A febre amarela se alastra no Brasil. Se formos considerar a imprensa estamos diante de uma crise tão ameaçadora quanto a gripe aviária (e já sabemos que a gripe aviária foi um fracasso tão grande quanto o bug do milênio). Então descontemos o exagero da imprensa, porque pelo noticiário eu jamais conseguiria voltar vivo de Goiás e sem febre amarela. A febre amarela é a doença da ignorância. Mostra como é difícil governar um país de pessoas ignorantes, que não tem pensamento científico (desconfiam das vacinas), que são mal informadas (desconhecem a existência das vacinas), que são individualistas e irresponsáveis (não se preocupam em se vacinar para proteger a sua vida e ao mesmo tempo a da coletividade). Nestas circunstâncias não há política de saúde que funcione. E claro, a imprensa e a ignorância, criam artificialmente a sensação de escassez de vacinas, porque geram um pânico que leva a uma corrida aos postos de saúde quando a vacina tem validade de 10 anos. Ora se um diálogo racional com a população através da imprensa é impossível num caso relativamente simples como esse, então em questões mais complexas é impossível supor que a comunicação racional possa oferecer uma solução para os problemas políticos nacionais. De fato, o Brasil é o maior desafio à teoria habermasiana do agir comunicativo, aqui não há espaço para a comunicação racional. Todo diálogo racional é interrompido pela erupção de emoções incontroláveis, desconexas e irracionais. O primeiro passo para uma mudança da sociedade brasileira de longo prazo é a difusão do pensamento científico e racional que permita que a população abandone o conjunto de mitos, crendices, etc. que cultiva ao longo dos anos. Mas principalmente que aprenda a analisar o discurso da imprensa do governo de forma crítica e racional e sem emocionalismos. O surto de febre amarela sintetiza as várias faces do atraso e da modernidade brasileiras.
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