O papa Bento XVI atendeu a demanda dos setores mais tradicionais da Igreja Católica em duas etapas, primeiro criando o Instituto Bom Pastor onde as missas seriam celebradas apenas com o Missal em vigor antes das reformas de Paulo VI, e agora estendeu a todos os padres o direito de celebrar missas com o Missal de São Pio V em caráter extraordinário. Em princípio a decisão do papa foi lida como uma vitória dos conservadores e um enfraquecimento dos grupos progressistas. Esta leitura é equivocada, os grandes perdedores com qualquer movimento de restauração da solenidade da missa são os movimentos carismáticos, é a Renovação carismática Católico, é o padre Marcelo Rossi e similares que perdem espaço com a restauração (ainda que extraordinária) do Missal de São Pio V. Por uma razão simples, este movimento retoma o racionalismo na Igreja e enfraquecimento o emocionalismo como base da fé, isso de um ponto de vista teórico. Concretamente é impossível celebrar uma missa carismática em latim, o canto gregoriano não se adequa às necessidades, a força mobilizadora do movimento carismático cairia significativa se o latim se tornasse o idioma obrigatório de todas as celebrações litúrgicas. De fato, o maior inimigo dos tradicionalistas e dos progressistas é o movimento carismático. Os progressistas ao se manifestarem rapidamente contra a restauração se colocaram na posição de derrotados, quando o que eles disputam é o tipo de ação da Igreja no mundo. A discussão sobre a liturgia entra no discurso progressista devido ao excesso de esquerdismo e democratismo que na prática mais enfraquece do que fortalece o movimento no interior da Igreja, aumentar o papel do povo na celebração enfraquecendo a distinção entre o povo e o sacerdote como se isso fosse uma divisão de castas enfraquece a Igreja, dessacraliza a sociedade tornando a Igreja supérflua e os progressistas um movimento político como outro qualquer. Um fortalecimento da Igreja no seu sentido tradicional favorece a difusão do discurso progressista em relação aos carismáticos que são os verdadeiros adversários. Os tradicionalistas assumem uma posição política clara e portanto é muito mais fácil de serem combatidos do que os carismáticos. Por incrível que possa parecer os setores progressistas ganhariam força com uma aliança tácita com os setores tradicionais. O único porém na história é o Opus Dei que é conservador, mas não se manifesta propriamente como tradicionalista, por exemplo não fez parte das campanhas sistemáticas públicas para restauração do Missal de São Pio V. Entretanto, o Opus Dei na sociedade só pode ocupar pequenos espaços dado a rigidez das suas regras, não é voltado para as massas, desse modo só disputa espaço com os progressistas no interior da Igreja, e este problema pode ser contornado caso o movimento progressista ganhe espaço novamente no interior da sociedade. É preciso lembrar que ao papado não interessa um novo cisma, então conquistando espaços na sociedade a Igreja progressista garante a aceitação das suas teses no interior da Igreja ao longo do tempo. Que importância tem estas questões? Olhem para a Venezuela, qual um dos focos persistentes de conflito? A relação entre o Chávez e a Igreja. Qual o principal adversário do governo Kirchner? A Igreja Católica, foi com a Igreja que o Kirchner travou as disputas mais ferozes. Outro governo em conflito com a Igreja é o boliviano, e o encaminhamento destes conflitos depende das relações de força no interior da própria Igreja. Em um dos jornais da Bolívia é publicado diariamente um artigo de um padre jesuíta analisando o governo. Então o local onde mais interessa estas disputas é na América Latina. Para concluir o Lula e o Alckmin representaram setores distintos da Igreja. E a Igreja só não ataca mais violentamente o governo, porque amplos setores da Igreja são ligados aos movimentos sociais e conseqüentemente ao PT e com isso a margem de tolerância aumenta bastante.
"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."
Ignácio Ellacuría
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