Senador,
Nunca votei no senhor, porque nunca fui eleitor
Senador Mercadante, nunca tive ilusões quanto a senadora Ideli Salvati, dela não poderia esperar outra coisa que apoiar o Renan Calheiros. A carreira política dela é débil, foi eleita por acaso no rastro do desempenho eleitoral do Lula em 2002, então ela é fraca, para se manter na política precisa da cúpula. O senhor não, senador Mercadante, para se reeleger o senhor não precisa se vergar, não precisaria se aliar ao Renan Calheiros. O senhor poderia escolher entre ser um Eduardo Suplicy ou uma Ideli Salvati, e o senhor escolheu ser uma Ideli. Senador, os seus eleitores e aqueles que um dia acreditaram no PT e no senhor não mereciam isso. Senador, a senadora Ideli Salvati pode fazer estas negociações vergonhosas porque a carreira política termina em 2010. Em
Senador Mercadante, eu acreditava que o deputado José Genoíno era honesto. Uma vez ele participou de um debate na UnB e me disse que ajudava os pais no Ceará e se mantinha apenas com os proventos de deputado, e eu acreditei senador Mercadante? O senhor acredita que eu já citei o José Genoíno como exemplo de político que eu tinha certeza que era honesto? Pois acredite, eu já fiz isso, e hoje sinto vergonha da minha ingenuidade. Senador Mercadante, eu já acreditei no José Dirceu, quando ele tomou o poder no PT, eu acreditei que isso significaria uma racionalização da luta política, mas não que levaria a um desvio ético ou doutrinário. Senador Mercadante, eu acreditava no PT. Na eleição de 1989, eu ainda não podia votar e talvez nem votasse no PT. Mas, senador Mercadante, em 1 de maio de 1994, quando o comício/comemorações do 1 de maio foi atropelado pela morte do Senna, eu estava sentado lá no gramado da Esplanada aguardando se haveria comício ou não. Senador, eu lamentei profundamente quando José Paulo Bisol teve que deixar de ser o candidato a vice do Lula pelas denúncias que apareceram contra ele. E lamentei ainda mais que o senhor fosse escolhido para ser o novo vive. Não, senador Mercadante, não é porque eu achasse que o cargo era grande demais para o senhor, era o contrário, ser candidato a vice-presidente numa chapa que seria certamente derrotada, colocava no limbo por 4 anos um político que teria um futuro brilhante, podendo até ser presidente. Veja só, senador Aloísio Mercadante, em 1994 eu imaginava que ser candidato a vice atrasaria a sua carreira política. É senador, eu esperava que o senhor não apenas fizesse parte, mas liderasse um projeto de mudança do Brasil.
Senador Mercadante, eu fiquei profundamente decepcionado quando o Lula escolheu Antonio Palocci para ministro da Fazenda além sabia que o governo havia sido cooptado no essencial pelos nomes convidados para o ministério da Fazenda. Eu esperava que o senhor, Senador, fosse o ministro. Mas o Lula não queria e aí vocês acharam aquela desculpa que com o cabedal de votos com os quais o senhor foi eleito não poderia deixar o Congresso. Nessa eu não acreditei, senador. Mas acreditei, senador, que o senhor não se tornou ministro pelas suas virtudes e não pelos seus defeitos, entendi que o senhor sendo ministro não tiraria os olhos da cadeira que desejaria ocupar em seguida no terceiro andar do Palácio do Planalto, o Lula não podia ter num ministério tão importante quanto o da Fazenda alguém que desde o primeiro dia estivesse olhando para cadeira dele. Além disso, senador, sempre acreditei que o senhor não fosse neoliberal e que as críticas ao neoliberalismo fossem sinceras. Eu tenho o livro que o senhor organizou, Senador, e que foi publicada pelo Instituto de Economia da Unicamp. Então pensei, como o senador Mercadante não é neoliberal e o Lula quer manter as políticas neoliberais, então o ministro da Fazenda não poderia ser o senador Mercadante, ele não aceitaria desempenhar esse papel. Senador Mercadante, não se assuste com a minha ingenuidade, eu acreditava mesmo nas boas intenções do PT e nas críticas ao neoliberalismo.
Apesar do meu enorme desgosto pelas escolhas feitas para o ministério da Fazenda, que entendia já garantia o fracasso do governo e ausência de mudanças, eu fui assistir a posse do Lula em 1 de janeiro de 2003, senador, fiquei horas de pé e um cavalo dos Dragões da Independência ainda pisou no meu pé, que sangrou de verdade. Mas não me arrependi de ter ido. Comprei todos os jornais e revistas sobre a posse no dia 2 para guardar como material histórico. Senador Mercadante, eu acreditava no PT. Quando saíram as primeiras denúncias sobre corrupção, depois o Roberto Jéferson denunciando o mensalão, senador, eu já tinha perdido algumas das minhas ilusões, já sabia que o governo não promoveria nenhuma mudança estrutural, não passaria de velha política social compensatória. Mas eu ainda acreditava na honestidade da maior parte do PT, devo confessar que no José Dirceu, eu já não acreditava há algum tempo. Mas nunca pensei que houvesse tamanho esquema de caixa 2, de corrupção dentro do PT. Ainda pensava que era um fato isolado. Senador Mercadante, meu mundo desabou quando descobriram que o José Genoíno tinha posto a mão nessa cumbuca, aí não é possível, sempre defendi a honestidade, não roubaria nem pra ele nem para o partido. Senador, vocês expulsarão a Heloísa Helena do partido e eu ainda tentei entender isso, é preciso ser pragmático, mas é óbvio que ela estava certa, foi o partido que encampou as políticas neoliberais do Lula, tudo bem, consideremos isso um fato menor. Entretanto todos os quadros que tentavam ser coerentes com passado eram colocados de lado, e eu, senador Mercadante, na minha ingenuidade pensava, desse jeito qualquer hora até o senador Mercadante sai do PT e o senhor não sai. E aí eu explicava, o senador Mercadante não sai do PT, porque embora não sendo corrupto, acredita que pode mudar não só partido, mas o país a partir de dentro, mudando para um partido menor perderia a projeção necessária para liderar mudanças. Senador Mercadante, eu acreditava que o senhor quisesse liderar mudanças. Quando as denúncias do mensalão dominaram o noticiário o senhor não se manifestava, por exemplo, como o Tarso Genro, mas eu entendia o senhor era líder, ao mesmo tempo não podia se indispor com a base
Senador Mercadante, obrigado, obrigado por remover as minhas últimas ilusões políticas. Durante todo este período acreditei que o diga-me com quem andas que te direi quem és não se aplicava ao senhor. Agora, não dá mais. Eu agradeço que senhor tenha nos contado que o seu lado é ao lado do Renan Calheiros, e desse modo, o senhor me livrou de outra decepção, já sei que não posso votar nem esperar do senhor nada diferente do que posso esperar de Renan Calheiros ou Ideli Salvati. O senhor fez um bem enorme ao país, claro ajudar a salvar um corrupto não é algo bom, mas ao fazer isso, agora, ninguém mais poderá votar enganado ao votar
Depois deste favor que nos prestou, senador, revelando a sua verdadeira face. O senhor nos disse que queria mais investigações, mas não pelos senadores, e que vai pedir para o presidente do senado se licenciar. Bons tempos aqueles nos quais o senhor, o José Dirceu e o José Genoíno eram ávidos por investigações, não é? Era um mundo mais ingênuo. Tudo bem, este tempo não volta, então teríamos que nos contentar com o seu pedido para que Renan Calheiros se licencie da presidência do Senado já que a renúncia estaria fora de cogitação. Não faça isso, senador. Se o senhor não está disposto a levar o seu papel às últimas conseqüências, não peça que o senador Renan o faça, já sabemos que coragem, honra, não são requisitos para ser senador. O lugar de Renan Calheiros é fora do Senado e preferencialmente na cadeia. Então, senador, se o senhor não é capaz de contribuir para isso não faça nada, não desabone ainda mais a sua história, volte para o silêncio. O Renan Calheiros não me desiludiu senador, não esperava dele nada além disso, me surpreende a celeuma que a imprensa faz como se fosse uma grande novidade alguém que veio do governo Collor ficar preso neste emaranhado de denúncias (sério mesmo, o senhor acredita que eu pensava que o PT fazia oposição ao Collor? Pois é, ele é da base sustentação do governo hoje e como o senhor protegeu o Renan, quantas voltas o mundo dá, não é?), do senador Calheiros não poderia vir nada além do que está vindo, portanto a renúncia dele ao cargo de presidente do Senado ou a renúncia ao mandato de senador não me dizem nada, provavelmente o suplente será bem pior. Sabe qual renúncia faria bem ao país, senador? A sua, renunciar por ser incapaz de conviver com um congresso corrupto, renunciar por sentir-se envergonhado por trair e decepcionar os eleitores, renunciar porque o governo pelo qual o senhor lutou por anos não é o que está aí, a sua renúncia engrandeceria o Senado, a do Renan Calheiros, não. Mas o senhor não fará isso não é senador? Tudo bem, ao menos, o senhor nos mostrou qual o seu lado, e pode deixar quando alguém atacar o PT e seus membros, considerar todos corruptos, bandidos, pode deixar que não mais defenderei, dize-me com quem andas que te direi quem és. O senhor e o PT já disseram. Que pena! O PT se tornou o partido das Idelis e podia ter sido o partido dos Florestans. Num país de partidos de Agripinos, de Virgílios, de Tassos, de Renans, de Sarneys, de Malufs, bem poderíamos ter um partido de Florestans, mas preferiram as Idelis.
Darcy Ribeiro disse uma vez, que perdeu todas batalhas, mas sempre esteve do lado certo. Então com votos (sem qualquer esperança) que o senhor mude de lado, troque de companhias, subscrevo,
Um comentário:
Prezado Corival,
Gostaria também que você manifestasse sua indignação com o seguinte fato vergonhoso para o nosso país.
Quatro profissionais da Rede Globo de Televisão ganham mais do que, quase 8.000 trabalhadores que ganham um salário mínimo.
Senão vejamos:
Ana Maria Braga ganha R@ 1.200.000,00 por mês para fazer um programa de APENAS UMA HORA POR DIA.
A apresentadora está sendo investigada por remessa ilegal de dinheiro na Operação da Polícia Federal, Farol da Colina.
Fausto Silva, o Faustão, ganha R$ 1.300.000,00 por mês e o casal Bonner do Jornal Nacional ganham juntos R$ 500.000,00.
Se desconsiderarmos o merchandising que estes "apresentadores" ganham eles recebem um valor que atinge à METADE da CÂMARA dos DEPUTADOS de Brasilia, evidentemente, desconsiderando-se as verbas de representação dos parlamentares.
E o pior de tudo. Quem paga o salário absurdo destes apresentadores somos nós, pois o custo de publicidade dos anunciantes (patrocínio)destes programas vai para os produtos que adquirimos nas lojas, QUER ASSISTAMOS OU NÃO ESTES PROGRAMAS.
Ou será que as Casas Bahia anunciariam nestes programas se não houvesse audiência?
Essa é a verdadeira vergonha de nosso país. Uma classe de "formadores de opinião" que finge estar ao lado do povo informando e tentando fazer copm que fiquemos "indignados" enquanto eles ficam cada vez mais ricos nos enganand.o
Postar um comentário