"Uma vez mostrei ao presidente Juscelino, em Petrópolis, um exemplar do jornal Correio da Manhã que trazia imagens enormes do Nehru, ilustrando um discurso que ele fez na Índia. E comentei: "Veja como são as coisas! O que o senhor diz não interessa nem ao Uruguai. E o Nehru, o que ele diz repercute no mundo inteiro, sai na primeira página de todos os jornais do planeta. Ele dirige um país em que o povo vive na miséria, é dividido em castas, tem um ministro da Saúde que é contra a exterminação de germes e de micróbios... O senhor não diz nada? Na realidade o seu plano de desenvolvimento conseguiu concentrar as atenções sobre os problemas internos. Porém a tal ponto que o Brasil se desinteressou do resto do mundo. Isto explica, aliás, por que a política externa brasileira é tão sem importância em seu período de governo, tão sem importãncia que o senhor pode entregar ao Schmidt essa brincadeira que foi a Operação Pan-Americana. Uma brincadeira que foi feita aqui e que não tem a menor importância. Isto não é de fato uma posição de política externa do Brasil."
Depois de dizer que por causa desse desabafo JK não compareceu a sua posse no MRE, Archer acrescenta falando sobre o início dos anos 90: "A China e a Índia praticam hoje um relativo isolamento como precondição para inserção soberana em uma realidade globalizada. Veremos isso em um futuro próximo."
Quanto à China e à Índia, ele estava certo. Então seria possível afirmar que o diagnóstico dele funciona como uma profecia ao inverso para o Brasil? Que o fato do Brasil estar aparecendo demais no cenário internacional atualmente indica mais a perpetuação da debilidade do que uma futura demonstração de força?
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