"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Ainda sobre viagens e o fim do mundo

A família dos meus pais é de Jataí-GO. E especialmente a da minha mãe ainda mora lá. E enquanto minha avó viveu, até 2005, eu sempre ia para Jataí. No entanto, depois que ela morreu não havia voltado lá. Aí depois do Ano Novo, resolvi avançar em direção ao fim do mundo visitando Jataí. Parêntesis, antes da viagem, deixe-me explicar Jataí. Ao contrário de Barra do Garças, Jataí é uma cidade velha, e o que é pior, parece uma cidade velha. Quem mora lá fala que há áreas que não parecem velha, nunca as encontrei. E parecem velhas, porque as casas em Jataí em geral não têm jardins visíveis, e usam tons de cores mortas como bege, verde claro, alguns tons marrons sem graça, e tende a dar muita homogeneidade entre as casas mesmo quando são novas, dá um ar triste e melancólico à cidade. E apesar da cidade ser grande para os padrões da região, tem mais de 100.000 habitantes, a maior parte da cidade parece em vias de se tornar cidade fantasma, parece uma cidade de evasão populacional, e não o destino de novas vidas. Nem as entradas da cidade têm vivacidade. Apenas a avenida Goiás e seu entorno imediato parecem ter vida, mas ainda assim não esconde antiguidade (essa área é realmente velha), e portanto, se descer um quarteirão abaixo da Goiás já parece ter voltado no século. Uma dificuldade que Jataí enfrenta e ter uma rival no cenário goiano a menos de 100km e que hoje é mais importante que é Rio Verde. Então com complexo de inferioridade, Jataí resolveu se transformar em cidade turística, mas Jataí não tem atrações turísticas (quem quer fazer turismo, deve vir para Barra do Garças), aí resolveram criar. Isso mesmo, resolveram criar atrações turísticas. O Brasil é mesmo um país engraçado. Um país pobre, as cidades cheias de carência e um prefeito resolve inventar atrações turísticas para a cidade (hoje a cidade, como o estado, vive um surto de febre amarela, o que mostra que havia coisa melhor no que se gastar o dinheiro no passado) e o povo não se revolta. E quais as atrações turísticas criadas? Fizeram uma praia artificial, isso mesmo, praia artificial. Colocaram também um Cristo Redentor em cima de um montinho, não se pode chamar aquilo de serra nem mesmo de monte. E passaram a fazer propaganda dos rios locais que nem nos anos 30 conseguiram seduzir meus tios, e em todas as histórias que ouço deles só ouço falar em córregos de Jataí, nada de rio. Então já constataram a megalomania né? Enfim, ficamos combinados assim, o que tem de bom em Jataí são os meus parentes, se vc não for com a cara deles não tem mais nada de interessante para se fazer em Jataí, não há graça em Jataí.
Voltemos à viagem ou quase. Jataí tem outra singularidade, tem apenas uma empresa de ônibus que atende a cidade independentemente do lugar para o qual vc quiser ir. Hoje estou exagerando um pouco, claro, porque como todos sabem a realidade é sempre triste, nunca engraçada, então não custa nada melhorarmos ela um pouquinho. É o Expresso São Luiz (se quiser conhecer www.expressosaoluiz.com.br). Se quiser viajar de Jataí para Goiânia, São Luiz. De Jataí para São Paulo, São Luiz, e assim para Cuiabá, Barra do Garças, Rio Verde e qualquer cidade que vc imaginar. Mas se assim já ruim, a realidade consegue ser pior, a maior parte das linhas é em trânsito, o ônibus não sai de Jataí, vc tem que ir para rodoviária e esperar o ônibus chegar para ver se há vagas e claro o ônibus sempre atrasa e sempre pode haver mais gente esperando do que vagas no ônibus. E vcs, pessoas inteligentes, perguntarão, e não há rede informatizada para venda de passagens? Pois é, também me pergunto isso. Parece que o São Luiz ainda não entendeu direito a idéia e tem força política para impedir os concorrentes, que conhecem a internet, de se instalarem no local. São amigos do ex-governador de Goiás e senador e jataiense Maguito Vilela, e dos outros também, vamos falar mal só do Maguito porque ele é de lá.
Agora falemos dos ônibus. Os ônibus do São Luiz são em geral ruins, os que vão para Goiânia são melhorzinhos para não envergonhar muito a empresa na rodoviária, mas ainda assim quebram na estrada. Nos áureos tempos da linha Barra do Garças-Jataí, o ônibus sempre ia lotado, dois horários diários e sempre lotado. O pessoal viajava em pé (não havia ainda lei ou aqui a lei não era cumprida) de tão cheio. O ônibus era horrível, uma porcaria, sempre quebrava. Parava toda hora para pegar passageiro na estrada e para passageiros descerem. Era uma tortura. E apesar da distância ser de uns 300km, a viagem durava sempre umas oito horas. Porque além de tudo a estrada era de chão, nada de asfalto. E mais um exemplo de como o Brasil é um grande país, nos mapas oficiais e no guia 4 rodas, a estrada aparecia como asfaltada. Sempre era destinado dinheiro para o asfalto, mas ele saiu depois que eu utilizei a estrada por quase 20 anos. Uma vergonha. E ainda fizeram um asfalto vagabundo que estragou fácil. No último trecho que fizeram, logo que terminaram a obra houve um desmoronamento de um pedaço da pista e claro que não pensaram em consertar durante muito tempo.
Entre Barra do Garças e Jataí temos as seguintes cidades, Aragarças-GO que não conta(todo mundo que lê este blog tem que estar cansado de saber que Barra do Garças e Aragarças estão separadas apenas por um rio e duas pontes), aí Bom Jardim, Piranhas, aí quando vc se alegra e pensa que está indo para Goiânia, o ônibus toma a direção de Caiapônia, e de pois vem Jataí. Vcs não tem idéia do que é Caiapônia. Se imaginam que Aragarças é ruim, que Bom Jardim é ruim, que Piranhas é ruim, Caiapônia não é parâmetro para comparação do que é a ruindade, porque consegue ser pior (e vou fazer de conta que não tenho uma tia que é de Caiapônia). Sabem quando eu fico surpreso que haja imigrantes ilegais em Angola? Pois é, eu fico estarrecido de haver população em Caiapônia. Se eu que nasci em Barra do Garças para me redimir me mudei para Brasília e São Paulo para onde deve mudar quem nasce em Caiapônia para se libertar do espírito caiaponense, do jeito caiaponense de ser? Sério mesmo, quem nasce em Caiapônia deve ser imigrante ilegal em Angola, só pode. Bom jardim é uma cidade pobre, como também Aragarças, mas são cidades pobres como a maior parte das cidades brasileiras, pobres, mas não decadentes. Piranhas é uma cidade menos feia e menos pobre. Caiapônia é uma cidade decadente.
Voltando à viagem. Então resolvi viajar para Jataí. Obviamente de São Luiz. Iria o meu irmão e eu. Como os dois são, digamos, gordos, os dois lado a lado tornaria a viagem insuportável. Então como não é mais a época áurea das viagens, e os ônibus circulam relativamente vazios fui sentar em outra poltrona sozinho. Parêntesis nos coletivos urbanos uma coisa que me irrita é eu estar sentando e vir outro gordo e sentar do meu lado. E normalmente é mulher, porque, as que realmente são gordas, nunca se acham gordas como realmente são. Aí com um monte de lugar vazio, vem e senta do meu lado. Me seguro para não perguntar se ela não percebe que ela é gorda, eu sou gordo e que a viagem será ruim para os dois. Mudei de lugar. Felizmente ninguém sentou do meu lado, e quem sentou na poltrona de trás até a Caiapônia foi calado. Na Caiapônia sentou um casal e logo começaram a conversar ou melhor logo a mulher começou o monólogo dela. Era sobre a irmã e cunhado que ela estava falando, mas ela já aproveitava para dar um sermão indireto no marido que estava ao lado. Que horror! Fiquei sabendo tudo sobre a relação do Vinícius com a Amanda. Descobri que o Vinícius não vale nada e a Amanda é uma boboca que aceita tudo. O Vinícius queria casar com a Amanda, mas a Amanda era menor de idade, ou de menor como ela dizia. Então o pai precisava autorizar, assinar os papéis. Então foram ao juiz e o juiz disse para o Vinícius que com o histórico dele e por ele estar se casando com uma menor de idade exigiria um exame de DST. O consciencioso pai e a filha ficaram indignados com o juiz, então o juiz exigiu o exame também da moça. Após o exame o juiz casou o respeitável e saudável rapaz com a moça. Pouco antes do casamento, o rapaz sai do emprego a pedido do pai dele, mas a moça casa assim mesmo. Depois de casada, a irmã aconselha a moça a não engravidar, a tomar remédio, aí a irmã diz que não está tomando remédio porque o marido não tem dinheiro para comprar (vejam como é duro administrar um país, não basta distribuir os medicamentos de graça nos postos de saúde, ou camisinha, se não distribuir junto gotículas de cérebros, mas vamos em frente). Dois meses depois a criatura engravida. E vcs já imaginam a vida boa que o casal deve estar tendo agora já tem dois filhos. O casal havia ido morar em Goiânia, mas o pai do rapaz mandou um carro buscá-lo em Goiânia para trazê-lo de volta para Caiapônia, e acreditem o esperto do rapaz voltou. Deixou a mulher e os filhos e voltou. A moça, também espertíssima, voltou para casa dos pais dela em Caiapônia. Felizes por terem um genro esperto, os pais da moça chamaram-no para morar na casa com eles e a filha. E nesta ótima convivência familiar o genro contou para a sogra sobre a primeira vez que transou com a filha dela antes do casamento no meio do mato. E isso é só uma parte do que eu ouvi, não entendo as pessoas conversarem em ambientes públicos como se estivessem em casa. O pior é que um pesadelo me assombra, a mulher faladeira e o marido dele estavam indo para Jataí para pegar um ônibus para São Paulo, porque moram lá. E claro também são espertíssimos, ofereceram um emprego para o marido da mulher faladeira em Caiapônia e ela disse que se arrumarem um pra ela também quando ela terminar de construir a casa dela em São Paulo ela se muda para Caiapônia de novo. E eu pensando que a única coisa que eu não entendo é a imigração ilegal em Angola.
Em Jataí, apesar do meu primo ser radialista há muitos anos nunca tinha ouvido o programa dele. Aí resolvi escutar o Bate-Bola Musical da rádio Difusora de Jataí e descobri que o meu primo é o Milton Neves de Jataí. Como tem propaganda no programa. Descobri outra coisa, montar time de futebol no interior é uma desgraça mesmo, é perder dinheiro. No programa estavam distribuindo ingressos para o amistoso entre a Jataiense e o Ituiutaba, e os ouvintes que ligavam dispensavam os ingressos, muito engraçado, diziam que não iriam assistir o jogo. Quando estávamos vindo embora, o ônibus passou em frente ao estádio no horário do jogo, havia meia dúzia de pessoas, mas muitos carros do lado de fora. No interior, tudo é motivo pra festa. Agora vejam a situação, no dia anterior o Ituiutaba já havia feito um amistoso com o MEC (Mineiros Esporte Clube) e segundo meu primo o MEC mostrou ser um time muito fraco neste jogo, fiquei imaginando a força do Ituiutaba para ser convidado para fazer amistoso com dois times do interior de Goiás com um jogo no sábado e outro no domingo. Sinceramente, estes times deveriam desaparecer, é um desperdício de dinheiro, e o pior é que há times assim que recebem dinheiro das prefeituras. No mesmo programa fiquei sabendo que o Itumbiara está formando um esquadrão para o campeonato goiano e quer aparecer até no cenário nacional, pelo jeito o Corinthians que se cuide, a terceirona de 2009 não será fácil, o Itumbiara virá com tudo. Se perdeu entre tantas cidades? Pense, use um mapa. A viagem de volta não teve graça, só um passageiro chato, e posso garantir que não era eu.

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