Ontem uma aluna após a prova veio conversar sobre a dúvida que atormenta a maior parte ou todos (também as suas famílias) que cursam a graduação em relações internacionais, o que fazer, qual o mercado de trabalho. Faz 10 anos que me graduei em relações internacionais na UnB e a dúvida não se alterou. No último semestre de uma colega no curso ela chorou sentada num dos bancos do corredor da faculdade dizendo que jamais encontraria no jornal um anúncio procurando alguém formado em relações internacionais. Quanto a isso, o quadro não se modificou.
Inicialmente eu pensava que faria graduação em administração, mas como sempre fui prático, comprei o curso de administração do Instituto Universal Brasileiro e li todas as as apostilas, fiz exercícios, detestei, administração não era o que eu imaginava. Então precisava procurar outro curso, eu sabia os assuntos que me interessavam aí as opções eram economia, ciências sociais, filosofia, ciência política, direito, aí o guia do estudante me mostrou que existia o curso de relações internacionais onde havia um pouco de cada coisa. Então decisão tomada de maneira firma e definitiva, vestibular para relações internacionais. Prestei vestibular apenas para relações internacionais. Não me decepcionei, mas logo no primeiro semestre do curso um colega desistiu, disse que não sabia que em relações internacionais teria que estudar política. O curso da UnB tem alguns complicadores, porque o aluno tem a possibilidade de escolher alguns disciplinas livremente. No meu caso fiquei em dúvida entre economia e ciência política. Como em economia as disciplinas tinham pré-requisitos demais, então optei por ciência política até porque naquele momento eu poderia fazer todas as disciplinas de ciência política e sair com dois diplomas. O curso que me deu mais densidade intelectual foi ciência política. Mas cometeria o mesmo erro duas vezes, faria relações internacionais. Como logo entrei no mestrado em economia e daí fui conduzido para dar aula não tive o mesmo dilema de meus colegas e alunos. Quem estuda relações internacionais em Brasília faz o que? Excluindo ficar desempregado, trabalham em geral no governo em diferentes atividades a maior parte delas sem qualquer relação com relações internacionais. Alguns fazem o que eu fiz, algum tipo de pós-graduação em outra coisa, ou começam nova graduação já tendo uma enorme vantagem (essa alternativa depende da idade de término do primeiro curso para ser uma alternativa realmente boa), e claro há aqueles trabalham realmente com relações internacionais em ONGs, OIs ou mesmo no governo. Em Brasília, começar em empresa não é uma alternativa realmente viável de carreira. Agora quando se pensa na situação daqueles que cursam relações internacionais em São Paulo as condições se invertem. Não há espaço real no governo. Por exemplo, na prefeitura de São Paulo tem a secretaria de relações internacionais, mas é uma palhaçada, não deveria existir e lá não se faz nada de relações internacionais, é um depósito de acordos de cooperação técnica. Uma ex-aluna que trabalha lá não me deixa mentir. No governo da Marta inicialmente tinha alguma importância, aí quando saiu o Jorge Mattoso para trabalhar no governo Lula, um dos meus ex-alunos se tornou secretário e aprofundou as relações com ONGs, mas hoje a secretaria só existe porque ajuda na distribuição de cargos. O Serra quando assumiu iria fechar a secretaria, mas aí faltou uma secretaria para o PPS e ele manteve. Isso é o Brasil. Voltando então, em São Paulo, governo não é a melhor opção para trabalhar. O que resta? Empresas e ONGs. É evidente que nem mesmo em São Paulo alguém deve comprar o Estadão para olhar os classificados e encontrar vários anúncios de procura-se profissional de relações internacionais. No entanto, há vagas. Há vagas porque alguém graduado em relações internacionais pode ocupar vaga que seria ocupada por administradores, economistas, e outros com maior categoria. O que os estudantes de relações internacionais não podem fazer em hipótese alguma é deixar para começar a carreira profissional quando terminar o curso, preciso buscar estágios e estágios em grandes empresas onde faça diferença o curso de relações internacionais. Por exemplo, numa pequena empresa de comércio exterior não faz grande diferença contratar alguém com graduação em comércio exterior ou um em relações internacionais, porque ela sempre fugirá das questões complexas. Nas grandes empresas se faz política, as questões políticas são consideradas, então o bacharel em relações internacionais se sobressai sobre o administrador e outros. Grandes empresas tem departamentos de relações governamentais. Grandes empresas possuem algumas funções onde precisa de profissionais flexíveis e aí os bacharéis de relações internacionais se sobressaem. Claro que para quem trabalha para pagar a faculdade há muita dificuldade em mudar de área, pois precisa deixar um emprego, mas se quiser realmente trabalhar com relações internacionais deve começar durante o curso, depois é muito difícil, o período de estágio serve para o empregador acreditar que pode confiar em um profissional de relações internacionais, o empregador dificilmente testará alguém com uma formação estranha numa posição efetiva, é mais fácil, por exemplo, acreditar em alguém formado em administração em comércio exterior. Claro que também não é fácil encontrar bons estágios, mas é possível e depende da capacidade individual de cada um, depende também de cada um aprender a utilizar o curso a seu favor. Todo curso é teórico, é bobagem falar em curso prático, funções práticas, objetivas, iguais em todas as empresas são exercidas por máquinas, as outras precisam ser ensinadas a quem entra na empresa. Então a sua falta de prática só será resolvida trabalhando. E o que fazer antes disso? Se envolver nas atividades da faculdade, participar, treinar para aprender a pensar, só se você aprender a pensar é que você conseguirá vencer as "máquinas" que são colocados no mercado de trabalho por outros cursos, se não conseguir pensar você será outra máquina e o diploma de relações internacionais não servirá para nada, ao contrário atrapalhará.
E as ONGs? Também são um bom mercado de trabalho, mas o ideal é trabalhar em uma que defende uma causa que você acredita, e aí você pode começar inclusive atuando como voluntário antes de começar a demandar um emprego. Enfim, há possibilidades. O mercado de trabalho é mais complexo do que os jornais dizem, a formação, a qualificação nem sempre é considerada pelos empresas. Nem sempre o chefe é a pessoa com maior qualificação na empresa. Então não se atormente muito com isso, a dinâmica do mercado de trabalho não é racional. Por exemplo, meu irmão adora procurar emprego, mesmo quando está empregado olha os classificados todo domingo e responde aos anúncios, ele já foi recusado por ter sido considerado com qualificações demais para a posição. É uma insanidade? É, mostra como o mercado de trabalho é irracional. É melhor para o espírito sair da faculdade com um título claro, como médico, engenheiro, economista, contabilista? É. Mas títulos claros não enchem barrigas, nem destes mencionados, nem de filósofos, psicólogos, sociólogos, cientistas políticos, historiador, etc. é um problema geral que se agrava nas ciências humanas em geral. Vejam um curso tradicional como direito, milhares se formam semestralmente, agora quantos se tornam mesmo advogados, uma minoria, a maioria não vai passar nunca na prova da OAB e mesmo entre os aprovados nem todos serão efetivamente advogados, enfim dos graduandos em direito a maioria não poderá se candidatar nem a advogado de porta de cadeia. Então as lágrimas que vertemos pelo curso de relações internacionais são na verdade lágrimas pelo Brasil que não é capaz de empregar os profissionais que forma sejam os bem formados sejam os maus formados.
Por fim, uma coisa que insisto com os alunos é que não se deve idealizar as relações internacionais, nem tudo é glamouroso. Não fique a cada emprego que você encontra se perguntando se é ou não relações internacionais, pergunte se é ou não aquilo que você realmente quer fazer, se a atividade realmente te satisfaz profissionalmente e pessoalmente. Se é relações internacionais ou não é questão para intelectuais que não tem mais o que fazer e que muitas vezes ainda recebem para pensar besteiras.
Inicialmente eu pensava que faria graduação em administração, mas como sempre fui prático, comprei o curso de administração do Instituto Universal Brasileiro e li todas as as apostilas, fiz exercícios, detestei, administração não era o que eu imaginava. Então precisava procurar outro curso, eu sabia os assuntos que me interessavam aí as opções eram economia, ciências sociais, filosofia, ciência política, direito, aí o guia do estudante me mostrou que existia o curso de relações internacionais onde havia um pouco de cada coisa. Então decisão tomada de maneira firma e definitiva, vestibular para relações internacionais. Prestei vestibular apenas para relações internacionais. Não me decepcionei, mas logo no primeiro semestre do curso um colega desistiu, disse que não sabia que em relações internacionais teria que estudar política. O curso da UnB tem alguns complicadores, porque o aluno tem a possibilidade de escolher alguns disciplinas livremente. No meu caso fiquei em dúvida entre economia e ciência política. Como em economia as disciplinas tinham pré-requisitos demais, então optei por ciência política até porque naquele momento eu poderia fazer todas as disciplinas de ciência política e sair com dois diplomas. O curso que me deu mais densidade intelectual foi ciência política. Mas cometeria o mesmo erro duas vezes, faria relações internacionais. Como logo entrei no mestrado em economia e daí fui conduzido para dar aula não tive o mesmo dilema de meus colegas e alunos. Quem estuda relações internacionais em Brasília faz o que? Excluindo ficar desempregado, trabalham em geral no governo em diferentes atividades a maior parte delas sem qualquer relação com relações internacionais. Alguns fazem o que eu fiz, algum tipo de pós-graduação em outra coisa, ou começam nova graduação já tendo uma enorme vantagem (essa alternativa depende da idade de término do primeiro curso para ser uma alternativa realmente boa), e claro há aqueles trabalham realmente com relações internacionais em ONGs, OIs ou mesmo no governo. Em Brasília, começar em empresa não é uma alternativa realmente viável de carreira. Agora quando se pensa na situação daqueles que cursam relações internacionais em São Paulo as condições se invertem. Não há espaço real no governo. Por exemplo, na prefeitura de São Paulo tem a secretaria de relações internacionais, mas é uma palhaçada, não deveria existir e lá não se faz nada de relações internacionais, é um depósito de acordos de cooperação técnica. Uma ex-aluna que trabalha lá não me deixa mentir. No governo da Marta inicialmente tinha alguma importância, aí quando saiu o Jorge Mattoso para trabalhar no governo Lula, um dos meus ex-alunos se tornou secretário e aprofundou as relações com ONGs, mas hoje a secretaria só existe porque ajuda na distribuição de cargos. O Serra quando assumiu iria fechar a secretaria, mas aí faltou uma secretaria para o PPS e ele manteve. Isso é o Brasil. Voltando então, em São Paulo, governo não é a melhor opção para trabalhar. O que resta? Empresas e ONGs. É evidente que nem mesmo em São Paulo alguém deve comprar o Estadão para olhar os classificados e encontrar vários anúncios de procura-se profissional de relações internacionais. No entanto, há vagas. Há vagas porque alguém graduado em relações internacionais pode ocupar vaga que seria ocupada por administradores, economistas, e outros com maior categoria. O que os estudantes de relações internacionais não podem fazer em hipótese alguma é deixar para começar a carreira profissional quando terminar o curso, preciso buscar estágios e estágios em grandes empresas onde faça diferença o curso de relações internacionais. Por exemplo, numa pequena empresa de comércio exterior não faz grande diferença contratar alguém com graduação em comércio exterior ou um em relações internacionais, porque ela sempre fugirá das questões complexas. Nas grandes empresas se faz política, as questões políticas são consideradas, então o bacharel em relações internacionais se sobressai sobre o administrador e outros. Grandes empresas tem departamentos de relações governamentais. Grandes empresas possuem algumas funções onde precisa de profissionais flexíveis e aí os bacharéis de relações internacionais se sobressaem. Claro que para quem trabalha para pagar a faculdade há muita dificuldade em mudar de área, pois precisa deixar um emprego, mas se quiser realmente trabalhar com relações internacionais deve começar durante o curso, depois é muito difícil, o período de estágio serve para o empregador acreditar que pode confiar em um profissional de relações internacionais, o empregador dificilmente testará alguém com uma formação estranha numa posição efetiva, é mais fácil, por exemplo, acreditar em alguém formado em administração em comércio exterior. Claro que também não é fácil encontrar bons estágios, mas é possível e depende da capacidade individual de cada um, depende também de cada um aprender a utilizar o curso a seu favor. Todo curso é teórico, é bobagem falar em curso prático, funções práticas, objetivas, iguais em todas as empresas são exercidas por máquinas, as outras precisam ser ensinadas a quem entra na empresa. Então a sua falta de prática só será resolvida trabalhando. E o que fazer antes disso? Se envolver nas atividades da faculdade, participar, treinar para aprender a pensar, só se você aprender a pensar é que você conseguirá vencer as "máquinas" que são colocados no mercado de trabalho por outros cursos, se não conseguir pensar você será outra máquina e o diploma de relações internacionais não servirá para nada, ao contrário atrapalhará.
E as ONGs? Também são um bom mercado de trabalho, mas o ideal é trabalhar em uma que defende uma causa que você acredita, e aí você pode começar inclusive atuando como voluntário antes de começar a demandar um emprego. Enfim, há possibilidades. O mercado de trabalho é mais complexo do que os jornais dizem, a formação, a qualificação nem sempre é considerada pelos empresas. Nem sempre o chefe é a pessoa com maior qualificação na empresa. Então não se atormente muito com isso, a dinâmica do mercado de trabalho não é racional. Por exemplo, meu irmão adora procurar emprego, mesmo quando está empregado olha os classificados todo domingo e responde aos anúncios, ele já foi recusado por ter sido considerado com qualificações demais para a posição. É uma insanidade? É, mostra como o mercado de trabalho é irracional. É melhor para o espírito sair da faculdade com um título claro, como médico, engenheiro, economista, contabilista? É. Mas títulos claros não enchem barrigas, nem destes mencionados, nem de filósofos, psicólogos, sociólogos, cientistas políticos, historiador, etc. é um problema geral que se agrava nas ciências humanas em geral. Vejam um curso tradicional como direito, milhares se formam semestralmente, agora quantos se tornam mesmo advogados, uma minoria, a maioria não vai passar nunca na prova da OAB e mesmo entre os aprovados nem todos serão efetivamente advogados, enfim dos graduandos em direito a maioria não poderá se candidatar nem a advogado de porta de cadeia. Então as lágrimas que vertemos pelo curso de relações internacionais são na verdade lágrimas pelo Brasil que não é capaz de empregar os profissionais que forma sejam os bem formados sejam os maus formados.
Por fim, uma coisa que insisto com os alunos é que não se deve idealizar as relações internacionais, nem tudo é glamouroso. Não fique a cada emprego que você encontra se perguntando se é ou não relações internacionais, pergunte se é ou não aquilo que você realmente quer fazer, se a atividade realmente te satisfaz profissionalmente e pessoalmente. Se é relações internacionais ou não é questão para intelectuais que não tem mais o que fazer e que muitas vezes ainda recebem para pensar besteiras.
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