"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Todas as crises financeiras são iguais. E antes de todas elas, os investidores e os governos garantem que tudo vai bem

A Gravidade da Crise Financeira

Paul Krugman

Washington - Até que ponto é maligna? Bom, eu nunca vi pessoas do mundo financeiro se manifestarem assim, nem sequer durante a crise asiática de 1997-98, quando o efeito econômico dominó parecia abranger o mundo inteiro.
Esta vez, os que jogam no mercado parecem verdadeiramente horrorizados, porque se deram conta, repentinamente, de que não são capazes de entender o complexo sistema financeiro que eles mesmos criaram.
Porém, antes de entrar nisso, falemos algo sobre o que está acontecendo agora mesmo.
O crédito –o empréstimo entre jogadores no mercado– é para os mercados financeiros o que o óleo do motor é para a mecânica do automóvel. A capacidade para dispor de dinheiro em espécie a curto prazo, que é o que quer dizer as pessoas quando se fala em "liquidez", é um lubrificante essencial para os mercados e para o conjunto da economia.
Porém, a liquidez se evaporou. Alguns mercados de crédito fecharam efetivamente a janelinha. As taxas de juros em outros mercados –como o mercado de Londres, no qual os bancos emprestam uns para os outros– aumentaram, mesmo quando a taxa de juros da dívida do governo dos Estados Unidos, que ainda se considera segura, caiu rapidamente.
"Estamos assistindo", diz Hill Gross da gestora de bônus Pimco, "em substância, à queda do sistema bancário moderno atual, um complexo de empréstimo alavancado tão difícil de compreender, que o presidente da Reserva Federal, Ben Bernake, precisou de um curso de atualização cara a cara com os gestores dos fundos de produtos financeiros derivados (hedge funds) no meio de agosto".
Se o congelamento dos mercados financeiros se prolongar muito, há de trazer consigo uma grave redução do empréstimo, em geral, o que fará que o investimento empresarial siga o caminho do setor da construção. E isso significa uma recessão, possivelmente grave.
O que se esconde atrás do desaparecimento da liquidez é um colapso da confiança: os jogadores no mercado não querem fazer empréstimos, porque não estão certos de recuperá-los.
Em um sentido direto, esse colapso da confiança causou o estouro da bolha imobiliária. O aumento dos preços da moradia tinha ainda menos sentido que a bolha do pontocom –não havia sequer uma glamorosa tecnologia nova que viesse justificar a caducidade das velhas regras– mas, de uma ou outra forma, os mercados financeiros aceitaram os preços enlouquecidos da moradia como a nova normalidade. E a bolha estourou, uma multidão de investimentos qualificados como AAA se revelaram lixo.
Assim, os títulos dos "superseniors" frente às hipotecas subprime ou de alto risco –investimentos que têm primazia sobre qualquer pagamento de hipoteca que realizem os prestatários, e que supostamente tinham que ser negócio mesmo quando uma parte considerável desses prestatários entrasse em morosidade– perderam uma terceira parte de seu valor de mercado desde julho passado.
Porém, o que realmente debilitou a confiança é o fato de que ninguém sabe onde está enterrado o tóxico financeiro. Supunha-se que Citigrup não tinha dezenas de milhares de milhões de dólares expostos ao subprime; pois tinha. O Florida´s Local overnment Investment Pool, que atua como banco das escolas públicas de distrito, se presumia livre de todo o risco; não estava (e agora, as escolas não têm dinheiro para pagar os professores).
Como foi que as coisas se tornaram tão opacas? A resposta é: "inovação financeira". Duas palavras que, desde já, deveriam disparar o alarme dos investidores.
Está bem, para sermos justos, alguns tipos de inovação financeira estão bem. Eu não quero regressar aos tempos em que as contas correntes não pagavam juros e não se podia tirar dinheiro em espécie nos fins de semana.
Porém, as inovações dos últimos anos –a sopa de letras de CDOs e SIVs, RMBS e ABCP– se venderam com pretensões falsárias. Foram promovidas como formas de dispersar o risco, de fazer mais seguro o investimento. O que, em troca, fizeram –aparte de proporcionar a seus criadores montões de dinheiro, que não tiveram que devolver quando estourou a bolha– foi dispersar a confusão, atrair os investidores para que assumissem riscos maiores do que podiam perceber.
Por que permitiram que isso acontecesse? No fundo, acredito que o problema foi ideológico: os decisores políticos, comprometidos com a opinião de que o mercado sempre faz tudo bem, simplesmente passaram por alto os sinais de alarme. Sabemos, em particular, que Alan Greenspan não deu atenção aos alertas de Edward Gramlich, um membro da Reserva Federal, sobre uma potencial crise das subprime.
E a ortodoxia do livre mercado custa morrer. Há somente umas poucas semanas, Henry Paulson, o Secretário do Tesouro, admitia à revista Fortune que a inovação financeira passou sobre o regulamento, para acrescentar em seguida: "não acredito que tivéssemos que ter seguido outra via". É esta sua última palavra, senhor Secretário?
Agora, a proposta de Paulson para ajudar os prestatários a renegociar os pagamentos de suas hipotecas e evitar o desalojamento soa bem, em principio, (ainda que tenha que esperar ouvir os detalhes). Porém, sendo realistas, não será nada, mas sim um pequeno remendo no problema das subprime.
O principal do assunto é que aqueles que tomam as decisões políticas deixaram a indústria financeira inovar livremente, e o que ela fez foi se inovar a si mesma, nos deixando inseridos em uma confusão tão grave quanto enorme.

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