"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 29 de julho de 2007

Amar a Deus acima de tudo?

Quando éramos crianças meu irmão e eu tínhamos um problema existencial, estudávamos em escola salesiana e obviamente sempre ouvíamos que devíamos amar a Deus sobre todas as coisas, o problema que nós nos colocávamos era que era impossível seguir este mandamento porque amávamos mais os nossos pais. Um problema real já que poderíamos ser condenados ao inferno. Por isso, é preciso ter cuidado com o que ensinar e o quanto ensinar de religião para crianças.
Apesar deste dilema lá em casa o ecletismo sempre foi dominante, porque na família tem católicos praticantes, católicos que não sabem nem o que responder quando o padre diz "Senhor, tende piedade de nós", espíritas kardecistas que acham que espiritismo é religião e os que acham que espiritismo é ciência, tem os adeptos da Nova Era no Vale do Amanhecer, têm os protestantes pentecostais, tem espiritualista, tem as versões mais místicas do cristianismo onde se mistura elementos ciência cristã com alguns elementos orientais, ateus e indiferentes. Enfim é uma salada religiosa. Assim uma das poucas coisas engraçadas quando a minha avó estava doente era as discussões religiosas. Minha tia que é evangélica ia lá e orava com a Igreja Universal, depois vinham os Mórmons, ou gente da Congregação Cristã do Brasil, ou do Vale do Amanhecer, etc. Aí minha tia evangélica depois que ela orava se aparecia outro para orar ela dizia pra minha mãe "que adianta eu orar aqui se eu tiro o demônio e logo vem outro e trás o demônio de volta". Uma irmã da minha avó ligada a Ciência Cristã e similares entre contra medicamentos, contra ligar a televisão entre outras coisas, aí várias vezes que eu ia dar remédio ou água ou comida pra minha avó ela engasgava, e eu sempre chamava minha mãe para ajudar minha avó, mas minha tia-avó não aceitava isso, ela achava que eu deveria ficar quieto, não fazer nada e deixar que Deus operasse e resolvesse o problema sozinho, aí eu sempre dizia pra ela, tia se Deus colocou minha mãe aqui para ela resolver o problema é pra ela resolver o problema e não ficar numa atitude passiva esperando que o próprio Deus haja. Óbvio que eu não convenci. A televisão era um problema a televisão na área anexa ao quarto da minha avó acabamos aceitando desligar, agora televisão da sala principal ficou desligada um ou dois e só. Outra coisa engraçada é que todo semana ela tinha um dia de jejum e de silêncio, não conversava com ninguém pra nada, ela passava havia um monte de conhecidos, mas ela só acenava, porque ficar em silêncio significa só não falar, mas também não ouvir.
Nessa mistura de religiões, toda a família (exceto os evangélicos) se reuniam às quartas-freiras na casa da minha avó para orações dirigidas pela dona Ormelinda . A dona Ormelinda comandava um centro espírita em Jataí-GO, e nós já a conhecíamos lá, quando ela mudou para Barra do Garças ela passou a freqüentar um centro local, mas não montou um para ela dirigir. Então chamaram ela para celebrar estas reuniões. Os espíritas tem uma oração chamada Prece de Cáritas, que sempre que ouço só consigo pensar na dona Ormelinda proferindo aqueles palavras, em nenhuma voz nunca ficou tão bonita quanto na voz dela, e a pele branquinha e vermelha como que descolorindo por nunca ver o sol e o cabelo todo branquinho desde muito cedo, branco mesmo, como algodão, nada de acinzentado dava ares sagradas ao que ela dizia. Para nós que éramos crianças, o bom destas reuniões era encontrar todos os primos e brincar na rua, mas obviamente tínhamos que participar das orações também. E num dia destes minha mãe convidou algumas freiras do colégio salesiano que freqüentávamos para comparecer, e três irmãs reforçando ainda mais a visão eclética da religião e a tolerância religiosa. As irmãs gostaram, saíram falando bem, e aí durante muito tempo sempre que a minha aparecia na escola, as outras irmãs brincavam com ela se ela estava tentando converter as irmãs.

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