Abaixo segue parte da primeira aula para a turma do oitavo período sobre o futuro de quem se gradua em relações internacionais:
é preciso que você não tenha uma definição rígida do que seja relações internacionais, é ótimo que você queira atuar na área de relações internacionais. Mas em poucos lugares haverá uma correspondência entre o que você estudou e as atividades profissionais que você irá exercer, mas isso não quer dizer que você não está atuando no campo para o qual se preparou. Se você idealizar a área de relações internacionais, você será definitivamente infeliz profissionalmente. Tenho uma ex-orientanda que trabalha em uma área que, pra mim, é relações internacionais dentro do que pode ser relações internacionais no setor privado. Mas, para ela, não. Para ela, não é relações internacionais e ela se sente permanentemente insatisfeita com o emprego e buscando outro trabalho na área de RI. Mas ela nunca irá encontrar. Por quê? Porque ela idealiza o que são as relações internacionais. Não façam isso. Do ponto de vista do setor privado, as relações internacionais podem ser qualquer coisa no Brasil. Por quê? Porque no Brasil nem mesmo as grandes empresas possuem setores de análise, e de formulação de cenários prospectivos. E as multinacionais possuem estes departamentos em geral no exterior. Então o mercado para você usar teoria das relações internacionais é exíguo. Se vocês consultarem o site da empresa do Rodrigo, que ele acha que é uma consultoria de relações internacionais, de fato, não é. O que faz a consultoria do Rodrigo? Consultoria de comércio exterior e lobby. É relações internacionais? Pode ser que não. Mas se você trabalhar com isso e ficar sempre pensando que perdeu seu tempo cursando relações internacionais, porque não trabalha com RI, você estará condenado a ser infeliz profissionalmente.
Mas isto não quer dizer que você deva se tornar prisioneiro do curso de relações internacionais. Vendo que o curso de relações internacionais foi insuficiente para catapultar a sua careira. Você deve começar outro curso, vocês são novos, tem idade para começar de novo. Da minha turma de graduação, de 18, quatro foram fazer direito. Além de terem ficado entre os melhores alunos do curso de direito, pois já tinham bagagem intelectual, acharam um meio de colocar em prática também as relações internacionais.
Outra coisa que vocês devem se lembrar é que há outros concursos públicos que combinam com quem cursou relações internacionais além do concurso para diplomata, há o concurso para Oficial de Chancelaria do próprio MRE, Analista de Comércio Exterior no Ministério do Desenvolvimento, Analista de Políticas públicas no Ministério do Planejamento e outros . Claro que para estes concursos vocês teriam que estudar matérias que vocês não viram no curso de RI, mas vocês têm condições de fazê-lo e no exercício da atividade estariam sempre próximos da área de RI. Mesmo na Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vocês podem estar próximos da área de RI, pois foi lá que ocorreram as discussões para a formulação da posição brasileira em relação às patentes de medicamentos na OMC. Então em diferentes agências do Estado você pode atuar na área de RI e não apenas no Itamaraty, até porque o Itamaraty tem glamour, mas as coisas relevantes são realizadas fora do Itamaraty.
E quem quiser efetivamente prestar o concurso para diplomata? Deve estar disposto a sofrer ainda mais, a sacrificar-se. Por exemplo, muita gente vê fraude no fato de filhos de diplomatas ou políticos serem aprovados no concurso, mas é óbvio que eles possuem vantagem. Quais? A vantagem de ter sempre estudado para ser diplomata, a vantagem de ter tempo livre para estudar para o concurso. O mesmo vale para quem estudou nas universidades federais, o sujeito teve mais tempo para estudar, os cursos são diurnos o que significa que o aluno não precisa, em tese, trabalhar. Então as chances são maiores. E ainda assim, o candidato pode se perder por se desviar do foco, tenho um colega que se matava de estudar. Mas um belo dia ele se apaixonou, perdeu-se, o tempo que antes era dedicado aos estudos agora era dedicado a namorada. Então, vocês devem decidir o quanto vocês estão dispostos a sacrificar. Se você trabalha o dia inteiro e quer passar no concurso, sua vida social deve ser encerrada. Encontrar-se com o namorado ou namorada, uma vez por mês, e vá logo para os finalmentes, nada de preliminares, você não pode perder tempo. Se você pode se dedicar apenas aos estudos, então você pode reservar uma noite por semana para a vida social e outra noite para a namorada ou namorado com tempo para as preliminares. Em qualquer caso é bobagem fazer cursinho de final de semana, um cursinho onde você tem uma aula de cada disciplina por mês é inútil. Só vai para lá quem não vai passar. Então como se estuda? Sozinho, com a bunda na cadeira, leia, leia, leia e anote, livro por livro da bibliografia de todos os assuntos. Leia toda a bibliografia, resuma todos os livros, prepare respostas para algumas questões para você se preparar para responder a prova. Decore datas importantes e tratados dos quais o Brasil faça parte, especialmente os sul-americanos. E nas vésperas da prova, reveja as suas notas de leitura.
Os cursos de especialização, erroneamente chamados de pós-graduação ou MBAs, não tem qualquer relevância acadêmica, nem fará com que você encontre emprego. Então você só deve fazer um curso de especialização caso a empresa onde você trabalha leve isso em consideração na progressão da carreira, ou se tendo um emprego consolidado você deseje se preparar para mudar de emprego e função. Mesmo um curso de especialização no exterior é bobagem, serve apenas desperdiçar dinheiro, use-o em outra coisa. Curso de MBA no Brasil é um curso de especialização. No exterior é mestrado. No Brasil o nome MBA é usado apenas para dar status, não são equivalentes aos MBAs do exterior. Então se você for rico, compensa fazer um MBA no exterior. Em qualquer outro caso, uma outra graduação fará mais diferença que um curso de especialização.
Outra opção é começar um mestrado. O mestrado pode fazer diferença do ponto de vista do mercado trabalho, mas é bobagem fazer mestrado só por isso. Você deve avaliar se tem efetivamente interesse nas questões acadêmicas e a questão crucial é: você gosta de teoria? Você gosta de discutir teoria? Você gosta de conversar sobre firulas intelectuais? Se respondeu “não” para uma das questões, você não deve fazer mestrado. Se respondeu talvez, pode ser, experimente cursando uma disciplina como aluno especial no mestrado em ciência política da USP. Os mestrados importantes em relações internacionais são o da UnB, da PUC-Rio, o San Tiago Dantas, o da USP e o da Unicamp. O da USP e da UNICAMP são mais difíceis pois a prova de seleção é de ciência política e lá dentro você se especializa em relações internacionais. Então na prova haverá muita coisa que vocês não estudaram. Assim a seleção da UnB, PUC e San Tiago Dantas são mais fáceis. E ao se candidatar vocês devem fazer um projeto perfeito, pois eles sempre darão preferência aos candidatos de universidades públicas. É injusto? É. Mas não tem jeito é preciso conviver com isso.
A que conclusão chegamos de tudo isso? Que há caminhos, que há possibilidades. A vida é cheia de fardos dos quais jamais nos livraremos, mas possui oportunidades. As oportunidades são restritas, então são bem-sucedidos apenas aqueles que estão dispostos a se sacrificarem para agarrar as oportunidades. O seu sucesso e o seu fracasso é resultado das suas escolhas, das suas ações, das suas decisões. Isso significa também que todo o resultado que você teve na faculdade é irrelevante, começa um novo jogo, com novas regras, então você ainda pode se recuperar.
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