Não foi um dia perfeito, porque os dias perfeitos não existem. Mas se o dia não foi perfeito, eu conheci a perfeição. A perfeição que se encarna em cada bebê que nasce. E Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança" (Gn, 1-26). Se o homem é a imagem e semelhança de Deus, o melhor de Deus é um bebê. É apenas nesta condição que o homem pode apenas despertar no outro os mais nobres sentimentos. É apenas quando um homem se volta contra o seu semelhante na forma de um bebê que podemos crer com certeza que o demônio existe e nos espreita, e atua sobre nós. Quando senão diante da vida de um bebê podemos esperar que toda maldade seja deixada de lado para apenas contemplarmos nas suas formas, nos seus gestos, nos seus sorrisos a perfeição de Deus? Não há outro momento no qual a pureza seja a marca da relação ainda que o mundo esteja em putrefação. Quando crescem e se transformam o nosso olhar muda. De vez em quando conseguimos olhar para o outro e ver a mesma pureza, a mesma singeleza e perfeição. Mas a maior parte do tempo convivemos com a maldade que cresce e prospera a cada ano. É possível que chegue um momento que nem mesmo mais a mãe consiga enxergar nada de bom naquele que foi um dia o símbolo da perfeição. Mas isto não quer dizer que a perfeição não esteja mais lá. Quer dizer apenas que para viver em sociedade não é possível manter a pureza e a singeleza. E aí nas relações que construímos com os outros não há demônio para ser culpado, somos nós. Nós mesmos que passamos a considerar normal as perversões. Mas quando nós colocamos diante de um bebê olhando-o com o mesmo olhar que ele nos olha, o olhar de estupefação e admiração diante da perfeição, somos também a imagem e semelhança de Deus (quer ele exista ou não) ainda que por apenas alguns minutos. Enquanto nos perdemos admirando os pequenos olhos brilhantes, enquanto observamos cada tênue movimento da face esperando por ver um sorriso, um pequeno sorriso capaz de iluminar uma alma que só enxerga as sombras do mundo. Quando seguramos as pequenas mãozinhas, quando os pezinhos se mexem, e tudo parece tão lindo, tão perfeito, tão harmônico. Santo Agostinho ansiava pela Cidade de Deus, contemplar um bebê é aproximar-se dela certamente.
Minha família é muito grande, então convivi com vários bebês. Quando eu tinha uns 12, 13 anos, eu achava muito chato, o povo ficar falando "nossa, como vc cresceu, já te peguei no colo". Mas hoje eu penso isso, é um horror, tem nenê que eu peguei, brinquei, cuidei, e hoje já passou dos 25 anos. Mas é claro que eu era também uma criança. O Gnaldim (que morria de raiva quando eu não deixava ele me bater), o Quico (sempre foi a manha em pessoa, era um nenê lindo, nunca perdeu a cara de sapeca), a Dorita (como os caxinhos da Doritinha eram lindos, ela parecia um anjinho, que raiva que deu quando cortaram o cabelo dela), o Clever Neto (que deixei cair fazendo ele voar como o superhomem rsrs), o Antônio Paulo (ia lá pra casa pra brincar de brigar), a Nayanne (que virou emo, pode isso?), a Daniele (o cabelo loirinho, lisinho, lindo e quando aprendeu a falar, não calava a boca um minuto, vc nem precisava responder, ela falava por todo mundo e hoje é uma adolescente tímida rsrs), a Dunnya, o Munir Filho (ele tinha um sorriso lindo, e era um preguiçoso, demorou a falar, eu cheguei a falar pra minha mãe que achava que ele era mudo, só apontava o que queria, falar nada, ainda tem uma cara de sapeca), as minhas duas afilhadas, a Isadora e a Talita. E o Marcelinho? O Marcelinho era um encanto quando nasceu, muito lindo, era irresistível ficar com ele no braço, colocar manha nele, era um bebê muito fotogênico. No batizado da irmãzinha dele, a Isadora, eu fiquei com ele no braço um tempão, aí comecei a brincar de levar o dedo na boca dele e tirar antes dele conseguir morder, e de vez em quando eu deixava ele morder. E ele inventou de vir com o dedinho na minha boca pra eu tentar morder e depois de um tempo ou eu acelerei ou ele diminuiu a velocidade, e eu mordi o dedinho dele. Tadinho, como ele chorou, óbvio que quis ir para o braço de outro. Aí quando ele acalmou, estava com aquele cara de bravo ainda, eu falei pra ele, Marcelinho quer morder meu dedo, eu deixo, aí abriu um sorriso, mordeu meu dedo, eu fiz um drama como se tivesse doido muito e o problema foi resolvido. O Clever Neto eu coloquei ele de bruços nos meus braços e fui dar uns vôos rasantes, ele escorregou, fui um berreiro, quase chorei de dó. Aí no outro dia ele foi lá em casa de novo brincar, mas aí não queria deixar eu pegá-lo de novo, disse que eu tinha deixado ele cair. Ele foi a única criança que meu irmão e eu deixávamos brincar com nossos "comandos em ação", aí falei pra ele que se ele não deixasse eu pegar ele de novo, eu não deixava mais ele brincar com os "comandos em ação", obviamente que aí ele teve que deixar, mas não caiu de novo.
E isso tudo porque nesta segunda-feira finalmente conheci meu sobrinho, Ian, qua nasceu em julho.
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