A pesquisa Ibope do dia 30/07 mostra a candidata Dilma liderando no primeiro turno e vencendo o candidato Serra no segundo turno. Já antes de Dilma assumir a liderança já havia um consenso de que ela seria a favorita para vencer as eleições. Se nada mudar, se não houver nenhum evento grave, Dilma deve vencer as eleições. Quais seriam as consequências do ponto de vista dos partidos desta vitória?
1. Confirmada a tendência, os DEM irão encolher nos estados, no Senado, na Câmara dos Deputados, se José Serra for derrotado será um fracasso retumbante para os DEM. Não terão nenhum espaço político relevante, há que se considerar que tanto o Kassab na prefeitura, quanto a provável vitória de Cesar Maia no Rio independe do DEM. o resultado das eleições mostrariam duas coisas ao DEM, o fracasso do projeto de reforma do antigo PFL, e o fracasso da estrarégia histriônica fortemente antilula e antipetista. Nem o udenismo seira capaz de impulsionar o DEM. Portanto, o DEM ficaria reduzido a um partido pequeno e irrelevante com um grupo fortemente ideológico. Os quadros, que possuem mais preocupação com a viabilidade eleitoral do que com uma postura ideológica anti-PT, anti-Lula, deverão deixar o DEM para derir a outros partidos seja o PSDB, o PP, o PR, o PMDB.
2. O mesmo deve ocorrer com o PPS. De partido comunista para partido representativo de uma direita udenista, tradicional, clientelista, o PPS irá acabar como força nacional. É possível que Roberto Freire nem consiga se eleger deputado em São Paulo, trocou o do´micílio eleitoral de Pernambuco, onde não tinha viabilidade eleitoral, para São Paulo, onde espera se eleger graças ao PSDB, mas é pouco conhecido, entao pode perder. E o Raul Jungman certamente será derrotado na disputa pelo Senado em Pernambuco. Então o PPS pode ficar sem nenhum nome de projeção nacional no Congresso. Claro hoje o Itamar Franco está no PPS e deve ser eleito, mas é um peixe fora d’água e depois de eleito, duvido que fique muito tempo no PPS.
3. O PSDB se firmaria como o segundo pólo de poder poder no sistema partidário brasileiro. Mas sairia muito enfraquecido das eleições. Especialmente o PSDB paulista estaria em séria crise apesar da força no estado. Alckmin se mostrou uma liderança frágil fora de São Paulo, José Serra, uma liderança nacional duas vezes derrotado para presidência, certamente se afastaria da política, ou se manteria na periferia voltando a se candidatar a prefeito de São Paulo já que o Kassab não pdoerá ser candidato, mas o Serra enfrentaria a desconfiança do eleitor já que abandonou a prefeitura anteriormente. Não há nenhuma grande liderança surgindo em São Paulo que pudesse se projetar nacionalmente. A tendência do PSDB seria num primeiro momento radicalizar o discurso contra um possível governo Dilma, adotaria uma posição similar a do DEM, ou, para ficar dentro do PSDB, o PSDB de São Paulo adotaria uma posição extremista e histriônica como o senador Arthur Virgílio adotou no Senado. Muitos analistas políticos diriam que esta derrota do PSDB paulista abriria caminho para a consolidação da liderança nacional de Aécio. É possível, mas improvável no curto prazo, tudo irá depender do que o presidente Lula pretende fazer em 2014. Já se comenta que o Aécio Neves pretende ser presidente do Senado. Se isso ocorrer num governo Dilma, e com a perspectiva não da reeleição da Dilma, mas da volta do Lula em 2014, o Aécio vai cooperar com o governo mais do que o Renan Calheiros. Neste cenário, é provável que o PSDB paulista procure radicalizar a oposição, enquanto o PSDB ligado a Aécio procure um boa convivência com o governo, fazendo aquele oposição formal, uma denúncia aqui, outra ali, empacando alguma votação, mas sem confrontação aberta. Não haveria sentido em partir para o tudo o nada para Aécio que poderia escolher ser candidato contra o Lula apenas para ser conhecido nacionalmente já que teria mais oito anos no Senado ou voltar para o governo de Minas com tranquilidade. Ou seja, se ficar claro que o Lula pretende voltar em 2014, o PSDB deve se dividir em duas estratégias distintas. Caso o presidente Lula assuma algum cargo em organizações internacionais como foi especulado na imprensa, dependendo da improtância da função seria um indício que ele não pretende voltar em 2014 e que a Dilma seria candidata a reeleição. Aí teríamos um cenário diferente, um PSDB unido em torno de Aécio procurando fragilizar, desgastar o governo Dilma e o PT. Nestas condições seria uma tragédia para um governo Dilma ter Aécio Neves como presidente do Senado. O PMDB é um partido muito volúvel, uma parte importante do partido orbita em torno de lideranças externas à legenda e, com Aécio na presidência do Senado, esse comportamento seria maximizado. Nesse sentido, para o PSDB, o melhor cenário diante de uma derrota de Serra seria uma sinalização por parte do Lula que não será candidato em 2014 e que a Dilma poderá ser candidata a reeleição. No instável sistema político brasileira, diante de um governo que imagina-se tenha menos carisma que o governo Lula, haverá rapidamente um reposicionamento das forças políticas independentemente das alianças eleitorais atuais.
4. O PMDB é um partido singular, em nível nacional nunca perde. Fará parte do governo se a Dilma ganhar, e se a Dilma perder também. Mas no caso em análise, numa possível vitória de Dilma Rousseff, a situação do PMDB dependerá em primeiro lugar da bancada que conseguir eleger no Senado e na Câmara. Supondo que mantenha o peso atual, o PMDB terá forte influência no governo Dilma ainda mais com Michel Temer como vice. Especialmente porque o Michel Temer parece ter poderes especiais para concentrar poder mesmo quando parece numa posição mais fraca. Vejam o caso de São Paulo, quem comanda o PMDB paulista desde os anos 80 é o Quércia, inclusive o PMDB paulista apoio José Serra e não Michel Temer que é do PMDB de São Paulo. Então note que situação esdrúxula, o Michel Temer não consegue ser o líder do PMDB de São Paulo, mas é a principal liderança do PMDB nacional há anos. Assim não se deve duvidar da influência que ele terá no governo Dilma mesmo vice sendo fraco normalmente. Mas a questão fundamental no caso de uma vitória de Dilma nas eleições é, o PMDB será fiel no Congresso? A fidelidade do PMDB dependerá da perspectiva de tempo no poder. Consequentemente, se o Lula sinalizar um retorno, a perspectiva será longa e o cálculo do PMDB fará com que não faça exigências demais de imediato crendo que estará no governo durante longo tempo. Por outro lado, se o Lula tomar outro rumo, abandonar a política, ocupar um cargo no exterior, etc. mostrando que não pretende voltar ao poder, a fidelidade do PMDB variará diariamente de acordo com a popularidade e com os resultados do governo Dilma e evidentemente das manobras políticas recorrentes no interior do Congresso. Estas manobras terão maior capacidade de enfraquecer no Congresso o governo Dilma e forçar novas concessões ao PMDB se o Aécio Neves for presidente do Senado. De todo modo, o PMDB deve continuar sendo uma força política, mas um partido amorfo, sem idéias, ideologias e sem perspectiva de disputar o poder diretamente, continuará dependendo de outro força. E nesse sentido, caso a hegemonia do PT seja duradoura, por exemplo um governo Dilma, e depois Lula novamente, é provável que o PMDB se enfraqueça como força política como o DEM ao se associar por tanto tempo com o PSDB.
5. Uma vitória de Dilma Rousseff consolidará o PT como uma força política integrada ao establishment. E os setores mais a esquerda ainda existentes se tornarão cada vez mais pragmáticos e com propostas que não comprometam a viabilidade eleitoral. Caso ainda haja resistentes acabarão por deixar o partido. Veremos que há uma abertura no sistema político brasileiro num próximo item. Contraditoriamente a vitória de Dilma pode acentuar um problema já crônica, a ausência de novas lideranças com projeção nacional no PT. A Dilma foi escolhida por Lula, não tinha qualquer liderança dentro do PT e ganhou poder no interior do governo também pela ação do Lula. Dilma não é uma liderança natural, não mobiliza as forças políticas e na presidência dificilmente o fará. É provável que em termos de liderança na presidência, a Dilma se assemelhe mais ao FHC do que ao Lula. Dependerá mais da articulação dos líderes no Congresso do que de sua própria ação. Também é pouco provável que Dilma tenha o apoio e o apelo popular que o Lula teve. Neste sentido, tudo caminha para a manutenção do Lula como o grande líder e o ponto de convergência do PT. A dependência do PT em relação ao Lula deve aumentar não diminuir. Esta situação se acentua porque nos estados não estão despontados lideranças petistas que possam se projetar nacionalmente. O desempenho de Mercadante até agora nas eleições paulistas é vergonhso, deve perder e ficar sem mandato. Aí nas eleições municipais irá disputar com a Marta quem será o candidato a prefeito. Fora de São Paulo, aparentemente despontava lideranças em Minas que foram abafadas pela coligação forçada com o PMDB. Eventualmente, dependendo da posição que o Fernando Pimentel (que não será eleito, devem se eleger Aécio e Itamar por ampla margem) ocupe no governo Dilma pode se projetar nacionalmente, mas novamente seria um processo tortuoso, não consegue vencer o Aécio em Minas e pleitear ser candidato a presidente, por exemplo, contra o Aécio. Mas enfim, nestes eleições não parece emergir nos estados nenhuma liderança que possa se projetar nacionalmente para ser liderança nacional. Caso vença as eleições o Tarso Genro pode se aproximar disso, mas considero improvável. A polarização política no RS é muito grande e por melhor que o governo seja a aprovação será sempre limitada, o governo será sempre muito questionado, discutido não dando base para um projeto nacional. A vitória de Dilma diante das alianças e estratégias adotadas farão com que o PT continue sendo Lula.
6. Mantida a hegemonia do PT em nível nacional, partidos como PSB, PDT, PP, PR, PTB, PCdoB, se tornarão cada mais indiferenciados. Em alguns estados, alguns membros procurarão manter o discurso tradicionald e cada um, mas no fim a ação será pragmática, numa adesão incondicional (em termos ideológicos) ao governo do PT no plano federal. É provável que haja mais fusões entre partidos. Quem imaginaria há alguns anos, o PP apoiando o PT? O Francisco Dornelles anunciando o apoio não oficial à Dilma? Ou ainda todos deputados do PTB indo atrás da Dilma para apoiá-la e o PTB não apoiando formalmente apenas por causa do presidente da legenda, Roberto Jeferson, praticamente um obstáculo meramente burocrático? O PSB seria o partico com maior perspectiva, mas a forma como abortou a candidatura Ciro Gomes parece indicar um caminho similar ao DEM, abandono de quaqluer projeto de poder em âmbito nacional. Com a guinada do PT à direita, já não há diferença entre PT e PSB. Então acabamos num vazio ideológico. O PDT sem o Brizola acabou, se o sistema partidário brasileiro caminhar mesmo para a polarização deve acabar. o PC do B seria um partido ideológico, com posições, mas também é falso. A aliança com o PT já está sempre pré-aprovada, o PT caminho para a direita e o PC do B não colocou obstáculos, não travou o processo, foi junto apesar de manter um discurso mais radical. Mas curiosamente não é um discurso radical não é mais um radicalismo de esquerda-marxista, mas um radicalismo nacionalista. Neste sentido, o PCdoB mudou a sua ideologia mas por um caminho diverso do PT. De todo modo, esta postura nacionalista do PCdoB não suporta um projeto nacional de poder, coloca-se apenas como linha auxiliar do PT. O partido carece de lideranças nacionais.
7. O PV, no Brasil, não é um partido ambientalista como na Europa, com um projeto universal. Em termos nacionais mantém este discurso, mas em nível local é mais do mesmo, não é sequer um fator de difusão de uma consciência ambiental nos estados e municípios. Falta ao partido lideranças nacionais, e aí agora usou a estratégia da UD, como a UDN foi atrás de Jânio quadros para ganhar uma eleição, o PV foi atrás da Marina Silva para ter alguma projeção nacional. Mas fora o discurso ambiental não há relação entre o PV e a Marina. Se a Marina Silva pretende insistir em ser uma lidenraça nacional e disputar o poder, ela deixará o PV após as eleições de outubro. O PV é um partido de lideranças locais, e estas ldieranças já estão vinculadas a outros projetos de poder, PSDB, PT ou outro. É uma evrgonha, por exemplo, para um partido que supostamente tem uma candidata disputando a presidência da República a situação no Rio de Janeiro, onde o Fernando Gabeira é mais aliado do PSDB e do Serra do que da Marina.
8. Por fim, temos a extrema esquerda representada pelo PSOL, PSTU, PCO, etc. Fora o PSOL que ainda tem alguma representatividade, os demais são insignificantes em termos eleitorais. Há frações do PSOL que poderiam crescer eleitoralmente, mas o partido é fracionado em várias tendências como o antigo PT (claro o PT ainda têm tendências, mas na prática são irrelevantes, o que dita a posição do partido é viabilidade eleitoral). Padece de um antigo problema da esquerda marxista brasileira, não estabelece vínculos com o povo brasileiro nem que seja para mudá-lo, vive num mundo a parte.
9. Neste quadro partidário, há a formação de dois pólos, um em torno do PT e outro em torno do PSDB. Ainda que vários analistas políticos na grande imprensa insistam que o caminho seria a aproximação entre o PT e o PSDB para que pudessem se livrar dos aliados mais fisiológicos, isso não irá acontecer. A proximidade que buscam entre o PT e o PSDB no passado deve-se mais a emoção, aos sentimentos que o analista nutre ou nutria por membros das duas legendas, ou pela interpretação pessoal do analista sobre a atuação dos dois aprtidos do que propriamente por uma convergência de propostas para o Brasil. Hoje há uma grande convergência, mas é um convergência inconciliável, porque os dois partidos almejam a mesma coisa o poder, e a convergência ocorreu por isso. A convergência não surgiu de uma análise e definição de propostas para o Brasil. Ao contrário, os dois querem ganhar as eleições, e procuram incorporar as propostas e ações que mostraram dar viabilidade eleitoral ao concorrente. Claro que há diferenças acidentais entre os dois partidos no governo, mas são acidentais, dependem da conjuntura internacional, do momento político e econômico interno, etc. Do mesmo modo que há diferenças entre Republicanos e Democratas nos EUA hoje há diferenças entre o PT e o PSDB, não cabe esperar qualquer ruptura entre um governo e outro. Houve um esvaziamento ideológico, uma adesão ao pragmatismo, uma aceitação do possível, evita-se confrontar e resolver os grandes problemas brasileiros, procura-se contorná-los sem resolver. por exemplo, a política social do governo Lula faz mudanças significativas na estrutura social brasileira, mas e se amanhã o governo não tiver condições de aumentar os recursos para a política social? E se a economia entrar em recessão (é bom lembrar que recessões são intrínsecas às economias capitalistas, é bom os petistas ex-marxistas relembrarem disso, o Lula não tem o poder de abolir a dinâmica econômica)? Enfim, das transformações sócio-econômicas do governo lula ainda preciso um teste para verificar o que é definitivo e o que é apenas conjutural. Ora estas opções são muito pobres, abole por completo o ideal de uma nova sociedade, de um Brasil estruturalmente distinto, com uma sociedade coesa, integrada com maior nível de renda, educação, com maior capacidade de se auto-sustentar e autodeterminar. Neste quadro cabe perfeitamente, não uma terceira via, mas um terceiro partido que apresente uma proposta política mais à esquerda, um partido mais utópico em suas propostas e ações, mas pragmático na luta pelo poder, que não seja apenas um partido para ser apenas a consciência crítica do país. Mas num primeiro momento, ele deveria ser exatamente isso, um papel que de certo modo o PT desempenhou em alguns momentos quando estava na oposição, criticar para mostrar que é preciso fazer mais, propor políticas alternativas ousadas especialmente vinculadas com o comprometimento do cidadão com os rumos do país. Neste plano, este partido deveria adotar uma idéia do PMDB (obviamente neste caso é só discurso, não resulta em nada) que é o fortalecimento do município, mas não das instituições políticas municipais, mas da participação política do cidadão no município, fazer do município uma arena de educação política e de responsabilidade cidadã, de compromisso com o outro, com todos os brasileiros. Das lideranças atuais, caberia uma Heloísa Helena e uma Marina Silva num terceiro partido que desempenhasse esse papel de disputar o poder e ser a consciência crítica do país sem se deixar envolver pelas questiúnculas que tomam conta das instituições brasileiras diariamente e que dominam os discursos políticos e eleitorais.