Folha de São Paulo
São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007
O Brasil excluído da estação espacial
RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
Com a exclusão, o Brasil perdeu o direito de incluir o seu nome na lista dos países que contribuíram para a construção da base orbital
O BRASIL foi excluído do projeto da ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês) porque, após quase dez anos de participação, nunca contribuiu com um único parafuso para o programa.
Com a exclusão, o Brasil perdeu o direito de incluir o seu nome na lista dos países que contribuíram para a construção da base orbital.
Como um dos 16 (atualmente 15) parceiros no projeto de construção da Estação Espacial Internacional, o Brasil assumiu o compromisso de construir alguns equipamentos -no valor de 120 milhões de dólares. Além do treinamento, a Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, se encarregaria de enviar um astronauta brasileiro ao espaço. Tudo isso sem nenhum custo adicional.
O Brasil, porém, não cumpriu o contrato pelo qual deveria construir os equipamentos previstos no acordo. Enquanto isso, os outros países fizeram as suas contribuições para a montagem da ISS.
O vôo de Marcos Cesar Pontes (444º vôo de um astronauta ao espaço) foi, na realidade, uma grande jogada política do governo brasileiro. Ela não contribuiu em nada para reafirmar nosso programa espacial.
Na realidade, Pontes poderia ir ao espaço em 2009, de graça -ou seja, sem o pagamento dos 10 milhões de dólares-, se o Brasil tivesse cumprido o acordo de construir as tais peças.
Era sem dúvida mais importante cumprir essa tarefa, porquanto ela iria gerar um desenvolvimento tecnológico, introduzindo o Brasil no restrito mercado da indústria espacial.
No entanto, o mais importante seria destinar recursos para tornar uma realidade o programa espacial brasileiro. Há mais de dez anos, o veículo lançador -o VLS, Veículo Lançador de Satélites- está sofrendo uma "sabotagem governamental". Agora, com a saída do Brasil do projeto da Estação Espacial Internacional, a Missão Centenário passou a constituir um grande contra-senso.
Aliás, desde o início, a associação do envio de um astronauta brasileiro ao espaço com o centenário do vôo do 14 Bis colocou em evidência que o Brasil, em cem anos, sofreu grande atraso.
Naquela época, fomos os primeiros a controlar a dirigibilidade dos balões e levantar vôo com um veículo mais pesado que o ar, graças à iniciativa de Santos Dumont. Em 1906, o Brasil foi o primeiro. No caso do astronauta, além de não fazê-lo pelos próprios meios -usamos lançadores de outros países-, fomos o 36º país a enviar um homem ao espaço, 45 anos depois do primeiro.
A Índia e a China, que já têm os seus lançadores há mais de dois decênios, começaram os seus programas espaciais na mesma época que o Brasil. A Índia vem lançando os seus mais diferentes satélites por meios próprios. A China foi o terceiro país a colocar um astronauta no espaço pelos seus próprios meios. Não lançou nenhum homem no espaço com o auxílio tecnológico de outro país.
Na verdade, a falta de sensibilidade dos governos em relação à pesquisa científica e tecnológica no Brasil constitui um ato de desrespeito dos nossos governantes para com o futuro da nossa pátria.
O importante seria que as autoridades governamentais do Brasil compreendessem que o programa espacial é fundamental para a economia -o transporte de satélites é um comércio muito lucrativo- e também para a segurança nacional.
Aliás, fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico, tendo em vista o seu efeito nas mais diferentes indústrias, como a de eletrônica, a de informática etc. O atraso do nosso programa espacial já deveria ter provocado uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro.
Quando a antiga União Soviética colocou o primeiro satélite artificial em órbita, houve um questionamento por parte dos políticos norte-americanos para saber a razão pela qual os Estados Unidos não tinham conseguido fazê-lo com sucesso antes dos russos. Lá, até o sistema de ensino foi questionado. E aqui?
RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO, 72, astrônomo, doutor pela Universidade de Paris, é criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins (RJ). É autor de mais de 85 livros, dentre os quais "Anuário de Astronomia e Astronáutica 2007".
www.ronaldomourao.com
Um comentário:
Cada dia mais estou envergonhado com essa porcaria que está contecendo com o Brasil ...
Como pode não contribuir com uma missão que traria inúmeros benefícios ao Br ???
Culpa da Tucanada e do Lulismo ... Estou com cada vez mais raiva desse governo brasileiro ... Aposto que a verba foi contigenciada ... pra fazer superávit primário ...
DE LUTO POR UM PAÍS SEM VERGONHA ....
Johnnie®
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