"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A paz é uma valor absoluto?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Bogotá - O debate sobre se o Partido Pólo Democrático deve condenar a luta armada ou se as Farc combinam as formas de luta, deve ir mais além de uma acalorada discussão de torcedores, mais além da cidade de Melgar. Embora doa aos uribistas (partidários do Presidente Alvaro Uribe), não se pode ser uribista e pacifista, vocês o elegeram e o reelegeram porque prometeu “severidade”. Porém, também não se pode acreditar nos Convênios de Genebra (que regulam a guerra, mas não a proíbem) e ser pacifista, por mais rodeios que se queira dar.
Eu não sou pacifista, mas não sou uribista. Então, me perguntarão: você apóia o narcoterrorismo? Não, porque há violências de violências. Eu defendo a violência contra o fascismo, sem ela o Exército Vermelho (porque foi o Exército Vermelho e não o Tom Hanks e os seus garotos) não haveria derrotado Hitler. Trabalhei em vários países com conflitos armados (Colômbia, Palestina, Sudão) e existem contextos onde a violência tem justificativa moral, jurídica e política, mas não qualquer tipo de violência. Quando a causa da violência é literalmente a autodefesa (não como é entendida por Uribe ou Marulanda) é um contra-senso condená-la; a violência contra o ocupante no Iraque e na Palestina não pode ser mais justa (resistência não é o mesmo que terrorismo); a guerra do Frente Polisario dos saarauis contra o Marrocos foi, inclusive, uma guerra de sobrevivência.
Algumas pessoas me dirão que, por exemplo, Gandhi conseguiu a independência com a paz. Porém, qual independência? A Índia, hoje, é um país que apodrece na fome, na desigualdade e nas castas; além disso, o próprio Gandhi usou tropas contra os portugueses em Goa e apoiou a luta armada contra Hitler. Hitler foi vencido devido ao uso da violência, as guerrilhas sandinistas puderam derrubar Somoza só com a violência, não com flores. Contudo, repetirão, a violência só gera violência: digo que não. Tanto a longo prazo quanto a curto prazo; a violência às vezes dá resultados além de mais violência. Isto não é uma apologia à violência; é uma verdade histórica que pode ou não nos agradar, mas que é real. Acaso o violento golpe de Estado de Pinochet gerou uma contra-violência? Acaso o assassinato dos líderes guerrilheiros colombianos gerou alguma resposta violenta? Não. A UP é uma prova concreta: exterminaram um partido político inteiro e não lhes aconteceu nada. Poderíamos pedir aos judeus nos campos de concentração que fossem pacifistas? Quando o mundo soube do genocídio de Ruanda se falou que deveriam enviar tropas para evitar tal mortandade e, no caso de tê-lo feito,se esperava que as tropas evitassem o massacre com terapias grupais?
O problema é se o pacifismo apregoado é absoluto ou relativo, se depende ou não do contexto (e não da moda ou de quem o estiver exercendo), se há relação entre os fins e os meios. Na minha opinião, as guerras que são guerras por si mesmas (guerras metodológicas), as guerras que não respeitam os que não participam delas, como é o caso dos civis, as guerras cujos fins não são justos, são guerras que não apoio. Não apoio as Farc porque sua guerra não é justa, nem em seus fins nem em suas formas, porque seu fim último não é nem a sombra do que sonhou Marx.
Além de questionar se existe possibilidade ou não de um triunfo militar, na Colômbia a guerra de guerrilhas fracassou porque foram roubadas pelas Farc e, em sua dinâmica, reproduzem o Estado burguês autoritário do qual fala Horkhaimer, o mesmo Estado que venera Uribe. Repito que nem seus meios nem seus fins são louváveis.
Entretanto, isso não quer dizer que toda violência contra as Farc seja “boa”. Alguns fãs da paz uribista parecem que estão programados para não ouvir nem a palavra paramilitar nem a palavra motoserra. Um secretário (ministro) dos Estados Unidos se referiu a um dos Somoza dizendo: “é um filho da puta, mas é nosso filho da puta” e logo posou de pacifista. Esses falsos pacifistas me dão mais medo que os que aceitam abertamente certo tipo de violência em condições determinadas.
Também não acredito que a postura ideal seja sair rasgando as vestes contra a luta armada em um país onde a guerra não é o fim da política, mas sim seu mais fiel aliado. As Farc não inventaram “a combinação das formas de luta”; aprenderam da burguesia e de seus partidos tradicionais, que a exerceram desde antes do século XX.
Agora, se falarmos pensando nos fanáticos que votam e pensando apenas até Melgar, não há problema: deve-se declarar pacifista. Não duvido da honestidade dos pacifistas, simplesmente abro o debate sobre a eficácia de seus métodos em certos contextos. A “prevenção de conflitos” não pode oferecer um balanço de conquistas digno de aplausos e a chamada “educação para a paz” não alcança o poder, ladra, mas não morde.
Os três irmãos Castaño, Rito Alejo del Río e as Farc e até Uribe se declararam amigos da paz. Eu me declaro amigo da justiça (da social, não da guilhotina). Portanto, sendo o valor último a justiça, sacrificaria a paz sob certas circunstâncias excepcionais, sendo o valor último a paz teria que, no caso de colisão de valores, sacrificar a justiça. Qualquer exercício da violência, uma vez que haja passado o filtro da pertinência política e a oportunidade prática, deve assumir um componente ético que se expressa em pelo menos dois âmbitos: o respeito aos civis e o combate contra o militarismo interno. Na Colômbia, a degradação da guerra torna dificilmente defendíveis as idéias contra uma saída negociada do conflito armado.
Se os que apoiaram a guerrilha em décadas anteriores o fizeram sobre a base da injustiça e a falta de opções políticas, então eles devem renunciar à guerra de guerrilhas assim que tais condições mudarem e não porque tenha caído o muro de Berlim. Na Bolívia, os indígenas e o movimento popular em geral se tornaram governo graças a uma mobilização social não precisamente pacífica, uma mobilização que conseguiu reverter leis neoliberais, expulsar uma transnacional da água e tombar presidentes. Isso nem o Lula fez.
No caso colombiano, o país da América Latina com mais experiência em guerra de guerrilhas, a luta armada fracassou; não porque não haja pobreza nem exclusão, não por falta de barreiras nem de capacidade de luta, mas porque as Farc roubaram a luta armada do povo, fizeram tão sua essa forma de luta, a encheram de ataques, de massacres e de violência indiscriminada contra civis e, inclusive, contra outras guerrilhas que, hoje em dia, as Farc muito dificilmente podem ser chamadas de esquerdas.
Os processos de paz colombianos têm um livreto similar: aproximações, negociações, assinatura de um tratado de paz, coquetel, entrega de armas, assassinato dos comandantes e perseguição dos ex-combatentes que levantam a cabeça. O governo (este, o anterior e o anterior) negou os espaços democráticos; os encheram de tantas motoserras, que as saídas não-violentas não seduzem. Não falo da não-violência para sobreviver (louvável), pergunto se existe a menor possibilidade de que as elites pacificamente aceitem repartir o bolo de uma maneira mais justa. O paradoxo colombiano é que fracassou na paz e fracassou na guerra.
O debate real é se o pacifismo com seus métodos permite transformar a sociedade. Há um momento em que os povos se vêem diante de uma dicotomia: a) a realização das reformas necessárias em um clima de paz social e de acordo b) a realização de tais transformações implicando o risco da violência (ou a terceira opção: não fazer nada).
Para concluir, um uribista de “pura raça” não pode ser pacifista (nem o contrário), mas alguém como eu, não-pacifista, não necessariamente aprova todo tipo de violência nem muito menos a motoserra. Ser não-pacifista não implica ser “guerrerista”, não é um debate de brancos e negros. Vale a pena dizer (caso algum fanático sugira) que não há razões que justifiquem nem a violência de gênero nem a violência contra os menores de idade, mas esses pacifistas com o ouvido torto e o “chicote” na mão são os piores.
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Victor de Currea-Lugo
Colaborador do Instituto de Estudos sobre Conflitos e Ação Humanitária, Iecah (Espanha). Este artigo foi publicado na revista colombiana Semana

http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=politica&idioma=pt&principal=260202

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