"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Até no Financial Times: Rebaixar as agências de risco

São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2012Mercado

Philip Stephens

Rebaixar as agências de risco

Por que essas agências, que deram nota máxima para títulos de valor nulo, ainda são levadas a sério?

Sempre ouço as pessoas dizendo que não devo culpar as agências de classificação de crédito. Minha consideração final, depois de estudar a questão sobriamente, é: "Por que diabos não?".

A Standard & Poor's colocou as agências de volta às manchetes ao rebaixar uma série de governos da zona do euro e privar a França de sua acalentada classificação AAA.

Desta vez, porém, a S&P tinha sábios conselhos a oferecer. Suas densas equipes de economistas, analistas e magos financeiros tinham percepções surpreendentes a revelar.

Uma reacomodação fiscal, entoaram, não bastaria para reparar as finanças públicas dos países da zona do euro. As economias fracas precisam ser reanimadas para que a arrecadação tributária combalida volte a crescer. Nossa! Quem teria imaginado?! Talvez a S&P esteja em busca de um Prêmio Nobel.

Suponho que seria deselegante recordar que as agências de classificação de crédito estiveram na vanguarda das instituições que vêm recomendando aos políticos austeridade e mais austeridade.

A S&P também nos ofereceu uma segunda revelação candente: a de que a ameaça à solvência nacional não é simplesmente um reflexo dos deficit e das dívidas de Estados individuais. Há também a questão da governança europeia. O processo é canhestro. Os 17 países da zona do euro enfrentam dificuldades para tomar medidas rápidas e decisivas.

Ninguém que tenha assistido aos tropeços de Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e dos demais líderes europeus, de conferência em conferência por quase dois anos, seria capaz de imaginar que o esforço de conciliar a política nacional e a economia da zona do euro causou certas dificuldades. Não é mesmo?

Não compartilho da paranoia de Sarkozy quanto a uma conspiração anglo-saxã para insultar a França e arruinar a moeda unificada. A Fitch, por exemplo, não tem uma conexão francesa?

Não, a questão real é: por que, depois de seu malfadado papel na demolição da casa financeira mundial, as agências de classificação de crédito ainda são levadas, mesmo que só um pouquinho, a sério?

Sarkozy foi o causador de seus próprios embaraços. Tratou a classificação AAA como emblema de virilidade nacional. Tudo isso confere à S&P uma autoridade muito superior ao valor de seu trabalho.

Estamos falando das mesmas organizações que conferiram a classificação AAA a bilhões e bilhões de títulos de valor nulo, o que causou o colapso do sistema financeiro.

Embora Sarkozy tenha mantido silêncio irritadiço sobre a decisão, Mario Monti ofereceu uma resposta madura aos rebaixamentos.

O primeiro-ministro italiano disse que não recebia positivamente a classificação BBB, é óbvio. Mas, quanto ao diagnóstico da S&P sobre as dificuldades da Itália, declarou que não passava de uma reformulação das opiniões que ele mesmo não se cansa de oferecer.

A ironia está em que, quanto à questão separada sobre a capacidade da zona do euro para desenvolver uma resposta confiável à crise, a S&P pode ter chegado à resposta errada. De novo.

Apenas um tolo diria que a zona do euro encontrou uma saída para escapar ao campo minado das dívidas nacionais.

Há muito potencial de explosão, especialmente a possibilidade de um calote grego não negociado.

Mas é notável que, depois do rebaixamento, as taxas de juros que incidem sobre empréstimos a esses países tenham caído um pouco.

A S&P não percebeu uma mudança discernível na dinâmica política da crise. Berlim ouve o que Monti tem a dizer.

Seria exagero dizer que isso representa o início de um círculo virtuoso na política da crise. Os governos talvez estejam escapando ao círculo vicioso que os aprisionava.

Quanto à S&P, talvez não devamos ser punitivos demais. Afinal, os demais vilões do colapso financeiro escaparam completamente ilesos.

A segunda coisa que costumo ouvir sobre as agências de classificação de crédito é que precisamos levá-las a sério porque mantiveram sua posição central no sistema financeiro mundial.

Será que não deveríamos rebaixá-las? Elas merecem a classificação "junk".


PHILIP STEPHENS é editor-associado do "Financial Times", jornal em que este texto foi publicado originalmente.

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