"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 25 de julho de 2010

Política Externa do Governo Lula

Política Externa: Debate e Balanço

O referencial para a avaliação da política externa brasileira é o conjunto de esforços do país, que possui identidade, prioridades e projeção internacional. A conclusão é de um balanço positivo. Da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) aos G20 comercial e financeiro, ao IBAS, ao exercício da liderança focada em temas sociais (fome, saúde, desenvolvimento) observa-se autonomia e equilíbrio. Fazendo uso dos termos norte-americanos, o Brasil exerce a diplomacia do “poder inteligente” (smart power). O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.

Cristina Soreanu Pecequilo (*)

Nos últimos anos, a solidez das relações internacionais brasileiras tornou-se evidente no cenário global. Dentre as iniciativas que representam este salto qualitativo encontram-se: a diversificação de parcerias Sul-Sul e Norte-Sul, a consolidação de coalizões de geometria variável como o G20 comercial e financeiro, o Fórum de Diálogo IBAS, o comando da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), a mediação de questões sensíveis referentes à proliferação nuclear (Irã) e instabilidades políticas (Honduras, América do Sul), o avanço das nações emergentes (Cúpula dos BRIC), além da ajuda e cooperação técnica a nações mais pobres.
A projeção em questões mundiais, e não somente nas relativas a um espaço ou tema como América do Sul e comércio, retomou uma tradição e patrimônio esvaziado na década anterior e tornou a política externa foco de debate. Estas discussões estenderam-se democraticamente à sociedade, demonstrando que a participação internacional resulta de um contexto político e econômico de estabilidade e recursos, somado ao amadurecimento do Brasil e sua população, que reconhece o país como potência, assim como cada vez mais o fazem outros Estados. Embora em diversas oportunidades este diálogo tenha ocorrido de forma construtiva, buscando elucidar os porquês de prioridades e movimentações, em outras o que se observou foi a crítica fácil.
Esta dinâmica demonstra-se em polarizações ideológicas, avaliações parciais e fabricação de crises que atribuem às escolhas brasileiras resultados como isolamento, perda de credibilidade, enfraquecimento e ausência de legitimidade. Observa-se em certos meios a prevalência de um balanço negativo destas experiências, comparadas a um falso positivo: os anos 1990 e sua postura minimalista. Mesmo quando houve continuidade, característica da política de Estado, apontou-se quebra que levou à suposta radicalização. Neste campo inserem-se a integração sul-americana, o pleito ao assento de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a defesa do sistema multilateral justo na Organização Mundial de Comércio (OMC), descontextualizados e avaliados como exercícios de poder. Vitórias em painéis da OMC contra o protecionismo norte-americano, como no caso do algodão, e o direito do Brasil retaliar os EUA foram apresentadas como agressões e não resultado de um julgamento legal no âmbito da organização.
A manifestação mais recente foi a alegação de que o PT possuiria envolvimento com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e que o Brasil apóia ditadores, visando benefícios comerciais e financeiros em detrimento da democracia. Em Honduras, porém, quando o país defendeu este princípio, apontaram enganos. Similar padrão fora aplicado a situações como as da Venezuela, Bolívia e Equador, existindo alegações de fraqueza ao lidar com o Paraguai sobre Itaipu. A participação turco-brasileira nas negociações referentes ao programa nuclear iraniano permanece alvo de controvérsia, assim como a intermediação nas conversações Israel-Palestina e a presença no Oriente Médio. Para os próximos dias, pode-se aguardar alegações de que o rompimento diplomático entre Venezuela e Colômbia foi resultado do apoio a Chavéz. Alternam-se acusações de excesso as de timidez, que revelam as motivações, a inconsistência e o fator conjuntural das críticas.
Com relação ao acordo nuclear, as diferenças de postura com os EUA trouxeram a tona novamente o tema do anti-americanismo, que surgira devido às posições diante da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e da Rodada Doha. Devido às divergências das agendas foi atribuída ao Brasil a paralisia de ambos. Todavia, guardadas as tradicionais elevações de retórica para defesa de interesses, em nenhum momento houve rompimento bilateral. Associou-se ao Brasil peso desproporcional na definição do fracasso e/ou sucesso de qualquer uma destas negociações, entendidas como via de mão única, quando muitos obstáculos residiam nos EUA.
Além de relegar o país a uma posição secundária, estas visões revelam uma incompreensão das fragmentações norte-americanas, seus mecanismos políticos-decisórios e do equilíbrio de poder mundial pós-Guerra Fria. Dentre as percepções equivocadas encontra-se a da unipolaridade, obscurecendo a ascensão político-econômica de potências regionais, emergentes ou desenvolvidas, gerando desconcentração de pólos. Estas avaliações subestimam o interesse norte-americano em dividir ônus com aliados que exerçam papel estabilizador em seus espaços regionais. Supõe-se forte unidade nos EUA, ignorando as disputas partidárias pela hegemonia interna e a permeabilidade aos grupos de interesse. O poder de determinados lobbies é elevado, afetando as ações do Executivo.
Isto não significa a eliminação de divergências ou que os EUA não buscariam conter os aliados (não esquecendo de iniciativas como a reativação da Quarta Frota no Atlântico Sul), mas demonstra uma recomposição de forças. Ao longo da história, como parte de sua cultura, a sociedade norte-americana não valoriza políticas de fraqueza, descarta os que não lhe oferecem nem riscos e nem oportunidades. A despeito do que fazem supor os ruídos, a relevância do Brasil somente aumentou e não diminuiu.
Mesmo conscientes que o exercício da justificação é parte da dominação, é fato que nos documentos oficiais os “novos centros de poder” ganharam espaço. A leitura da grande estratégia lançada em Maio pela administração Barack Obama, a NSS-2010, reconhece estas mudanças, algo que ocorre desde o final do governo George W. Bush. Pode ser este apenas um movimento defensivo e não propositivo? Certamente, mas é curioso observar afirmações como

segue em:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16817

Nenhum comentário: