americanas. Se o céu é o limite, agora falta o McDonald's.
A InBev, porém, é tão "nacional" quanto aqueles atores ou atletas "brasileiros" que descobrimos fazendo sucesso num seriado americano, mas que foram para os EUA meninos, falam português estropiado etc. Anedotas e nacionalismos à parte, o negócio da Burger King é mais um sinal de trânsito do capital brasileiro trasnacionalizado.
Empresas brasileiras ou quase isso compram negócios que, para empresas americanas ou europeias, são de outras eras, "antigos", mal administrados, rendendo pouco, mas com potencial de crescimento se integrados a conglomerados ou a redes de produção maiores. Pelas Américas, os brasileiros compram siderúrgicas e mineradoras (Gerdau, Vale), frigoríficos (JBS-Friboi), os produtores de álcool se associam com múltis, as distribuidoras de combustíveis compram os postos das petroleiras múltis no Brasil etc.
O vetor dessas compras é evidente: recursos naturais, alimentos, combustíveis. Não é apenas a pauta de exportações brasileiras que se "commoditiza" ou é tomada pela venda de minérios, comida e combustíveis. As empresas brasileiras se reorganizam e crescem de acordo com essa tendência forte, que é praticamente "imposta de fora", pelo mercado mundial.
Em 1999, 90 empresas eram responsáveis por 50% do valor das exportações brasileiras. Desse valor, 56% vinham de exportações de commodities, combustíveis e comida. Em 2009, apenas 57 empresas ficavam com 50% das exportações. Desse valor, 73% vinham de commodities, combustíveis e comida.
A exportação se concentrou em menos empresas, que ficaram maiores. Ficaram maiores porque o mundo demanda mais e paga mais por recursos naturais e por comida.
No ano 2000, das 50 maiores empresas brasileiras, 4 eram produtoras ou comerciantes de minério, combustível e comida. Em 2009, eram nove (os dados foram cavados na publicação "Valor 1000 - As 1000 Maiores Empresas"). No ano 2000, sete empresas eram petroleiras, alcooleiras ou distribuidoras de combustíveis. Em 2009, eram nove.
Não se trata aqui de reforçar a tese da "desindustrialização" do país. Mas de lembrar que é impossível fazer com que as empresas resistam a sinais de preços e oportunidades de aquisições que vêm na onda da demanda por recursos naturais.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0309201006.htm

Nenhum comentário: