Entre os muitos erros alimentados pela imprensa brasileira está tratar eleição como reunião de condomínio. Na reunião de condomínio, se discute se os elevadores serão trocados ou não, se haverá reforma na garagem ou não, o quanto vai ser gasto no embelezamento das áreas comuns. Ninguém vai para reunião de condomínio discutir a filosofia da vida urbana em apartamentos, discutir os motivos do isolamento dos moradores, ou os motivos pelos quais não se conhece o vizinho, ou porque viver num edifício não é como morar numa cidadezinha do interior, etc.
Agora eleição é para isso. Eleição presidencial não é uma discussão sobre o trem-bala, ou sobre a pavimentação das rodovias. Eleição presidencial é uma discussão sobre uma filosofia de governo, sobre uma imaginário em relação ao futuro, sobre a sensação que as políticas públicas produzem na vida dos indivíduos, sobre resultados dos governos. Mas resultados não avaliados de forma impessoal e abstrata, mas de forma vivencial, o eleitor vê os resultados do governo na sua vida. Não faz sentido votar no candidato A, B ou C porque ele diz que construirá tantas escolas ou tantas creches. Mas é preciso crer que na filosofia de governo do candidato cabe construir creches e escolas, cabe fazer política social, cabe o desenvolvimento, etc.
A imprensa clama por um debate sobre projetos concretos dos candidatos e não por uma avaliação sobre a continuidade ou não do governo. Mas isto é uma bobagem, quem suporta uma discussão sobre se vai acabar com os pedágios ou qual será o preço dos pedágios ou sobre quantos hospitais serão construídos e onde? E mais, isso depende apenas do cantidato? Estas discussões são improdutivas. Agora o eleitor está avaliando sim as propostas dos candidatos, o que eleitor olha é, dentro da lógica de governo do Serra cabe as promessas que ele está fazendo de manter e dobrar o bolsa família? O eleitor pensa: “estou satisfeito com as políticas atuais, com o governo atual; o governo fez tudo o que prometeu? não. mas governou dentro de um lógica, criou um ambiente político, econômico, social que me favorece. qual candidato governará no mesmo caminho, conseguirá fazer a mesma coisa, qual candidato tem credibilidade, não em relação às propostas concretas, mas aos princípios do governo?” E é isto que os candidatos procuram responde na campanha, e é por isso que a campanha da Dilma saiu vitoriosa, não apenas pela vinculação com o Lula, mas porque desde 2006, a oposição não conseguiu chutar as demandas e anseios do povo para um patamar superior ao levado pelo governo Lula. O Serra veio com o slogan, “o Brasil pode mais”, mas ele não mostrou isso ao longo do caminho. A trajetória da oposição não foi de elevar sonhos, mas na maior parte do tempo criticar conquistas. Notem que enquanto o PT estava na oposição, não facilitavva a vida do governo, mas sempre baseado na idéia que era possível fazer mais e melhor, conseguia fazer um amplo contigente da população sonhar com algo mais mesmo quando perdia a eleição, o objetivo não era apenas vencer, derrotar o adversário, mas realizar um projeto superior. Pouco importa se no governo não executou exatamente este projeto. Por fatores diversos, no governo, Lula e o PT conseguiram jogar as expectativas da população para cima com um conjunto de políticas sociais.
Qual a reação da oposição? Uma crítica rançosa em relação ao governo ignorando a realidade e o eleitorado. O papel da oposição foi tentar podar as expectativas da população em relação ao Brasil, é obnvio que não era possível vencer as eleições assim. Se a oposição quisesse vencer o governo teria que criticar, mostrar os problemas, mas levantar ainda mais as expectativas, os sonhos da população e dos eleitores, mostrar que o governo estava aquém das possibilidades do Brasil. Mas em nenhum momento isso ocorreu, porque era preciso ter um projeto, um sonho para apresentar para os brasileiros e a oposição não tem. O governo brasileiro inicia ações para interferir nas grandes questões internacionais e como responde a oposição? Dizendo que o Brasil deve se preocupar com assuntos perfunctórios, com a pauta de comércio com os EUA, com o agronegócio. Quem mata sonhos, não vence eleições.
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