Logo após os atentados de 11 de setembro o que mais se ouvia era que havia iniciado uma nova fase nas relações internacionais. Não compactuei com esta idéia, e continuo não compactuando. O sistema internacional e o modo de funcionamento das relações internacionais não teve a sua tendência secular modificada. A questão do terrorismo é um epifenômeno, não caracteriza a estrutura das relações internacionais. Primeiro porque não decorre das relações entre Estados. Segundo porque não é condizente com o movimento global das economias capitalistas. Terceiro porque não reflete a posição dos EUA no mundo. Vejam, em primeiro lugar seria preciso questionar o próprio conceito de terrorismo. Mas iremos deixar isto de lado parapartir por outro caminho, o índivíduo na história. Marx escreveu os homens fazem a história, mas não a fazem como querem, isso significa que os homens vivem dentro de uma estrutura, não é qualquer coisa que é possível fazer. Isso não quer dizer que os indivíduos não façam diferença, fazem. No caso presente, Bush faz diferença. A política externa americana reflete parcialmente a idiossincrasia do presidente, não por causa da guerra do Iraque, da guerra do Afeganistão, mas pela criação da guerra ao terror, a divisão entre o bem e o mal. São aspectos da ação americana que refletem mais a personalidade do presidente do que a estrutura das relações internacionais. Ao contrário do que os críticos pensam não foi o Bush que inventou a guerra, não foi o Bush que inventou o unilateralismo. Isso já existia antes do Bush e continuará depois do Bush. O que o Bush fez foi colocar estas questões novamente em primeiro plano. Isso significa que independente de quem seja o próximo presidente dos EUA os marcos estruturais das relações internacionais não irão ser modificados, a questão do terrorismo necessariamente será esvaziada. Nenhum dos candidatos sendo eleitos poderá simplesmente abandonar o Iraque ou o Afeganistão, nenhum deles eleito deixará de observar o Irã. A diferença será mais estilo da forma de tratar etas questões. Então tratar o Irã como a representação do demônio na terra não ajuda em nada nas negociações, como isto é algo próprio do estilo do presidente Bush isto certamente será modificado. Ou seja, a eleição americana não modificará as relações internacionais, ela continuará tendo a mesma natureza, os conflitos continuarão existindo, e os EUA sempre poderão e sempre estarão dispostos a adotar políticas unilaterais simplesmente porque podem fazê-lo. Então, as eleições americanas são importantes, mas não decidem o futuro da humanidade.
A escolha do presidente é mais importante pelas questões internas e por questões simbólicas. Evidentemente que eleger um mulher ou um negro como presidente dos EUA já significaria uma importante mudança simbólica. No caso de Barack Obama o simples fato de se eleger um negro presidente dos EUA já seria revolucionário ainda que no governo Obama se comportasse como qualquer branco conservador, ainda que para se manter no poder Obama tivesse que se aliar ao centro. Por quê? Porque isto já geraria fricção na sociedade americana, forçaria o encaminhamento de uma solução efetiva para a questão racial, afirmaria o sucesso das políticas de integração racial, e legitimaria a política de renda mínima para os setores mais pobres da sociedade americana. Neste sentido, independente do que faça no governo um governo Obama seria positivo. No caso de Hillary Clinton, a questão seria mais complexa, porque em geral quando as mulheres se tornam políticos de sucesso isso ocorre menos por serem mulheres, mas por serem mulheres que se comportam como homens. Ou seja, o fato de ser mulher não tem qualquer conseqüência no modo de governar. Então o simbolismo seria menor mas ainda assim seria importante. Entretanto a vitória de Clinton explicitaria uma tendência antiga da política norte-americana, o esvaziamento da democracia, os EUA se aproximaria mais dos costumes políticos dos países do Terceiro Mundo onde a política é controlada por grupos familiares. É claro que sempre houve esta tendência nos EUA, mas agora ela se aprofundaria, os EUA poderiam passar 28 anos governados por apenas duas famílias se alternando no poder. Seria praticamente como o domínio de Antônio Carlos Magalhães sobre a Bahia.
E qual a importãncia das eleições americanas para o Brasil em particular? Nenhuma, nenhum dos candidatos tem o menor interesse no Brasil. Desde que o Brasil não desobedeça os EUA, os presidentes dos dois países terão boas relações. Dizem que os republicanos são mais liberais do ponto de vista do comércio exterior, menos protecionistas e isso seria bom para o Brasil. Besteira, quem fez a super 301 foi Reagan, e quem fez o Nafta foi Clinton. Então seja Clinton, Obama ou McCain, o Brasil continuará na mesma posição na agenda de política externa dos EUA.
Na verdade apenas um presidente que se conciliasse com Chávez e procurasse negociar diretamente com a Venezuela seria ruim, porque o Brasil perderia importância no jogo político regional. O conflito entre Chávez e EUA ajuda o Brasil a ganhar preeminência na região.
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