"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 31 de julho de 2010

Exercício de futurologia eleitoral: os partidos diante de uma vitória de Dilma

A pesquisa Ibope do dia 30/07 mostra a candidata Dilma liderando no primeiro turno e vencendo o candidato Serra no segundo turno. Já antes de Dilma assumir a liderança já havia um consenso de que ela seria a favorita para vencer as eleições. Se nada mudar, se não houver nenhum evento grave, Dilma deve vencer as eleições. Quais seriam as consequências do ponto de vista dos partidos desta vitória?

1. Confirmada a tendência, os DEM irão encolher nos estados, no Senado, na Câmara dos Deputados, se José Serra for derrotado será um fracasso retumbante para os DEM. Não terão nenhum espaço político relevante, há que se considerar que tanto o Kassab na prefeitura, quanto a provável vitória de Cesar Maia no Rio independe do DEM. o resultado das eleições mostrariam duas coisas ao DEM, o fracasso do projeto de reforma do antigo PFL, e o fracasso da estrarégia histriônica fortemente antilula e antipetista. Nem o udenismo seira capaz de impulsionar o DEM. Portanto, o DEM ficaria reduzido a um partido pequeno e irrelevante com um grupo fortemente ideológico. Os quadros, que possuem mais preocupação com a viabilidade eleitoral do que com uma postura ideológica anti-PT, anti-Lula, deverão deixar o DEM para derir a outros partidos seja o PSDB, o PP, o PR, o PMDB.

2. O mesmo deve ocorrer com o PPS. De partido comunista para partido representativo de uma direita udenista, tradicional, clientelista, o PPS irá acabar como força nacional. É possível que Roberto Freire nem consiga se eleger deputado em São Paulo, trocou o do´micílio eleitoral de Pernambuco, onde não tinha viabilidade eleitoral, para São Paulo, onde espera se eleger graças ao PSDB, mas é pouco conhecido, entao pode perder. E o Raul Jungman certamente será derrotado na disputa pelo Senado em Pernambuco. Então o PPS pode ficar sem nenhum nome de projeção nacional no Congresso. Claro hoje o Itamar Franco está no PPS e deve ser eleito, mas é um peixe fora d’água e depois de eleito, duvido que fique muito tempo no PPS.

3. O PSDB se firmaria como o segundo pólo de poder poder no sistema partidário brasileiro. Mas sairia muito enfraquecido das eleições. Especialmente o PSDB paulista estaria em séria crise apesar da força no estado. Alckmin se mostrou uma liderança frágil fora de São Paulo, José Serra, uma liderança nacional duas vezes derrotado para presidência, certamente se afastaria da política, ou se manteria na periferia voltando a se candidatar a prefeito de São Paulo já que o Kassab não pdoerá ser candidato, mas o Serra enfrentaria a desconfiança do eleitor já que abandonou a prefeitura anteriormente. Não há nenhuma grande liderança surgindo em São Paulo que pudesse se projetar nacionalmente. A tendência do PSDB seria num primeiro momento radicalizar o discurso contra um possível governo Dilma, adotaria uma posição similar a do DEM, ou, para ficar dentro do PSDB, o PSDB de São Paulo adotaria uma posição extremista e histriônica como o senador Arthur Virgílio adotou no Senado. Muitos analistas políticos diriam que esta derrota do PSDB paulista abriria caminho para a consolidação da liderança nacional de Aécio. É possível, mas improvável no curto prazo, tudo irá depender do que o presidente Lula pretende fazer em 2014. Já se comenta que o Aécio Neves pretende ser presidente do Senado. Se isso ocorrer num governo Dilma, e com a perspectiva não da reeleição da Dilma, mas da volta do Lula em 2014, o Aécio vai cooperar com o governo mais do que o Renan Calheiros. Neste cenário, é provável que o PSDB paulista procure radicalizar a oposição, enquanto o PSDB ligado a Aécio procure um boa convivência com o governo, fazendo aquele oposição formal, uma denúncia aqui, outra ali, empacando alguma votação, mas sem confrontação aberta. Não haveria sentido em partir para o tudo o nada para Aécio que poderia escolher ser candidato contra o Lula apenas para ser conhecido nacionalmente já que teria mais oito anos no Senado ou voltar para o governo de Minas com tranquilidade. Ou seja, se ficar claro que o Lula pretende voltar em 2014, o PSDB deve se dividir em duas estratégias distintas. Caso o presidente Lula assuma algum cargo em organizações internacionais como foi especulado na imprensa, dependendo da improtância da função seria um indício que ele não pretende voltar em 2014 e que a Dilma seria candidata a reeleição. Aí teríamos um cenário diferente, um PSDB unido em torno de Aécio procurando fragilizar, desgastar o governo Dilma e o PT. Nestas condições seria uma tragédia para um governo Dilma ter Aécio Neves como presidente do Senado. O PMDB é um partido muito volúvel, uma parte importante do partido orbita em torno de lideranças externas à legenda e, com Aécio na presidência do Senado, esse comportamento seria maximizado. Nesse sentido, para o PSDB, o melhor cenário diante de uma derrota de Serra seria uma sinalização por parte do Lula que não será candidato em 2014 e que a Dilma poderá ser candidata a reeleição. No instável sistema político brasileira, diante de um governo que imagina-se tenha menos carisma que o governo Lula, haverá rapidamente um reposicionamento das forças políticas independentemente das alianças eleitorais atuais.

4. O PMDB é um partido singular, em nível nacional nunca perde. Fará parte do governo se a Dilma ganhar, e se a Dilma perder também. Mas no caso em análise, numa possível vitória de Dilma Rousseff, a situação do PMDB dependerá em primeiro lugar da bancada que conseguir eleger no Senado e na Câmara. Supondo que mantenha o peso atual, o PMDB terá forte influência no governo Dilma ainda mais com Michel Temer como vice. Especialmente porque o Michel Temer parece ter poderes especiais para concentrar poder mesmo quando parece numa posição mais fraca. Vejam o caso de São Paulo, quem comanda o PMDB paulista desde os anos 80 é o Quércia, inclusive o PMDB paulista apoio José Serra e não Michel Temer que é do PMDB de São Paulo. Então note que situação esdrúxula, o Michel Temer não consegue ser o líder do PMDB de São Paulo, mas é a principal liderança do PMDB nacional há anos. Assim não se deve duvidar da influência que ele terá no governo Dilma mesmo vice sendo fraco normalmente. Mas a questão fundamental no caso de uma vitória de Dilma nas eleições é, o PMDB será fiel no Congresso? A fidelidade do PMDB dependerá da perspectiva de tempo no poder. Consequentemente, se o Lula sinalizar um retorno, a perspectiva será longa e o cálculo do PMDB fará com que não faça exigências demais de imediato crendo que estará no governo durante longo tempo. Por outro lado, se o Lula tomar outro rumo, abandonar a política, ocupar um cargo no exterior, etc. mostrando que não pretende voltar ao poder, a fidelidade do PMDB variará diariamente de acordo com a popularidade e com os resultados do governo Dilma e evidentemente das manobras políticas recorrentes no interior do Congresso. Estas manobras terão maior capacidade de enfraquecer no Congresso o governo Dilma e forçar novas concessões ao PMDB se o Aécio Neves for presidente do Senado. De todo modo, o PMDB deve continuar sendo uma força política, mas um partido amorfo, sem idéias, ideologias e sem perspectiva de disputar o poder diretamente, continuará dependendo de outro força. E nesse sentido, caso a hegemonia do PT seja duradoura, por exemplo um governo Dilma, e depois Lula novamente, é provável que o PMDB se enfraqueça como força política como o DEM ao se associar por tanto tempo com o PSDB.

5. Uma vitória de Dilma Rousseff consolidará o PT como uma força política integrada ao establishment. E os setores mais a esquerda ainda existentes se tornarão cada vez mais pragmáticos e com propostas que não comprometam a viabilidade eleitoral. Caso ainda haja resistentes acabarão por deixar o partido. Veremos que há uma abertura no sistema político brasileiro num próximo item. Contraditoriamente a vitória de Dilma pode acentuar um problema já crônica, a ausência de novas lideranças com projeção nacional no PT. A Dilma foi escolhida por Lula, não tinha qualquer liderança dentro do PT e ganhou  poder no interior do governo também pela ação do Lula. Dilma não é uma liderança natural, não mobiliza as forças políticas e na presidência dificilmente o fará. É provável que em termos de liderança na presidência, a Dilma se assemelhe mais ao FHC do que ao Lula. Dependerá mais da articulação dos líderes no Congresso do que de sua própria ação. Também é pouco provável que Dilma tenha o apoio e o apelo popular que o Lula teve. Neste sentido, tudo caminha para a manutenção do Lula como o grande líder e o ponto de convergência do PT. A dependência do PT em relação ao Lula deve aumentar não diminuir. Esta situação se acentua porque nos estados não estão despontados lideranças petistas que possam se projetar nacionalmente. O desempenho de Mercadante até agora nas eleições paulistas é vergonhso, deve perder e ficar sem mandato. Aí nas eleições municipais irá disputar com a Marta quem será o candidato a prefeito. Fora de São Paulo, aparentemente despontava lideranças em Minas que foram abafadas pela coligação forçada com o PMDB. Eventualmente, dependendo da posição que o Fernando Pimentel (que não será eleito, devem se eleger Aécio e Itamar por ampla margem) ocupe no governo Dilma pode se projetar nacionalmente, mas novamente seria um processo tortuoso, não consegue vencer o Aécio em Minas e pleitear ser candidato a presidente, por exemplo, contra o Aécio. Mas enfim, nestes eleições não parece emergir nos estados nenhuma liderança que possa se projetar nacionalmente para ser liderança nacional. Caso vença as eleições o Tarso Genro pode se aproximar disso, mas considero improvável. A polarização política no RS é muito grande e por melhor que o governo seja a aprovação será sempre limitada, o governo será sempre muito questionado, discutido não dando base para um projeto nacional. A vitória de Dilma diante das alianças e estratégias adotadas farão com que o PT continue sendo Lula.

6. Mantida a hegemonia do PT em nível nacional, partidos como PSB, PDT, PP, PR, PTB, PCdoB, se tornarão cada mais indiferenciados. Em alguns estados, alguns membros procurarão manter o discurso tradicionald e cada um, mas no fim a ação será pragmática, numa adesão incondicional (em termos ideológicos) ao governo do PT no plano federal. É provável que haja mais fusões entre partidos. Quem imaginaria há alguns anos, o PP apoiando o PT? O Francisco Dornelles anunciando o apoio não oficial à Dilma? Ou ainda todos deputados do PTB indo atrás da Dilma para apoiá-la e o PTB não apoiando formalmente apenas por causa do presidente da legenda, Roberto Jeferson, praticamente um obstáculo meramente burocrático? O PSB seria o partico com maior perspectiva, mas a forma como abortou a candidatura Ciro Gomes parece indicar um caminho similar ao DEM, abandono de quaqluer projeto de poder em âmbito nacional. Com a guinada do PT à direita, já não há diferença entre PT e PSB. Então acabamos num vazio ideológico. O PDT sem o Brizola acabou, se o sistema partidário brasileiro caminhar mesmo para a polarização deve acabar. o PC do B seria um partido ideológico, com posições, mas também é falso. A aliança com o PT já está sempre pré-aprovada, o PT caminho para a direita e o PC do B não colocou obstáculos, não travou o processo, foi junto apesar de manter um discurso mais radical. Mas curiosamente não é um discurso radical não é mais um radicalismo de esquerda-marxista, mas um radicalismo nacionalista. Neste sentido, o PCdoB mudou a sua ideologia mas por um caminho diverso do PT. De todo modo, esta postura nacionalista do PCdoB não suporta um projeto nacional de poder, coloca-se apenas como linha auxiliar do PT. O partido carece de lideranças nacionais.

7. O PV, no Brasil, não é um partido ambientalista como na Europa, com um projeto universal. Em termos nacionais mantém este discurso, mas em nível local é mais do mesmo, não é sequer um fator de difusão de uma consciência ambiental nos estados e municípios. Falta ao partido lideranças nacionais, e aí agora usou a estratégia da UD, como a UDN foi atrás de Jânio quadros para ganhar uma eleição, o PV foi atrás da Marina Silva para ter alguma projeção nacional. Mas fora o discurso ambiental não há relação entre o PV e a Marina. Se a Marina Silva pretende insistir em ser uma lidenraça nacional e disputar o poder, ela deixará o PV após as eleições de outubro. O PV é um partido de lideranças locais, e estas ldieranças já estão vinculadas a outros projetos de poder, PSDB, PT ou outro. É uma evrgonha, por exemplo, para um partido que supostamente tem uma candidata disputando a presidência da República a situação no Rio de Janeiro, onde o Fernando Gabeira é mais aliado do PSDB e do Serra do que da Marina.

8. Por fim, temos a extrema esquerda representada pelo PSOL, PSTU, PCO, etc. Fora o PSOL que ainda tem alguma representatividade, os demais são insignificantes em termos eleitorais. Há frações do PSOL que poderiam crescer eleitoralmente, mas o partido é fracionado em várias tendências como o antigo PT (claro o PT ainda têm tendências, mas na prática são irrelevantes, o que dita a posição do partido é viabilidade eleitoral). Padece de um antigo problema da esquerda marxista brasileira, não estabelece vínculos com o povo brasileiro nem que seja para mudá-lo, vive num mundo a parte.

9. Neste quadro partidário, há a formação de dois pólos, um em torno do PT e outro em torno do PSDB. Ainda que vários analistas políticos na grande imprensa insistam que o caminho seria a aproximação entre o PT e o PSDB para que pudessem se livrar dos aliados mais fisiológicos, isso não irá acontecer. A proximidade que buscam entre o PT e o PSDB no passado deve-se mais a emoção, aos sentimentos que o analista nutre ou nutria por membros das duas legendas, ou pela interpretação pessoal do analista sobre a atuação dos dois aprtidos do que propriamente por uma convergência de propostas para o Brasil. Hoje há uma grande convergência, mas é um convergência inconciliável, porque os dois partidos almejam a mesma coisa o poder, e a convergência ocorreu por isso. A convergência não surgiu de uma análise e definição de propostas para o Brasil. Ao contrário, os dois querem ganhar as eleições, e procuram incorporar as propostas e ações que mostraram dar viabilidade eleitoral ao concorrente. Claro que há diferenças acidentais entre os dois partidos no governo, mas são acidentais, dependem da conjuntura internacional, do momento político e econômico interno, etc. Do mesmo modo que há diferenças entre Republicanos e Democratas nos EUA hoje há diferenças entre o PT e o PSDB, não cabe esperar qualquer ruptura entre um governo e outro. Houve um esvaziamento ideológico, uma adesão ao pragmatismo, uma aceitação do possível, evita-se confrontar e resolver os grandes problemas brasileiros, procura-se contorná-los sem resolver. por exemplo, a política social do governo Lula faz mudanças significativas na estrutura social brasileira, mas e se amanhã o governo não tiver condições de aumentar os recursos para a política social? E se a economia entrar em recessão (é bom lembrar que recessões são intrínsecas às economias capitalistas, é bom os petistas ex-marxistas relembrarem disso, o Lula não tem o poder de abolir a dinâmica econômica)? Enfim, das transformações sócio-econômicas do governo lula ainda preciso um teste para verificar o que é definitivo e o que é apenas conjutural. Ora estas opções são muito pobres, abole por completo o ideal de uma nova sociedade, de um Brasil estruturalmente distinto, com uma sociedade coesa, integrada com maior nível de renda, educação, com maior capacidade de se auto-sustentar e autodeterminar. Neste quadro cabe perfeitamente, não uma terceira via, mas um terceiro partido que apresente uma proposta política mais à esquerda, um partido mais utópico em suas propostas e ações, mas pragmático na luta pelo poder, que não seja apenas um partido para ser apenas a consciência crítica do país. Mas num primeiro momento, ele deveria ser exatamente isso, um papel que de certo modo o PT desempenhou em alguns momentos quando estava na oposição, criticar para mostrar que é preciso fazer mais, propor políticas alternativas ousadas especialmente vinculadas com o comprometimento do cidadão com os rumos do país. Neste plano, este partido deveria adotar uma idéia do PMDB (obviamente neste caso é só discurso, não resulta em nada) que é o fortalecimento do município, mas não das instituições políticas municipais, mas da participação política do cidadão no município, fazer do município uma arena de educação política e de responsabilidade cidadã, de compromisso com o outro, com todos os brasileiros. Das lideranças atuais, caberia uma Heloísa Helena e uma Marina Silva num terceiro partido que desempenhasse esse papel de disputar o poder e ser a consciência crítica do país sem se deixar envolver pelas questiúnculas que tomam conta das instituições brasileiras diariamente e que dominam os discursos políticos e eleitorais.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Veríssimo sobre economistas e imprensa brasileira

‘Camone’

 

Não deixa de ser irônico que o analista econômico mais à esquerda — se é que cabe o termo — da grande imprensa brasileira seja um americano. Paul Krugman é publicado no Brasil porque ganhou um Nobel e escreve bem, mas está na contramão do pensamento econômico dominante do seu país, que é a opinião dominante por aqui também.

Critica o monetarismo clássico, os preceitos da escola de Chicago e os mitos do mercado autorregulador e ultimamente tem batido muito na opção da União Europeia de vencer sua crise atual com medidas de austeridade e cortes em gastos públicos — segundo ele um exemplo da velha prática perversa de fazer os pobres pagarem pelas lambanças dos ricos.

Krugman defende a ação dos governos para estimular economias e desobediência a todas as receitas de autoflagelação vendidas aos pobres como "responsabilidade fiscal" e sacrifício depurador. Quer dizer, é um estranho em dois mundos, o dos economistas ortodoxos americanos que ainda ditam a política do país, mesmo no governo do Baraca, e o dos economistas locais que seguem a linha americana. Sem falar na estranheza de vê-lo publicado nos nossos principais jornais conservadores, no que também pode ser visto como uma admirável demonstração de pluralismo de enfoques.

Mas me lembrei de quando eu era guri e brincava de "mocinho", ou caubói, com outros garotos da vizinhança, todos com reluzentes revólveres de espoleta metidos em seus coldres, até os sacarmos para matar bandidos ou índios. Eu tinha morado nos Estados Unidos e sabia inglês, mas o máximo que os outros sabiam era enrolar a língua e fingir que falavam como nos filmes. Seu vocabulário era "Camone" e pouco mais, mas não importava. Nos comunicávamos naquele inglês imaginário, e vivíamos juntos a glória de ser americanos. Ninguém tinha a pontaria de um americano. Ninguém brigava a socos e saía da briga sem uma marca no rosto como um americano.

Um americano era perfeito. Um americano podia tudo. Depois, claro, crescemos e descobrimos que nem todo americano era "mocinho". Mas daquele tempo ficou a ideia inconsciente de que ser americano é credencial suficiente, de que basta dizer "camone" para dispensar qualquer outro tipo de aferição.

O que tudo isto tem a ver com o Paul Krugman? Talvez o fato de ser americano tenha facilitado sua entrada nas páginas econômicas sem que checassem suas convicções. Tudo teria a ver com a infância de todos nós.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/07/29/camone-311986.asp

domingo, 25 de julho de 2010

Política Externa do Governo Lula

Política Externa: Debate e Balanço

O referencial para a avaliação da política externa brasileira é o conjunto de esforços do país, que possui identidade, prioridades e projeção internacional. A conclusão é de um balanço positivo. Da UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) aos G20 comercial e financeiro, ao IBAS, ao exercício da liderança focada em temas sociais (fome, saúde, desenvolvimento) observa-se autonomia e equilíbrio. Fazendo uso dos termos norte-americanos, o Brasil exerce a diplomacia do “poder inteligente” (smart power). O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.

Cristina Soreanu Pecequilo (*)

Nos últimos anos, a solidez das relações internacionais brasileiras tornou-se evidente no cenário global. Dentre as iniciativas que representam este salto qualitativo encontram-se: a diversificação de parcerias Sul-Sul e Norte-Sul, a consolidação de coalizões de geometria variável como o G20 comercial e financeiro, o Fórum de Diálogo IBAS, o comando da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH), a mediação de questões sensíveis referentes à proliferação nuclear (Irã) e instabilidades políticas (Honduras, América do Sul), o avanço das nações emergentes (Cúpula dos BRIC), além da ajuda e cooperação técnica a nações mais pobres.
A projeção em questões mundiais, e não somente nas relativas a um espaço ou tema como América do Sul e comércio, retomou uma tradição e patrimônio esvaziado na década anterior e tornou a política externa foco de debate. Estas discussões estenderam-se democraticamente à sociedade, demonstrando que a participação internacional resulta de um contexto político e econômico de estabilidade e recursos, somado ao amadurecimento do Brasil e sua população, que reconhece o país como potência, assim como cada vez mais o fazem outros Estados. Embora em diversas oportunidades este diálogo tenha ocorrido de forma construtiva, buscando elucidar os porquês de prioridades e movimentações, em outras o que se observou foi a crítica fácil.
Esta dinâmica demonstra-se em polarizações ideológicas, avaliações parciais e fabricação de crises que atribuem às escolhas brasileiras resultados como isolamento, perda de credibilidade, enfraquecimento e ausência de legitimidade. Observa-se em certos meios a prevalência de um balanço negativo destas experiências, comparadas a um falso positivo: os anos 1990 e sua postura minimalista. Mesmo quando houve continuidade, característica da política de Estado, apontou-se quebra que levou à suposta radicalização. Neste campo inserem-se a integração sul-americana, o pleito ao assento de membro permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a defesa do sistema multilateral justo na Organização Mundial de Comércio (OMC), descontextualizados e avaliados como exercícios de poder. Vitórias em painéis da OMC contra o protecionismo norte-americano, como no caso do algodão, e o direito do Brasil retaliar os EUA foram apresentadas como agressões e não resultado de um julgamento legal no âmbito da organização.
A manifestação mais recente foi a alegação de que o PT possuiria envolvimento com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e que o Brasil apóia ditadores, visando benefícios comerciais e financeiros em detrimento da democracia. Em Honduras, porém, quando o país defendeu este princípio, apontaram enganos. Similar padrão fora aplicado a situações como as da Venezuela, Bolívia e Equador, existindo alegações de fraqueza ao lidar com o Paraguai sobre Itaipu. A participação turco-brasileira nas negociações referentes ao programa nuclear iraniano permanece alvo de controvérsia, assim como a intermediação nas conversações Israel-Palestina e a presença no Oriente Médio. Para os próximos dias, pode-se aguardar alegações de que o rompimento diplomático entre Venezuela e Colômbia foi resultado do apoio a Chavéz. Alternam-se acusações de excesso as de timidez, que revelam as motivações, a inconsistência e o fator conjuntural das críticas.
Com relação ao acordo nuclear, as diferenças de postura com os EUA trouxeram a tona novamente o tema do anti-americanismo, que surgira devido às posições diante da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e da Rodada Doha. Devido às divergências das agendas foi atribuída ao Brasil a paralisia de ambos. Todavia, guardadas as tradicionais elevações de retórica para defesa de interesses, em nenhum momento houve rompimento bilateral. Associou-se ao Brasil peso desproporcional na definição do fracasso e/ou sucesso de qualquer uma destas negociações, entendidas como via de mão única, quando muitos obstáculos residiam nos EUA.
Além de relegar o país a uma posição secundária, estas visões revelam uma incompreensão das fragmentações norte-americanas, seus mecanismos políticos-decisórios e do equilíbrio de poder mundial pós-Guerra Fria. Dentre as percepções equivocadas encontra-se a da unipolaridade, obscurecendo a ascensão político-econômica de potências regionais, emergentes ou desenvolvidas, gerando desconcentração de pólos. Estas avaliações subestimam o interesse norte-americano em dividir ônus com aliados que exerçam papel estabilizador em seus espaços regionais. Supõe-se forte unidade nos EUA, ignorando as disputas partidárias pela hegemonia interna e a permeabilidade aos grupos de interesse. O poder de determinados lobbies é elevado, afetando as ações do Executivo.
Isto não significa a eliminação de divergências ou que os EUA não buscariam conter os aliados (não esquecendo de iniciativas como a reativação da Quarta Frota no Atlântico Sul), mas demonstra uma recomposição de forças. Ao longo da história, como parte de sua cultura, a sociedade norte-americana não valoriza políticas de fraqueza, descarta os que não lhe oferecem nem riscos e nem oportunidades. A despeito do que fazem supor os ruídos, a relevância do Brasil somente aumentou e não diminuiu.
Mesmo conscientes que o exercício da justificação é parte da dominação, é fato que nos documentos oficiais os “novos centros de poder” ganharam espaço. A leitura da grande estratégia lançada em Maio pela administração Barack Obama, a NSS-2010, reconhece estas mudanças, algo que ocorre desde o final do governo George W. Bush. Pode ser este apenas um movimento defensivo e não propositivo? Certamente, mas é curioso observar afirmações como

segue em:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16817

Governo Lula e as eleições

Almocei neste sábado com dois amigos da época da graduação em rel em Brasília. Agora os dois trabalham no setor privado em São Paulo.Um deles sempre gostou de política e até teve alguma pretensão política. Agora não. Obviamente nenhum dos dois nunca foi petista e nem simpatizante da esquerda. Muito ao contrário, até filiado ao DEM um deles foi. Claro que provoquei o anti-petismo dos dois, porque o anit-petismo radical sempre é divertido de se ver sendo manifestado. E aí um deles disse, “independente do motivo tenho que reconhecer que o governo Lula foi melhor que o governo Fernando Henrique e que minha vida melhorou no governo Lula”. E qual a conseqüência disso para o voto? Nenhuma, ele não irá votar na Dilma e no PT. Eles não irão votar no PT e na Dilma.

E aí reside uma diferença nas estratégias de campanha de Serra e Dilma. O PT reconhece que há um segmento significativo, nos setores de alta renda e classes médias, que são radicalmente antipetistas e não votarão no PT por melhor que sejam os resultados do governo. Esta rejeição ao governo pode se aproveitar de qualquer coisa para justificar a postura, pode usar tanto a corrupção (ainda que digam que em todos há corrupção, dirão que o aparelhamento no governo do PT é maior), quanto o radicalismo (por exemplo, o PNDH ou a discussão sobre o controle social da mídia, ou a reforma agrária, etc.). A campanha do PT não se interessa por estes setores, sabe que não irá seduzi-los. Ou melhor o PT tem apena sum interesse nesse segmento, pelos menos no que se refere aos setores de alta renda, quer doações de campanha. Os grandes empresários, independentemente da posição política acabam por fornecer recursos a vários candidatos e mais ainda para o candidato que vair ganhar mesmo rejeitando profundamente o candidato, ao PT interessa as doações de campanha e isso não ocorre por razões ideológicas. Veja o caso de Paulo Skaf, candidato a governador de São Paulo, as notícias dão conta que ele não está conseguindo captar os recursos necessários para viabilizar a campanha, por quê? Porque não mostra viabilidade eleitoral, não irá vencer.

Este eleitorado anti-PT é voto certo em José Serra independentemente do que ele faça. E o que tem feito a camapnha do Serra até agora? feito campanha para este segmento. A tentativa de difundir medo sobre a Dilma, explorar seu passado, falar que ela não controlorá os radicais do PT sentsibiliza os antipetistas, meus amigos são sensíveis a este discurso! Mas atnge alguém fora deste eleitorado cativo do PSDB? Já atingiu, hoje não. No final dos anos 80 e nos anos 90, havia condições de difundir o medo nos setores de classe média cenrista e setores de baixa renda em relação ao PT, essa estratégia foi muito utilizada. Ajudou especialmente na derrota nas eleições presidenciais de 1989 e 1998, espcialmente. E em muitos lugares ainda é útil em eleições municipais. Mas em termos federais, a eleição do Lula em 2002 mudou este quadro. O famoso do quadro da regina Duarte dizenro “Eu tenho medo” mostrou o esgotamento da estratégia. E as políticas adotadas pelo governo Lula solidificou este resultado. as políticas sociais do governo Lula mostraram para os setores de baixa renda que não havia o que temer. Os setores médios se beneficiaram do crescimento econômico, de algumas políticas públicas, por exemplo, estímulo ao consumo e à construção civil, e viu que o PT não faria loucras no governo federal. Estes setores não têm medo de um novo governo do PT e não há o que a campanha do Serra possa dizer que mude isto, tudo vai ser considerado como aquele tipo de coisa que diz em meio a uma camapanha eleitoral, mas que não se deve levar muito a sério. Conclusão, a estratégia do medo é a estratégia errada para a candidatura Serra, por quê?

Porque favorece que a campanha da Dilma centre-se na campanha do medo também, e aí quem sai perdendo é o Serra. Hoje os segmentos de baixa renda que poderiam ter o seu medo mobilizado para não votar no PT pode ter seu medo mobilizado para não votar no Serra. Hoje o fim da reversão das políticas sociais e de consumo do governo Lula é que causam medo nestes segmentos. E é um medo real, porque do mesmo modo que meus amigos antipetistas, a constatação da população é que sua vida melhorou no governo Lula, e diferenemente dos antipetistas radicais, a maioria da população associa estes ganhos ao Lula, e teme que haja mudanças. Neste sentido a camapnha do medo é equivocada para Serra.

É claro que a campanha do medo proposta por Serra revela um certo desespero por não ter condições de atacar frontalmente o governo Lula dado o apoio que tem. E aí aparentemente o candidato Serra procura respaldo nos setores mais anti-petistas, mas ele não ganhará as eleições com este setor, ao contrário, perderá. O problema é que não há outra alternativa objetivamente viável. Uqaluqer tentativa de ser uma oposição radical enfraquece Serra. E o reconhecimento das conquistas do governo Lula, uma rejeição do acirramento ideológico proposta pelos anti-petitas, aparece como o único ponto de partida para uma camapnha vitoriosa. Por outro lado, admitir isto publicamente, explicitamente não favorecia a Dilma e o PT? Em princípio sim, entretanto, poderia servir para mudar as caracter´siticas e os debates da campanha.

Outro equívoco da camapnha de Serra e que de algum modo o PT e o Lula também alimentam é acreditar que as eleições estaduais e a presidencial estão interligadas de modo significativo. Por exemplo, a notícia corrente nos jornais é que Aécio Neves não estaria fazendo camapnha para Serra em Minas e que por isso o Serra e a Dilma estariam empatando nas pesquisas em Minas. Mas será isso mesmo? Seria possível dizer que Hélio Costa está na frente de Anastasia por causa do Lula e porque o Aécio não faz camapanha para o Anstasia? Não! O Lula foi fazer camapnha no Ceará, segundo os jornais, porque quer eleger os dois senadores, derrotar o Tasso Jereissati, qual a chance de Jereissati não conseguir nenhuma das duas vagas para o senado por causa do Lula? Nenhuma! As eleições no Brasil são estratificadas. O apoio do Lula tem grande impacto sobre a eleição presidencial, mas baixa para as eleições para governador e baixíssima para senador e deputados! Se o apoio do Lula fosse o fator determinante nas eleições estaduais não teria sentido o presidente ter forçado em vários estados que o PT não tivesse candidato próprio, ou o PT lançaria chapa independente para deputados. Nada disso acontece. A influência do Aécio é sobre a eleição para governador. para as eleições estaduais. Os mineiros aprovam o governo Aécio e o governo Lula, isso significa que tendem a esperar a continuidade do governo Aécio em Minhas e continuidade do governo Lula no Brasil. Não são coisas comparáveis! Por que o mesmo indivíduo que aprova Lula e Aécio, iria convergir para uma posição única votando no candidato a presidente e a governador de Lula ou no candidato a presidente e a governador de Aécio? Não faz sentido. Não há este tipo de convergência. Os apoios locais são mais importantes pela estrutura da campanha, para organizar burocraticamente a campanha, para ajudar a divulgar o nome dos diferentes candidatos, e não por uma transferência direta de votos entre diferentes esferas.

O sucesso do governo Lula pode ser suficiente para eleger a Dilma, mas nas eleições estaduais o sucesso do governo Lula é insuficiente, há outros fatores locais que pesam mais, e por isso Lula fez questão de fazer sólidas alianças nos estados para conseguir não apenas eleger governadores, mas para conseguir ampliar os deputados e senadores da base aliada. Evidentemente que eleger aliados como Renan Calheiros pode significar eleger o inimigo de amanhã. Mas de todo modo, a estratificação das eleições dificulta uma mudança neste quadro. Depende das condições políticas locais, do eleitor e sua visão de mundo.

sábado, 24 de julho de 2010

E agora, o que acontece com quem morreu rezando errado?

23/07/2010 - 13h12

Erro faz islâmicos da Indonésia rezarem voltados para a África ao invés de Meca

Do UOL Notícias*
Em São Paulo

Muçulmanos em peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, participam de ritual em torno da Caaba

Muçulmanos em peregrinação a Meca, na Arábia Saudita, participam de ritual em torno da Caaba

Um erro fez com que os muçulmanos da Indonésia se voltassem para a direção errada na hora de rezar voltados para Meca. Na verdade, eles rezavam voltados para algum ponto entre o Quênia e o sul da Somália, na África.

O Conselho Indonésio Ulema, a principal entidade islâmica do país, admitiu um erro em um édito publicado em março indicando a direção para a região sagrada da Caaba, em Meca. Originalmente, o conselho afirmou que a cidade da Arábia Saudia, para onde os muçulmanos devem se curvar para suas rezas diárias, estava a oeste da Indonésia. Após uma revisão, se concluiu que Meca está a noroeste do país.

O erro não deve fazer com que as mesquitas do país sejam reconstruídas, segundo Umar Shihab, conselheiro do Ulema. "Não há necessidade de mudar a estrutura da construção, apenas fazer pequenos ajustes na rotação das esteiras para reza", disse.

A Indonésia é o país com maior número de muçulmanos no mundo. De sua população de 237 milhões de pessoas, 90% seguem o islamismo.Arte UOL