"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 25 de novembro de 2007

Madre Teresa duvidou de Deus e perguntou Deus existe?

A longa e escura noite da Madre Teresa

Nova Iorque - Talvez os católicos não devessem ter se surpreendido pelas revelações de Madre Teresa: Venha e seja a minha Luz, uma nova coleção de cartas da “santa dos esgotos” que mostra sua surpreendente batalha com a escuridão espiritual. Desde 2003 se tinha ouvido falar de sua “noite negra” quando Brian Kolodiejchuk, um sacerdote membro das Missionárias da Caridade, publicou no site católico Zenit.com uma série de artigos sobre seus conflitos. Nesse mesmo ano, no jornal First Things, Carol Zaleski escreveu um artigo intitulado “A escura noite de Madre Teresa”, que citava fragmentos de suas cartas. Desta forma, já havia certa informação sobre a luta interna da Madre Teresa contra a escuridão, suas dúvidas e desesperos, que já estavam disponíveis para o público geral fazia alguns anos.
O novo em Venha e seja a minha luz é que reúne o grosso das cartas, o que revela a extensão de sua confusão interna. Pela primeira vez os leitores saberão que a Madre Teresa sofreu esta implacável aridez em torno dos 50 anos –com um breve respiro– até a sua morte em setembro de 1977. “na minha alma sinto essa terrível dor da perda –de que Deus não me quer, de que Deus não é Deus, de que Deus realmente não existe–”, escreveu a um confessor em 1959.
Segundo o Padre Kolodiejchuk estas cartas foram obtidas dos arquivos dos bispos, sacerdotes e diretores espirituais para os quais Madre Teresa escreveu e que as tinham conservado. Em uma entrevista recente, o Padre Kolodiejchuk disse que, apesar de Madre Teresa ter desejado que as cartas fossem destruídas, reunir todos estes escritos é uma parte essencial do processo de canonização. Estas cartas também são um recurso importantíssimo para as Missionárias da Caridade em sua busca para compreender cabalmente a particular espiritualidade ou carisma de sua fundadora.
Cedo misticismo e posterior escuridão
A coleção póstuma é majoritariamente uma longa súplica a Deus, expressada por meio de ingênuas cartas. Um hábito sintático recorrente –o uso freqüente de hífens–, incrementa a ofegante urgência de seus lamentos. “Não há fé no meu coração – não há amor – não há confiança – há tanta dor – a dor de desejar, de não ser querida – amo a Deus com toda a força da minha alma”, escreve na carta de 1959.
O sentimento da ausência de Deus não é infreqüente nas vidas dos santos ou nas vidas do crente médio. O místico espanhol São João da Cruz nomeou isso como a noite negra e a descreveu como um nível necessário para a ascensão à união mística com Deus. Santo Inácio de Loyola nomeou de desolação espiritual em seu manual para a oração, Exercícios Espirituais. “Alguém se encontra completamente morno e indiferente” escreveu, “e se sente separado de nosso Criador e Senhor”. Durante sua doença terminal, Santa Teresa de Lisieux, a monja carmelita francesa, experimentou uma desolação que parecia refletir dúvidas sobre se algo a esperaria depois de sua morte. “Se somente vocês soubessem a escuridão na qual me encontro!”, disse em uma oportunidade às irmãs de seu convento.
Para Madre Teresa, as décadas de escuridão espiritual, que começaram pouco depois de ter fundado as Missionárias da Caridade, foram inclusive mais agudas quando ela refletia sobre sua relação anterior com Jesus.
A mulher, cujo nome era Gonxha Agnes Bojaxhiu, cresceu no seio de uma devota família católica em Skopje, Albânia. Sua mãe, Drana, era uma generosa mulher, que cuidava de um vizinho idoso que estava consumido pelo alcoolismo e coberto de feridas. “Quando fizer o bem”; Drana dizia à sua filha, “faça silenciosamente, como se jogasse uma pedra no mar.”
A palestra de um sacerdote jesuíta em sua paróquia despertou em Agnes o desejo de fazer trabalho missionário e, em 1928, aos 18 anos de idade, se encantou ao ser aceita pelas Irmãs de Loreto na Irlanda. Aos três meses de sua chegada, a irmã Maria Teresa (tomou o nome em honra de Teresa de Lisieux) foi enviada em uma missão na Índia para trabalhar em um colégio de meninas em Calcutá. Em 1937, confessou seus votos de pobreza, castidade e obediência e, como era o costume em sua ordem, lhe deram o título de Madre. Cinco anos depois fez um voto privado a Jesus “de não negá-lo”. Em 1946, durante uma viagem de trem rumo a um retiro (e a um pouco de descanso) em Darjeeling, se surpreendeu com uma série de intensas experiências místicas que incluíam escutar a voz de Jesus, que lhe pediu que começasse a trabalhar com os mais pobres entre os pobres. “Recusará?”, perguntou Jesus. Estas experiências, que ela denominou "chamado dentro do chamado" a convenceram de tomar o difícil passo de deixar as Irmãs de Loreto e fundar uma nova ordem.
Seus últimos anos de escuridão foram ainda mais desconcertantes devido às bênçãos únicas que tinha recebido nos primeiros momentos de sua vida religiosa. Além disso, os clérigos e membros de ordens religiosas eram (e ainda são) aconselhados para confiarem em Jesus como seu amigo mais íntimo, assim, faziam com que seu desaparecimento posterior da vida interior da Madre Teresa fosse quase impossível dela entender.
Parece que também pode ter demorado em reconhecer que sua escuridão pode ter sido uma sorte de resposta a suas ferventes orações e voto privado; em 1951 escreveu sobre seu desejo de “beber só de Seu cálice de dor” (a ênfase é dela). Para o leitor que sabe o que lhe esperava, esta é uma das passagens mais difíceis de ler de Venha e seja a minha luz. As seguintes provas lembram o comentário de outra Teresa, Teresa de Ávila, que disse que se vertem mais lágrimas sobre orações que foram respondidas que sobre as que permanecem sem resposta.
“Vim para amar a escuridão”
No final, em 1961, a Madre Teresa encontrou algum consolo de seu conflito interior com os conselhos de Joseph Neuner. Ele sugeriu que sua noite escura poderia ser uma maneira em que Deus a estava convidando a se identificar com o Cristo abandonado na cruz e com os pobres abandonados. Também lhe lembrou que o desejo mesmo de Deus vem de Deus. “Pela primeira vez nestes 11 anos”, escreveu ao teólogo jesuíta, “cheguei a amar a escuridão”. De fato, um dos aspectos mais comovedores de Venha e seja a minha luz, é que deixa claro o que uma pessoa pode sofrer sem a orientação espiritual devida e quanto alívio pode chegar com umas poucas palavras de sábio conselho.
Contudo, enquanto isto lhe proporcionava um entendimento mais profundo e o que poderíamos chamar de alívio intelectual, a ausência de Deus seguia incólume em suas orações. Em 1967, escreveu novamente para Neuner: “Padre, quero contar quanto desejo –quanto minha alma deseja a Deus– deseja somente a ele, o doloroso que é estar sem Ele”.
A Madre Teresa estava consciente de quão estranha era sua situação: a mulher aclamada como uma “santa vivente”, debatia com sua fé. Apesar de algumas vezes ter admitido se sentir como uma “hipócrita”, como diz em uma carta, decidiu que admitir publicamente suas lutas dirigiriam a atenção para ela, em vez de rumo à Jesus. Portanto, sofreu majoritariamente seus conflitos sozinha. Um aspecto radical menos conhecido de seus diários, neste ato pessoal de humildade: se estas cartas tivessem sido destruídas, poucos teriam conhecido seus conflitos. Tal como sua mãe tinha aconselhado, tratava de fazer o bem silenciosamente.
Por quê?
A maioria dos crentes que lê Venha e seja a minha luz, em algum momento se perguntará: “Por que Deus faria isso?” Claro que alguém pode perguntar: “Por que existe sofrimento?”
Em seus Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loyola sugere três possíveis explicações para a desolação espiritual. Primeiro, podemos ser “mornos, fracos ou negligentes” na oração. Este claramente não era o caso de Madre Teresa, que era absoluta e completamente fiel à oração diária, à Missa e às visitas freqüentes ao Sacramento Sagrado. Em segundo lugar, ela pode colocar à prova “quão dignos somos e quanto nos entregaremos no serviço e adoração a Deus”. Novamente, se a Madre Teresa, que trabalhou incansavelmente até sua morte, não se “entregou”, quem de nós se entrega? Em terceiro lugar, nos pode dar o “real reconhecimento” que o consolo é “um dom e uma graça de Deus, nosso Senhor”. Em outras palavras, nos lembra quem está no comando. Porém, após 10 ou 20 anos de escuridão, a Madre Teresa se deu conta disso, como demonstram suas cartas para seu diretor espiritual.
As “razões” divinas para seu conflito continuam sendo um mistério. Porém, certos frutos de seu sofrimento –além da tremenda capacidade de se identificar com os pobres– podem nos inspirar.
Por um lado, a Madre Teresa, como muitos santos, tinha um ego dominante, o suficientemente forte para fazê-la remar a favor da fundação de sua ordem confrontando uma fortíssima oposição. Um tema comum em suas primeiras cartas é sua obstinada força para conseguir a aprovação de sua incipiente ordem, uma busca nascida do convencimento de suas experiências místicas. “Por que me fazem esperar tanto?... Quanto mais deverei esperar? Poderei escrever de novo ou me dirigir diretamente à Roma?”, escreveu para o Bispo de Calcutá, em 1948, quando a aprovação vaticana para sua ordem não se outorgou com prontidão. Mais adiante, quando seu ministério floresceu, foi galardoada com honras mundanas, incluindo talvez o máximo elogio secular, o Prêmio Nobel da Paz. Será que seus conflitos espirituais de alguma maneira acalmaram seu orgulho natural, que de outra maneira poderia ter comprometido sutilmente sua missão?
Da mesma maneira, alguém poderia argumentar que as cartas da Madre Teresa, o fruto de sua agonia espiritual, que ela pediu para serem destruídas, agora ajudarão a um novo grupo de pessoas. Tendo ajudado os enfermos e moribundos de Calcutá durante sua vida, agora ajudava os que estavam cheios de dúvidas e os dubitativos como uma espécie de santo dos céticos. Poderia esta ser uma maneira em que Deus usa seus sofrimentos para produzir um bem ainda maior? É este o domingo de ressurreição da longa Sexta-Feira Santa da Madre Teresa? Só Deus, e agora a Beata Teresa de Calcutá, conhecem a resposta.
Grande santa, buscadora complicada
Venha e seja a minha luz revela que a Madre Teresa é uma das maiores santas. Ante tão temerária declaração, os historiadores da igreja e os teólogos seguramente dirão: “esperem e verão”. Entretanto, é difícil pensar em alguém que tenha conseguido tanto com tão pouca sustentação espiritual. As analogias mais próximas são Santa Joana Francisca de Chantal, fundadora da Ordem da Visitação, cujo conflito durou três décadas e São Paulo da Cruz, fundador da Ordem Passionista, que sofreu um conflito ainda maior, mas que obteve consolo rumo ao final de seus dias.
Todos os santos sofreram conflitos espirituais, mas a maioria esteve próximo de Deus durante seus anos de ministério ativo. Santo Inácio de Loyola, por exemplo, com freqüência era presa fácil da emoção ao celebrar uma missa, a ponto de chegar às lágrimas. Para alguns, inclusive, foram concedidas graças únicas. Em seus últimos anos São Francisco de Assis viveu experiências místicas durante a oração e em um retiro que lhe produziram marcas.
Em contraste, a Madre Teresa não sentiu nada durante 50 anos –exceto por um breve respiro– até a sua morte. “Minha alma é igual a um cubo de gelo”, escreveu. Venha e seja a minha luz também proporciona uma resposta não intencional a aqueles que durante sua vida consideraram Madre Teresa só como uma bem intencionada, mas pouco sofisticada crente. Suas cartas mostram como, ao se ver confrontada com uma crise espiritual, questionou com candor, vigor e paixão e finalmente respondeu com confiança, amor e trabalho de caridade. Revela-se, então, como uma crente complicada e uma buscadora sofisticada.
“Jamais lhe recusei nada”
A permanente aridez espiritual da Beata Teresa de Calcutá faz com que seus elogios mundanos sejam ainda mais extraordinários. Suas cartas também servem de lições aos crentes. Primeiro, os lembra que o que se poderia chamar Cristianismo radical não é simplesmente o terreno daqueles que chamamos santos. Muitos imaginam que os santos têm um acesso privilegiado a Deus na oração, assim, seu trabalho é de alguma maneira mais fácil, mais leve –um ponto de vista equivocado que isenta o “crente médio” de se empenhar em conseguir a santidade–. Em vez disso, a vida da Madre Teresa nos lembra que a santidade é um objetivo de todo crente, inclusive daqueles que têm dúvidas. Em segundo lugar, suas cartas nos lembram que a aridez, a escuridão e a dúvida são partes naturais da vida espiritual para o crente comum ou o santo extraordinário. Finalmente, nos lembram que a fidelidade não depende unicamente de sentimentos ou emoções.
A Beata Teresa permaneceu heroicamente fiel ao chamado original do mesmíssimo Deus que parece tê-la abandonado. Pouco antes de sua morte, uma de suas irmãs a viu rezando sozinha ante a imagem de Cristo e escutou uma frase que pode resumir toda sua existência: “Jesus”, orou, “jamais lhe recusei nada”.
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James Martin, S.J.
Trabalha como editor de América e autor de My Life With the Saints (Loyola) [Minha vida com os Santos (Loyola)]

 

http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=religion&idioma=pt&principal=260504

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