"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

A dignidade dos mortos e a cara do Brasil

O Brasil é mesmo um país esquisito. Um país onde avacalha com tudo, nada se respeita, nada se venera, o que significa que não damos importância a nada. Somos uma sociedade profundamente hedonista. E este comportamento ficou patente na tentativa de duas escolas de samba do Rio de Janeiro de transformar o Holocausto em carnaval. É preciso respeitar os mortos. No caso em questão, a justiça atendeu ao pedido da Federação Israelita do Rio de Janeiro e proibiu. O que foi perfeitamente correto. Uma vez que até organizações judaicas no exterior se manifestaram a respeito, e por razões que não vêm ao caso, a mídia brasileira não tratou como censura. Felizmente. Entretanto, deveria se posicionar assim sempre. É inominável o que foi feito com os judeus pelo nazismo, não pelo número de mortos, mas pela razão pela qual estavam sendo exterminados. Do mesmo modo que ocorreu com os ciganos e outros grupos menores. Morreram 20 milhões de russos na Segunda Guerra Mundial, mas morreram porque a guerra é uma tragédia inominável e não porque alguém tivesse um plano de exterminar todos os russos da face da terra. Mas nós não nos chocamos diante do fato, não nos chocamos diante da morte. Não tratamos bem os nossos mortos, não respeitamos os nossos mortos e queremos avacalhar, desprezar também com os mortos dos outros. Não choramos os nossos mortos. A morte no Brasil é apenas estatística, ma fria estatística, contamos o número de mortos, mas não damos significado aos nossos mortos. Os nossos mortos não geram vida, morrem duas vezes porque uma vez enterrados não passam de estatísticas. E por isso, a morte dos judeus não nos choca, não nos toca, olhamos como mais uma grande estatítisca, 6 milhões de mortos e pront. Nenhum vida se tira daí. Os nossos mortos também se contam aos milhões, portanto se formos nos tocar com os mortos dos outros nos lembraremos dos nossos. mas é melhor esquecê-los, é melhor ignorá-los e sempre festejar e contar. Contar os mortos. A nossa sociedade alegre na verdade é uma sociedade triste, incapaz de conviver com a dor, incapaz de assumir a dor e transformar o luto em ação. Os mortos devem ser logo enterrados e esquecidos. Os judeus celebram e choram os seus mortos e dão vida aos seus mortos, porque agem para que a morte deles não se repita. Os árabes celebram os seus mortos e cultivam a sua memória como heróis. Todo sociedade transforma aqueles que morreram lutando contra o seu infortúnio em mártires, em símbolos de vida, em sinais para um próximo começo. Não temos mártires, temos apenas mortos e estatísticas. Contamos os mortos, somos bons nisso. E depois rimos deles. E depois os transformamos em carnaval, em dinheiro, em nada. Num país cheio de heróis, a morte deles aparece apenas como números para que não tenhamos que mudar nossas vidas, para não termos que assumir a responsabilidade pelo país. Ora a mesma indignação que a comunidade judaica sentiu com a carnavalização do holocausto, deveríamos sentir com a carnavalização do extermínio dos índios, com a carnavalização da pobreza, com a carnavalização da violência. Deveríamos dar um sentido à morte do nosso povo, mas fazemos dela apenas uma estatística. Subiu, caiu. E continuamos não tendo nada com isso. Cada um que chore os seus mortos e supere logo, porque logo chegue a hora de rir do morto, se divertir com a morte dos outros. O pior do Brasil é a ausência de valores, levamos o relativismo a um extremo inaceitável, aqui nada provoca escadânlo, por mais absurdo que seja o ato, nada provoca escândalo. O que tem retratar campos de concentração no carnaval? O que tem escarnecer da dor e do sofrimento do outro? Já passou, é só história velha. O que importa brincar com o massacre dos turcos sobre os armênios?  A morte é tão presente nas nossas vidas que nos tornamos indiferentes a ela, não nos mobilizamos, apenas proferismos algumas palavras contra o governo de turno e assumimos que fizemos a nossa parte. Isto é inaceitável, é uma barreira a transformação do país. precisamos recuperar valores e abandonar o relativismo sob pena de sermos destruídos por ela, uma sociedade que aceita tudo não consegue anter os laços de solidariedade social. A solidariedade social só se conserva sob uma base de valores sólidos que são partilhados pela maioria e defendidos por ela. Aí mesmo uma guerra, mesmo o holocausto é incapaz de destruir esse povo. No nosso caso parece que já aceitamos o nosso destino, então o que resta é festejar enquanto ainda estamos por aqui, enquanto não nos tornamos apenas mais uma estatística.

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